Balcãs em ebulição com travessia de migrantes

por Andreia Martins - RTP
A Cruz Vermelha estima que mais de 30 mil refugiados tenham passado pela Macedónia para chegar ao ocidente europeu, só no último mês. Stoyan Nenov, Reuters

Depois da crise no Eurotúnel em Calais e na ilha grega de Kos, um novo local sofre com a pressão de migrantes vindos de África e do Médio Oriente. O município de Gevgelija, na fronteira com a Grécia, regista nas últimas semanas o dobro do movimento nos comboios que ligam a cidade macedónia à Bósnia e Herzegovina, a última paragem antes do espaço de livre-circulação.

De barco, de comboio ou a pé. Os migrantes vindos da Síria e Norte de África arriscam a vida para chegar à Europa e atravessam fronteiras em condições desumanas, perante o fraco controlo policial.

Para lidar com o afluxo de migrantes, Budapeste encetou a construção de um muro de quatro metros de altura ao longo da fronteira com a SérviaOs refugiados vindos do Iraque, Síria ou Líbia chegam à Grécia, vindos da Turquia. Pretendem passar de comboio a zona dos Balcãs, desde Gevgelija, na Macedónia, até Belgrado.

Nesta rota de migrantes vindos do oriente, o destino é a Hungria, o membro do espaço Shengen mais a leste e que deixa aos migrantes a promessa de um espaço de livre-circulação sem fronteiras.

Reportagem de Pedro Zambujo e Miguel Teixeira

Só este ano, mais de 90 mil pessoas pediram asilo à Sérvia, um porto seguro antes da passagem da fronteira para o coração da Europa. O número de migrantes que acaba por conseguir a travessia é bastante superior.
"O problema não somos nós"
De acordo com a Cruz Vermelha, cerca de dois mil migrantes estão a atravessar diariamente a fronteira entre a Grécia e a Macedónia para chegar à estação de comboios de Gevgelja, um número que não ultrapassava os mil migrantes  há apenas algumas semanas, explica o mesmo responsável.

O impacto e pressão sob a vida normal na cidade torna-se mais visível e retumbantes tendo em conta a densidade demografica, que não ultrapassa os 16 mil habitantes (cerca de 23 mil em todo o município).

A estação de Gevgelja, no sul da Macedónia, conta normalmente com dois, no máximo três comboios transnacionais por dia, e transformou-se nos últimos dias num autêntico acampamento de migrantes e  ponto estratégico para o mercado ilegal.





Fotografias: Stoyan Nenov, Reuters


A frequência e a dimensão dos percursos migratórios estão a esgotar recursos e a deixar um rasto de caos nos países da ex-Jugoslávia. Um fotógrafo da agência Reuters que esteve no local entre sexta-feira e sábado conta que, para além de alguns polícias isolados, não há qualquer controlo ou regulação no tráfego por parte das autoridades.

Ivan Frangov, mayor da cidade de Gevgelija a braços com esta crise, afasta as críticas que têm sido apontadas pela ausência de resposta das forças policiais, num local que se tornou cerco de passagem obrigatória: "Este problema não foi criado pela Macedónia ou por Govgelija. O problema chega até nós através de um estado-membro da União Europeia, que é a Grécia".
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