Erdogan demite-se se Rússia provar que Turquia compra petróleo ao Estado Islâmico

por Graça Andrade Ramos - RTP
Reccep Tayyip Erdogan, Presidente da Turquia, na sessão de abertura da COP21 em Bourget, França Christian Hartmann - Reuters

O Presidente russo, Vladimir Putin, diz que a Turquia abateu um avião da Rússia há uma semana para proteger e encobrir o tráfico de petróleo vendido pelo grupo islamita Estado Islâmico.

O Presidente turco Recep Tayyip Erdogan fala em "calúnias" e pede provas da acusação. Tem aliás tanta certeza de que ela é falsa que promete demitir-se se Moscovo apresentar provas do que afirma.

Se tal se provasse, "a dignidade da nossa nação imporia que eu me demitisse das minhas funções", declarou Erdogan segunda-feira à noite, citado pela agência turca Anatolia, garantindo ainda que todas as importações energéticas do país se realizam por via legal.

"Não somos desonestos ao ponto de proceder a este género de comércio com grupos terroristas. Todo o mundo tem de saber isso", acrescentou o Presidente da Turquia.
Tensão sobe
O Governo russo tem citado relatórios que implicam mesmo o filho do Presidente Erdogan no tráfico do petróleo sírio pelo grupo Estado Islâmico.

Putin, à margem da cimeira do clima em França, afirmou ter "todas as razões para pensar que a decisão de abater o nosso avião foi ditada pela vontade de proteger os caminhos de contrabando do petróleo para o território turco, justamente para portos a partir dos quais ele é colocado em navios-cisterna".

A tensão entre os dois presidentes tem vindo a agravar-se lentamente e, apesar de estarem ambos em Paris para participar na cimeira do clima, farão tudo para não se cruzarem nem cumprimentarem.

O primeiro-ministro turco mantém a recusa de apresentar desculpas por proteger o espaço aéreo turco ao abater um avião "desconhecido" que voava perto da fronteira com a Síria, após vários avisos. Uma versão negada por Moscovo que mantém que o seu aparelho se manteve no espaço aéreo sírio e que não recebeu aviso algum antes de ser abatido.
Sanções russas, paciência turca
A Rússia anunciou segunda-feira que vai proibir importações de produtos agrícolas turcos e que poderá expandir as sanções, se necessário. Antes já tinha imposto a necessidade de vistos aos cidadãos turcos que queiram entrar na Rússia e desaconselhado cidadãos russos de visitar o país vizinho.

Várias agências de viagens russas cancelaram pacotes turísticos para a Turquia e a embaixada turca na Rússia foi apedrejada e manchada com ovos, em manifestações permitidas pelas autoridades.

O Presidente turco afirmou já que vai aguardar "pacientemente e não emocionalmente", antes de reagir às sanções impostas pela Rússia. Os dois países vizinhos têm diversos laços económicos de proximidade e a nenhum convém aprofundar as tensões provocadas pelo abate do bombardeiro russo.

Os pilotos russos ejetaram-se, mas um foi abatido por fogo inimigo a partir do solo. O outro foi recolhido por tropas especiais sírias e russas, numa operação em que morreu um fuzileiro russo.
Petróleo sírio, o busílis da questão
A Rússia tem dirigido bombardeamentos aéreos das posições do Estado Islâmico e há duas semanas começou a bombardear intensivamente os comboios de camiões cisterna do grupo, que presumivelmente transportam petróleo.

Este contrabando é uma das maiores fontes de financiamento do grupo extremista e, de acordo com Putin, é "encaminhado em massa, de forma industrial, para a Turquia". Foi para evitar que a Rússia continue as suas operações que o avião russo foi abatido, mantém o Governo russo.

O Ocidente tem reagido afirmando que o petróleo extraído pelo Estado Islâmico - ou Daesh, como é designado nos países árabes - é transportado em várias direções e não apenas para a Turquia. Tayyip Erdogan diz mesmo que até o Presidente sírio Bashar al-Assad compra petróleo aos jihadistas.
pub