Tese de estrutura alienígena na estrela Tabby volta a ganhar força

por Nuno Patrício - RTP
Cometas ou Mega estrutura extraterrestre: o mistério em torno da estrela Tabby continua. Creditos: NASA/JPL-Caltech

A comunidade científica continua a debater-se com a controvérsia sobre a estrela KIC 8462852, agora rebatizada de Tabby. Uma construção extraterrestre ou um fenómeno provocado por um conjunto de cometas? A segunda hipótese está cada vez mais afastada.

Parece cada vez menos provável que um enxame de cometas possa explicar o estranho e crescente escurecimento da estrela Tabby (KIC 8462852).

A estrela - apelidada de Tabby em homenagem ao seu descobridor, Tabetha Boyajia - foi capa em muitas das revistas e blogues científicos, quando em outubro passado Jason Wright, astrónomo da Universidade do Estado da Pensilvânia, sugeriu que poderia ter em órbita uma enorme estrutura alienígena.

Mais tarde, surgiu na comunidade uma explicação mais científica — mas muito menos excitante —, referindo-se então que a estrela seria orbitada por um enxame de cometas.Os maiores planetas podem bloquear até um por cento da luz de uma estrela, mas na Tabby os valores andam na ordem dos 20 por cento, em brilho.

Bradley Schaefer, um astrónomo da Universidade do Louisiana, coligiu os vários dados sobre o comportamento da estrela que outros cientistas foram recolhendo ao longo de décadas, como, por exemplo, antigas fotografias da região estelar. E verificou que a estrela tem registado um escurecimento gradual.

Um fator que cientificamente se torna ainda mais difícil de explicar.

Os primeiros sinais “estranhos” surgiram quando o “caça planetas” Kepler (telescópio espacial), da NASA, esteve a monitorizar continuamente a estrela (conjuntamente como outras 100 mil) entre 2009 e 2013.


O telescópio Kepler está no espaço desde 2009 e já encontrou mais de mil exoplanetas.

Computadores, cientistas e astrónomos que seguem com atenção a luz das estrelas, conseguem decifrar se uma estrela, tem ou não, planetas em órbita, através da irregularidade descrito pelo sinal proveniente e cíclico do ponto em estudo.

Mas no caso da KIC 8462852 o bloqueio luminoso não era periódico, antes constante e de grandes dimensões.

A perplexidade acentua-se quando se sabe que os maiores planetas podem bloquear até um por cento da luz de uma estrela. Todavia, na estrela Tabby os valores rondavam os 20 por cento em brilho.

Logo, concluíram os cientistas, a assinatura de refração não poderia ser causada por um planeta.

Em setembro, uma equipa liderada pela astrónoma Tabetha Boyajian tentou entender o sinal incomum e os astrónomos olharam para os diferentes dados e de diversos ângulos, no sentido de indagar se havia algo errado.

Apresentaram as dúvidas aos cientistas que gerem a missão Kepler, mas a resposta recebida foi a de que "os dados que estávamos a observar através do Kepler são, na verdade, astrofísicos" e não havia nada de errado nas observações que pudessem, de alguma forma, estar a provocar interferências externas.

Depois de avaliar e considerar muitos cenários possíveis, Boyajian determinou que a melhor justificação, na quebra constante na luminosidade proveniente da estrela, resultava de uma nuvem de poeira criada por um grande conjunto de cometas, que orbitaria a estrela.Para a astrónoma do departamento de astronomia da Universidade de Yale, que descobriu o fenómeno, Tabetha Boyajian, a explicação mais simples é provavelmente a melhor e "um cenário como este [da mega-estrutura extraterrestre] tem de ser levado em conta".

Mas também não deixava de considerar um pouco absurda, na conclusão do seu trabalho de investigação, a existência de cometas tão grandes que bloqueassem tanto da luz da estrela.

Boyajian deixava assim "no ar" soluções alternativas para futuras investigações. E assim aconteceu. Um mês depois, a estrela tornou-se um alvo público e mediático, quando Wright anunciou que “uma civilização extraterrestre avançada” poderia ser a causa responsável para a quebra permanente do sinal luminoso.

Wright teorizava que esta "suposta civilização extraterrena" poderia ter construído uma megaestrutura, como painéis solares, em torno da estrela, tendo Boyajian achado que a tese teria algum sentido e merecia um melhor acompanhamento.


Representação artística do que poderá estar, "eventualmente", em redor da estrela Tabby.

Uma teoria que mereceu aprovação por uma grande parte da comunidade científica e astronómica, como refere o astrónomo Phil Plait: "É incrivelmente improvável, mas esta teoria encaixa o que estamos vendo".

"Muito embora possa ser uma ideia louca, ao que parece, temos de olhar para todos os ângulos que podemos”, disse.

Perante tantas dúvidas, teorias e dados dispersos, o astrónomo Bradley Schaefer pegou numa nova abordagem e foi à procura de “chapas fotográficas antigas” existentes no Harvard College Observatory. Teve sorte.

A estrela foi fotografada mais de 1.200 vezes, como parte do levantamento do firmamento celeste.
 
As fotos, depois de compiladas e analisadas, revelaram que o estrela Tabby está a agir de forma muito estranha: está intermitente em escalas de tempo muito curtas e, no período de um século, o espectro luminoso da estrela tem vindo a diminuir.

Para a perita do departamento de astronomia da Universidade de Yale, que descobriu o fenómeno, Tabetha Boyajian, a explicação mais simples é provavelmente a melhor e “um cenário como este [de uma mega-estrutura extraterrestre] tem de ser levado em conta".

E conclui que um fenómeno único deve estar a causar os dois comportamentos. Mas o quê?

Segundo alguns astrónomos, os resultados não encaixam bem numa família de cometas. O que implicaria “um grande número de cometas a passar em frente a estrela durante um século”.



A quantidade de massa que está a bloquear a luz da Tabby corresponderia a "mais massa do que o que temos em todo o cinturão de Kuiper [faixa de corpos gelados existentes na vasta região além de Neptuno]", disse Massimo Marengo, professor de astronomia na Universidade de Estado do Iowa e um dos coautores da teoria dos cometas em torno da estrela, em dezembro.

"Podemos assumir que é uma vasta cadeia de cometas a passar em frente à estrela, durante um longo período de tempo, mas com a tendência de escurecimento ao longo do último século-longo a cadeia formativa de cometas teria de ficar maior, cada vez que este grupo passasse pela estrela. "É uma coisa difícil de acontecer," disse Marengo.

Os resultados também alteram um pouco os requisitos para uma hipótese de existência de uma estrutura alienígena.

Mas antes que o leitor fique diga que foi desta que os descobrimos considere isto: imaginando que o que existe em Tabby é mesmo artificial, era necessário construir uma estrutura com um mínimo de 750 mil milhões de quilómetros quadrados de painéis solares para explicar a queda de 20 por cento no brilho.

Trocado por outros números, teria de equivaler a 1.500 vezes a área da Terra.

Apesar destas novas hipóteses, a dúvida persiste e os astrónomos continuam na esperança de que futuras observações possam ajudar a perceber este estranho fenómeno estelar.

"A natureza pode ajudar-nos com a criação de mais um desses eventos", disse Massimo Marengo. "Mas às vezes não temos sorte".
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