Alcançado acordo parcial de cessar-fogo na Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Os responsáveis pelas diplomacias da Rússia, Sergei Lavrov, e dos EUA, John Kerry, lado a lado na conferência que terminou com um acordo de cessar-fogo na Síria Michael Dalder - Reuters

O cessar-fogo deverá começar na próxima semana, aplicando-se a todo o país. O acordo é parcial e não abrange os bombardeamentos russos, mas vai permitir o socorro humanitário a dezenas de cidades e vilas cercadas.

O acordo foi obtido ao fim de cinco horas no encontro do Grupo de Apoio para a Síria que decorreu na cidade alemã de Munique e que reuniu Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita e Irão, entre 17 nações. Deverá ser implementado em força a partir de dia 1 de março, como tinha proposto Moscovo na quinta-feira.

O secretário de estado John Kerry reconheceu que o acordo poderá não passar do papel. Mas sublinha que o acordo irá permitir o socorro às populações e que se aplica a todos, excepto aos dois grupos terroristas islamitas.

Esta sexta-feira representantes do Grupo de Apoio irão reunir-se em Genebra sob a égide da ONU para preparar o apoio humanitário a implementar de imediato.

Já o ministro dos Negócios estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, sublinhou que os bombardeamentos russos vão continuar porque a guerra aos grupos terroristas Estado Islâmico e a Frente al Nusra (Al Qaeda na Síria) não foi suspensa.

Moscovo diz esperar que os principais apoiantes dos diversos grupos de oposição sírios comecem a fazer o que lhes compete.

Mendes Oliveira, Miguel Cervan - RTP

Lavrov e Kerry esperam ainda que as conversações de paz entre os grupos de oposição e o Governo sírio, sob a égide da ONU, recomecem o mais depressa possível.

A primeira ronda em janeiro terminou sem conclusões e a segunda ronda das negociações estava marcada para dia 25 de fevereiro. Ao apelar à participação de todos os grupos da oposição o ministro russo lembrou que será difícil alcançar um cessar-fogo total, para já.
Guerra mundial
O acordo de cessar-fogo foi bem recebido pela oposição, mas com cautela e exigência de que seja implementado de forma efetiva antes do recomeço das conversações em Genebra.

Os grupos de oposição - um de independentes e outro de sunitas, reunido pela Arábia Saudita r que abrange mais de 100 grupos, incluindo armados - têm afirmado que não iriam regressar à mesa das negociações sem a suspensão das hostilidades.

Já o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Phillip Hammond, sublinhou que a luta só poderá cessar se a Rússia terminar os ataques indiscriminados. Moscovo nega que os bombardeamentos estejam a atingir outros grupos armados e não apenas o extremista Estado Islâmico e a Frente al Nusra.

O primeiro ministro russo, Dmitri Medvedev, avisou para a possibilidade da guuerra civil síria degenerar para um conflito mundial Foto: Reuters

O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, alertou quinta-feira para a possibilidade de uma guerra interminável, até mesmo mundial, se as principais potências não conseguirem negociar um acordo de paz para por fim a cinco anos de guerra civil.

Moscovo, um dos principais aliados de Damasco, conseguiu também o acordo de cessar-fogo proposto sem se comprometer com a partida do Presidente sírio Bashar al-Assad, uma das exigências base da oposição e da maioria das potências ocidentais.
Meio milhão de mortos
O equilíbrio na guerra alterou-se para o lado de Damasco quando a Rússia entrou no conflito no final de setembro de 2015, iniciando uma série de bombardeamentos contra as forças terroristas - que, no entender do Governo sírio, abrangem praticamente todos os grupos rebeldes armados.

A 1 de fevereiro o exército de Damasco, apoiado pela Rússia, pelo Irão e pela guerrilha do Hezbollah, lançou uma operação para cortar as rotas de abastecimento dos grupos rebeldes em Aleppo, no noroeste, e em Homs, no sudoeste, provocando duas novas crises humanitárias. A norte, mais de 50 mil pessoas fugiram para a fronteira turca e a sul, milhares de pessoas estão a ficar sem víveres ou recursos médicos.

O encontro do Grupo de Apoio para a Síria decorreu numa fase da guerra em que Damasco com o apoio da Rússia e do Irão, está a ganhar terreno com duas operações de grande envergadura em Aleppo e em Homs Foto: Reuters

Um diplomata russo sublinhou que, apesar de tudo, este acordo é um risco para Moscovo, pois, se não cessarem os bombardeamentos, não haverá cessação de hostilidades e será a Rússia a responsável.

Os Estados Unidos lideram uma coligação internacional de luta contra o grupo Estado Islâmico, que não inclui a Rússia. A Arábia Saudita e alguns países do Golfo admitiram já este ano enviar tropas para o terreno e a Turquia, pressionada pelo acolhimento de milhões de refugiados, afirmou estar a perder a paciência com o conflito, admitindo intervir.

A guerra síria já matou meio milhão de pessoas e provocou milhões de deslocados e de refugiados.
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