Escândalo da Volkswagen atravessa marcas: estudo alerta que emissões são 40% superiores ao indicado nos testes

por Christopher Marques e Sara Piteira (grafismo) - RTP
O relatório aponta que os carros da Mercedes-Benz emitem, em média, mais 48 por cento do que o referido nos testes. Os modelos classe A, C e E ultrapassam mesmo a faixa dos 50 por cento. Mark Blinch - Reuters

As revelações da semana passada colocaram a Volkswagen na agenda mediática. Agora, um estudo da Federação Europeia para os Transportes e o Ambiente alerta para a existência de um fosso crescente entre as emissões reais dos automóveis e as que se verificam nos testes. Uma realidade transversal à generalidade das marcas: em média, as emissões de dióxido de carbono são 40 por cento superiores aos valores indicados pelos construtores.

O escândalo irrompeu na semana passada: os Estados Unidos acusaram a Volkswagen de falsificar os testes de emissões. A marca admitiu o problema e o presidente-executivo até já se demitiu da empresa. O escândalo, esse, parece longe de acabar.

O estudo “Mind the Gap” ataca agora as restantes marcas: os construtores automóveis, se não falseiam, pelo menos distorcem os dados nos testes a que os automóveis são sujeitos.

O relatório da Federação Europeia para os Transportes e Ambiente revela que a diferença entre as emissões em teste e as emissões reais tem aumentado constantemente desde o início do século. Em 2001, a diferença correspondia a oito por cento. Em 2014, a diferença tornou-se um verdadeiro fosso: as emissões reais são, em média, 40 por cento superiores às emissões em situação de teste.

Esta federação europeia, que agrupa cerca de 50 organizações não-governamentais das áreas ambientais e dos transportes, estima que a diferença se possa aproximar dos 50 por cento em 2020, caso não sejam tomadas medidas.
Mercedes-Benz lidera
No primeiro lugar deste pouco apetecível pódio encontra-se a Mercedes-Benz. O relatório aponta que os carros da marca alemã emitem, em média, mais 48 por cento do que o referido nos testes.

Os modelos classe A, C e E ultrapassam mesmo a faixa dos 50 por cento.



Também os alemães da BMW e os franceses da Peugeot são fortemente atacados. Os modelos BMW série 5 e Peugeot 308 emitem perto de 50 por cento a mais em relação ao revelado nos testes oficiais. A federação contabiliza que apenas um terço da redução das emissões que os construtores alegam ter realizado desde 2008 realmente se concretizou.

A federação contabiliza ainda que apenas um terço da redução das emissões que os construtores alegam ter realizado desde 2008 realmente se concretizou. O relatório aponta para uma redução efetiva de 13,3 gramas de dióxido de carbono por quilómetro.

A restante alegada redução, cerca de 22,2 gramas de dióxido de carbono por quilómetro, deve-se à manipulação dos testes, refere o relatório.

O relatório alega, por isso, que apenas a Toyota cumpriu a meta de redução de emissões que tinha estipulado para 2015. Os restantes construtores apenas o conseguiram através da manipulação dos testes.
Reformular os testes
Num período em que a indústria é abalada pelo caso da Volkswagen, que usava um software para falsear os testes, o relatório ressalva que este estudo não prova a utilização de tal aparelho ou outros semelhantes.

O que o estudo reforça, frisa a federação, é a necessidade de proceder a investigações amplas e alterar os testes atualmente realizados.

O grupo propõe a realização de um novo modelo de teste, mas sublinha que tal não será suficiente. A federação propõe também que seja criada uma autoridade europeia que se certifique da consistência, fidedignidade e independência dos controlos.

Esta é uma das medidas que tornaria o formato europeu de testes mais próximo do norte-americano, apresentado pela federação como “mais eficaz na identificação e resolução de abusos”.


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