Antissemitismo. Macron dissolve três grupos de extrema-direita

por RTP
“Porque este momento coloca em causa o que nós somos, a França precisa de traçar novas linhas vermelhas”, afirmou o Presidente da República francesa Reuters

O Governo francês prepara-se para dissolver três grupos de extrema-direita, legislar sobre a proliferação de ideias racistas na Internet e reconhecer o antissionismo como forma de antissemitismo. Estas fazem parte de um conjunto de medidas anunciadas por Emmanuel Macron na sequência da profanação com cruzes suásticas de 96 túmulos no cemitério judaico perto de Estrasburgo. O Presidente francês reconhece que se verifica “um ressurgimento do antissemitismo sem dúvida inédito desde a II Guerra Mundial".

“Desde há vários anos, e a situação agravou-se ainda mais nas últimas semanas, o nosso país – como aliás no conjunto da Europa e na quase totalidade das democracias ocidentais – é confrontado com uma ressurgência do antissemitismo sem dúvida inédito desde a II Guerra Mundial”, reconheceu, em Paris, o Presidente de França, perante o Conselho Representativo das Instituições Judaicas de França (CRIF).

“Mais uma vez, desde há vários anos, o antissemitismo mata em França”, acrescentou.
Por isso, Emmanuel Macron considera ter chegado o momento de passar “aos atos”, que incluem a aprovação de um projeto-lei contra a proliferação de propostas racistas e antissemitas na Internet, “reforçando a pressão sobre os operadores”.

Entre as novas medidas está ainda o pedido de dissolução dos grupos de extrema-direita, “a começar” pelo Bastião Social, Hexágono Sangue e Honra e Combate 18, que Macron acusa de terem incitado ao ódio e promovido a discriminação.

Outra das medidas anunciada por Macron é o reconhecimento do antissionismo – que assenta na oposição política, moral e religiosa a Israel, incluindo o direito de existência do Estado hebraico – como forma de antissemitismo, o ódio generalizado aos judeus.

“O antissionismo é uma das formas modernas de antissemitismo. É por isso que confirmo que a França vai avançar com a definição de antissemistimo traçado pela Aliança Internacional para a Memória do Holocausto”, declarou Emmanuel Macron. A versão alargada de antissemitismo será implementada sem que, no entanto, seja incluída no Código Penal.

O anúncio do conjunto de medidas de combate ao antissemitismo foi feito pelo Presidente francês na sequência da profanação com cruzes suásticas de 96 túmulos no cemitério judaico perto de Estrasburgo. “Quem fez isto não é digno da República Francesa e será punido”, afirmou Macron aquando da visita, terça-feira, ao cemitério de Quatzenheim.

No mesmo dia, milhares de pessoas marcharam por toda a França em sinal de apoio à comunidade judaica.

“Porque este momento coloca em causa o que nós somos, a França precisa de traçar novas linhas vermelhas”, afirmou o Presidente da República francesa. “O antissemitismo não é um problema dos judeus, é um problema da República”, acrescentou, para depois pedir ao ministro da Educação que tome medidas para controlar o problema nas escolas públicas.
Aumento de ataques antissemitas
A França registou, no ano passado, 541 ataques a pessoas ou representações da cultura judaica. O número representa o crescimento em 74 por cento de atos antissemistas em comparação com 2017, quando foram registados 311 crimes em França, o país com a maior comunidade judaica da Europa (cerca de 450 mil pessoas).

O retrato de Simone Veil - intelectual, ministra francesa, presidente do Parlamento Europeu e sobrevivente de Auschwitz – foi vandalizado com uma suástica na semana passada.

A palavra “judeu” em alemão foi escrita na vitrina de uma padaria de Paris e uma árvore - plantada em memória de um jovem judeu torturado até à morte em 2006 por um grupo antissemita – foi deitada abaixo.

No sábado passado, a palavra “sionista” atirada ao filósofo francês Alain Finkielkraut quando passava por uma manifestação dos “coletes amarelos” em Paris.

A BBC França refere que, apesar de o número de incidentes registados não ser o mais elevado das últimas duas décadas, e seguir-se a uma queda acentuada nos dois anos anteriores, os ataques estão a propagar-se devido à extrema-direita, aos radicais islâmicos e aos grupos de extrema-esquerda.

O presidente do Crif, Francis Kalifat, apelou aos muçulmanos e imãs para que lutassem contra o antissemitismo e "pusessem fim à justificação religiosa do ódio aos judeus".
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