Depois da crise no Eurotúnel em Calais e na ilha grega de Kos, um novo local sofre com a pressão de migrantes vindos de África e do Médio Oriente. O município de Gevgelija, na fronteira com a Grécia, regista nas últimas semanas o dobro do movimento nos comboios que ligam a cidade macedónia à Bósnia e Herzegovina, a última paragem antes do espaço de livre-circulação.
Para lidar com o afluxo de migrantes, Budapeste encetou a construção de um muro de quatro metros de altura ao longo da fronteira com a SérviaOs refugiados vindos do Iraque, Síria ou Líbia chegam à Grécia, vindos da Turquia. Pretendem passar de comboio a zona dos Balcãs, desde Gevgelija, na Macedónia, até Belgrado.
Nesta rota de migrantes vindos do oriente, o destino é a Hungria, o membro do espaço Shengen mais a leste e que deixa aos migrantes a promessa de um espaço de livre-circulação sem fronteiras.
Reportagem de Pedro Zambujo e Miguel Teixeira
Só este ano, mais de 90 mil pessoas pediram asilo à Sérvia, um porto seguro antes da passagem da fronteira para o coração da Europa. O número de migrantes que acaba por conseguir a travessia é bastante superior.
"O problema não somos nós"
De acordo com a Cruz Vermelha, cerca de dois mil migrantes estão a atravessar diariamente a fronteira entre a Grécia e a Macedónia para chegar à estação de comboios de Gevgelja, um número que não ultrapassava os mil migrantes há apenas algumas semanas, explica o mesmo responsável.
O impacto e pressão sob a vida normal na cidade torna-se mais visível e retumbantes tendo em conta a densidade demografica, que não ultrapassa os 16 mil habitantes (cerca de 23 mil em todo o município).
A estação de Gevgelja, no sul da Macedónia, conta normalmente com dois, no máximo três comboios transnacionais por dia, e transformou-se nos últimos dias num autêntico acampamento de migrantes e ponto estratégico para o mercado ilegal.
Fotografias: Stoyan Nenov, Reuters
A frequência e a dimensão dos percursos migratórios estão a esgotar recursos e a deixar um rasto de caos nos países da ex-Jugoslávia. Um fotógrafo da agência Reuters que esteve no local entre sexta-feira e sábado conta que, para além de alguns polícias isolados, não há qualquer controlo ou regulação no tráfego por parte das autoridades.
Ivan Frangov, mayor da cidade de Gevgelija a braços com esta crise, afasta as críticas que têm sido apontadas pela ausência de resposta das forças policiais, num local que se tornou cerco de passagem obrigatória: "Este problema não foi criado pela Macedónia ou por Govgelija. O problema chega até nós através de um estado-membro da União Europeia, que é a Grécia".