Acordo de cessar-fogo e retirada suspensos em Alepo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Autocarros que aguardavam início da retirada de Alepo ficaram vazios na manhã de dia 14 de dezembro de 2016 Omar Sanadiki - Reuters

O exército sírio está a bombardear os bairros de Alepo ainda controlados pelos grupos armados opositores do Governo de Bashar al-Assad e o acordo de cessar-fogo foi suspenso, referem várias agências de notícias.

A retirada de civis e de militantes, que deveria ter-se iniciado à 5h00 locais e que iria decorrer por fases, está igualmente suspensa.

De acordo com fontes dos islamitas e governamentais, Damasco objetou contra o elevado número de pessoas que deveriam ser retiradas e o Irão está a "impor novas condições", refere a AFP.

Pedro Oliveira Pinto - RTP

Forças armadas ligadas a Damasco dizem que 15.000 pessoas pretendem sair de Alepo, incluindo 4.000 militantes.

O Irão estava agora a exigir, por seu lado, a retirada de feridos em duas aldeias, Foua e Kefraya, cercadas por grupos armados islamitas.

"Nenhum acordo em Alepo pode ter lugar sem um olhar abrangente do campo de batalha e desenvolvimentos humanitários noutra áreas", referiu à Reuters uma unidade militar do Hezbollah, as milícias xiitas libanesas apoiadas pelo Irão, referindo-se aparentemente a duas aldeias da provincia de Idlib.

De acordo com o responsável do Crescente Vermelho turco, Kerem Kinik, citado pela agência de notícias Anadolu, cerca de 1.000 pessoas estão retidas num posto de controlo iraniano à saída de Alepo, depois de terem passado num posto semelhante russo durante a madrugada.

"Depois de terem abandonado Alepo foram parados num segundo posto onde estavam presentes milícias iranias e ainda lhes está a ser negada a apassagem", referiu. Decorrem conversações para deixar passar os autocarros, que se dirigem à província de Idlib.

Paris apelou entretanto a que a evacuação de Alepo se realize "sob controle de observadores internacionais".
Salvar o cessar-fogo
A Turquia acusa Damasco e os seus aliados de estarem a tentar bloquear o cessar-fogo obtido esta terça-feira.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que vai telefonar esta tarde ao homólogo russo, Vladimir Putin, para tentar salvar as tréguas. "A situação em Alepo é muito frágil e complicada", referiu Erdogan numa conferência de imprensa em Ancara.

O cessar-fogo obtido terça-feira acabou por ser quebrado de madrugada com ambos os lados a acusarem-se mutuamente do o ter violado primeiro.

A Rússia referiu em comunicado que os grupos armados tentaram passar as linhas sírias durante a madrugada, tendo sido repelidos. Acrescenta que o exército sírio está a avançar para expulsar os últimos redutos de militantes entrincheirados.

"Os confrontos são violentos e o bombardeamento é muito pesado... parece que o cessar-fogo acabou", referiu à agência Reuters Rami Abdul Raman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, OSDH. Uma hora depois relatou bombardeamentos aéreos por parte da aviação síria contra a mesma área já atingida pela artilharia.
A BBC entrevistou um jornalista na zona leste de Alepo, Zouhir Alshimale, que afirma que 60.000 pessoas estão "presas" numa "pequena área" da cidade sob intenso bombardeamento, sem conseguir fugir.
Um jornalista da France Presse, num sector dos militantes, referiu por seu lado que a artilharia síria está bombardear violentamente o último reduto que resiste ao seu avanço.

Afirma que viu um carro armado disparar contra um conjunto determinado de quarteirões.

Pelo menos sete civis terão morrido em ataques dos grupos islamitas, anunciou ainda a televisão síria. Seis pessoas morreram "em tiros de granadas de morteiro dos rebeldes" no bairro de Boustabe al-Qasr, recentemente reconquistado pelo exército, e um outro foi atingido por tiros contra áreas controladas por Damasco.
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