Al Qaeda no Iémen reivindica atentado contra Charlie Hebdo

por Ana Sofia Rodrigues, RTP
Gonzalo Fuentes, Reuters

Num vídeo de 11 minutos divulgado esta quarta-feira por um portal islamita, a Al Qaeda no Iémen reclama a responsabilidade pelo ataque que dizimou na semana passada a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris. Chama-lhe vingança pelo profeta Maomé. Foi no Iémen que Saïd Kouachi esteve em 2011 para alegadamente receber treino militar.

“Os heróis foram recrutados e atuaram”, declara no vídeo Nasser Ben Ali al-Anassi, um dos dirigentes da Al Qaeda na Península Arábica - um registo intitulado "Mensagem sobre o abençoado raid de Paris".
Ato de vingança
Nasser Ben Ali al-Anassi reclama claramente no vídeo a autoria deste ataque. “Nós, a Al Qaeda na Península Arábica, reivindicamos a responsabilidade por esta operação como vingança”.

Alega, inclusivamente, que financiou a operação. Acrescenta que o ataque foi realizado conforme a vontade póstuma de Osama bin Laden, o número um da Al Qaeda, abatido por forças especiais norte-americanas.
No dia do ataque, um dos irmãos Kouachi já tinha gritado que pertenceria à Al Qaeda no Iémen, local onde recebeu treino militar. Saïd e Chérif, de 32 e 34 anos, entraram na redação do Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas.

Depois de dois dias em fuga, os dois suspeitos do ataque foram mortos na sexta-feira, na sequência da ofensiva de forças de elite francesas a uma gráfica em Dammartin-en-Goële, nos arredores da cidade, onde se tinham barricado.
“Partido de Satanás”
No vídeo agora difundido, o líder da Al Qaeda no Iémen acusa ainda a França de pertencer a um “partido de Satanás”, dizendo que o país europeu “partilha os mesmos crimes dos Estados Unidos” contra o Islão.
Nasser Ben Ali al-Anassi redobra ameaças: alerta para mais “tragédias e terror” no futuro.

Já na passada sexta-feira a Al Qaeda tinha ameaçado com novos ataques em França num vídeo colocado na Internet e detetado pelo serviço norte-americano de vigilância de portais islâmicos.

Numa mensagem em vídeo, Harith al-Nadhari, especialista na charia (lei islâmica) na Península Arábica, avisou que a população francesa "não estará em segurança, enquanto combater Alá e a sua mensagem aos crentes".

Na altura, porém, Al-Nadhari não reivindicou para a Al Qaeda os ataques de Paris.
Saïd Kouachi esteve no Iémen
Fontes dos serviços secretos do Iémen confirmaram à agência Reuters que Saïd Kouachi esteve no país em 2011 durante vários meses, tempo em que recebeu treino militar e em que esteve com Anwar al Awlaki, à época uma das principais figuras da Al Qaeda, até ser morto no ataque de um drone norte-americano, em setembro de 2011.



Antes de ser morto, Al Awlaki defendeu repetidamente a morte dos cartoonistas que insultaram o profeta Maomé. O New York Times revela que uma publicação da filial do Iémen da Al Qaeda, a Inspire, colocou, em 2013, o editor do Charlie Hebdo Stéphane Charbonnier numa longa lista de jornalistas, escritores e figuras públicas como "procurados, mortos ou vivos, por crimes contra o Islão".

No dia em que os irmãos Kouachi foram cercados e posteriormente abatidos pelas forças de elite francesas, os jornais avançavam que as autoridades norte-americanas que analisavam o ataque estariam a averiguar se o ataque ao Charlie Hebdo tinha sido ordenado diretamente pela filial da Al Qaeda no Iémen.
O braço mais perigoso da Al Qaeda
Washington considera a Al Qaeda na Península Arábica (Aqpa), implantada no Iémen, como a filial mais ativa e perigosa entre os extremistas, aquela que com maior probabilidade efetuaria ataques contra o Ocidente.

Este ramo da rede terrorista nasceu em janeiro de 2009. De acordo com a France Presse, Washington promete dez milhões de dólares por informações que conduzam ao chefe do Aqpa, Nasir al-Wuhayshi. Este é nesta altura o homem mais procurado do mundo.

Nos últimos anos, o Aqpa tem reivindicado uma série de importantes atentados, tanto no Iémen como no estrangeiro. Entre eles uma tentativa de fazer explodir um avião de uma companhia dos Estados Unidos no Natal de 2009, em Detroit.

(c/ Reuters, Associated Press e AFP)
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