Varoufakis demite-se após rejeição da austeridade na Grécia

por Carlos Santos Neves - RTP
“Envergarei o desdém dos credores com orgulho”, escreve o ministro demissionário. Alkis Konstantinidis - Reuters

Yanis Varoufakis demitiu-se esta segunda-feira do cargo de ministro das Finanças no Executivo do Syriza e dos Gregos Independentes, após a vitória do não no referendo às propostas dos credores da Grécia. A saída do economista é explicada com a necessidade de facilitar o diálogo em Bruxelas.

“Pouco depois do anúncio dos resultados do referendo, fui informado de uma certa preferência de alguns participantes do Eurogrupo e de variados ‘parceiros’ pela minha... ‘ausência’ nas reuniões; uma ideia que o primeiro-ministro entendeu ser potencialmente útil para alcançar um acordo. Por esta razão deixo o Ministério das Finanças hoje”, escreveu Yanis Varoufakis no seu blogue.

O anúncio da demissão de Varoufakis fora já difundido através da rede social Twitter.


Num texto intitulado Minister No More!, Varoufakis assume como um “dever” facilitar a exploração política, por parte de Alexis Tsipras, do “capital que o povo” conferiu ao Executivo grego no referendo de domingo.
“Como todas as lutas pelos direitos democráticos, também esta histórica rejeição do ultimato de 25 de junho do Eurogrupo vem com um alto preço”, escreve Yanis Varoufakis.


“E envergarei o desdém dos credores com orgulho”, acrescenta o ministro demissionário.

“Nós, da Esquerda, sabemos como agir coletivamente sem preocupação com os privilégios das funções. Apoiarei totalmente o primeiro-ministro Tsipras, o novo ministro das Finanças e o nosso governo”, continua o académico grego.

Para concluir: “O esforço sobre-humano para honrar o corajoso povo da Grécia e o famoso OXI (NÃO) que outorgou aos democratas de todo o mundo está apenas a começar”.

Na esteira do veredicto do eleitorado grego, Varoufakis saíra na noite de domingo a público para sustentar que a Europa teria de “começar a sarar as suas feridas”.

“O não de hoje é um grande sim a uma Europa democrática. É um não à infinita jaula de ferro da Zona Euro. É um sim retumbante a uma visão da Zona Euro como uma terra de prosperidade e justiça social”, reforçava o ainda ministro das Finanças.
Um não em grego
A negativa às propostas do triunvirato de credores – Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia – reuniu 61,31 por cento dos votos na consulta popular de domingo, de acordo com a contagem definitiva publicada pelo Ministério do Interior da Grécia.

O desenrolar do escrutínio deu lugar aos festejos de milhares de gregos no coração de Atenas.

O sim não foi além de 38,69 por cento dos sufrágios. Houve ainda 5,80 por cento de votos brancos ou nulos. E num universo de aproximadamente dez milhões de eleitores a abstenção foi de 37,5 por cento.

Conhecida a notícia da demissão de Yanis Varoufakis, o euro começou a valorizar-se. A moeda única subia esta manhã para 1,1088 dólares, contra 1,1027 antes da saída do ministro grego das Finanças. No domingo, após a vitória do não, o euro havia resvalado em Nova Iorque para 1,0963 dólares.

Já as principais bolsas europeias abriram - sem surpresa - no vermelho. Paris perdia, no arranque da sessão desta segunda-feira, 2,06 por cento. Frankfurt regredia 2,1 por cento, Milão três por cento, Londres 1,07 e Madrid 2,41.

Também a Euronext Lisboa abriu com o índice PSI20 a cair 2,83 por cento, para os 5.421,39 pontos.
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