Tsipras demite-se e avança para eleições

por RTP
Stoyan Nenov, Reuters

Como vinha sendo anunciado oficiosamente, o primeiro-ministro grego demitiu-se e abriu o caminho para a antecipação das eleições.

Ainda hoje o ministro da Energia, Panos Skourtelis, tinha apontado claramente no sentido da antecipação das eleições, ao lembrar numa entrevista à televisão pública ERT que Tsipras precisara dos votos da oposição para fazer aprovar no parlamento os pacotes de austeridade resultantes do diktat dos credores.

As eleições deverão ter lugar a 20 de Setembro, mas antes da sua marcação o presidente da República cumprirá ainda a formalidade de convidar para formar Governo o segundo partido mais votado, a Nova Democracia.

Esta terá então três dias para apresentar uma fórmula alternativa de Governo, que poupe o recurso a eleições antecipadas. Mas é praticamente inevitável que venha a constatar a inviabilidade de um Governo seu, porque não conseguirá fazer qualquer maioria parlamentar contra o Syriza.

Além disso, a própria Nova Democracia se encontra em crise, e com uma direcção ainda à experiência, desde que o ex-primeiro-ministro Antonis Samaras se demitiu, na sequência da expressiva derrota sofrida em referendo contra o Governo do Syriza.

A motivação apontada a Tsipras para a convocatória das eleições é, acima de tudo, de ordem interna. Desse modo, ele conseguiria substituir dezenas de deputados que permanecem fieis aos compromissos anti-austeritários que foram os do Syriza durante a sua campanha eleitoral em Dezembro-Janeiro - compromissos e deputados que se tornaram um embaraço para Tsipras na nova fase, inaugurada pela sua aceitação das condições de Bruxelas.

Em princípio, o Governo do Syriza poderia ainda ter proposto ao parlamento a votação de uma moção de confiança. Mas, aparentemente, decidiu abdicar desse desvio, que faria perder tempo e não teria um desfecho garantido.

As sondagens continuam a dar a Tsipras uma elevada quota de popularidade, devido à imagem que deixou da sua prolongada oposição às imposições de Bruxelas. E essa popularidade não foi, até agora, beliscada por uma aceitação de imposições que Tsipras disse não terem alternativa.

Mas tudo poderá mudar quando começarem a fazer-se sentir os efeitos das novas medidas de austeridade. Para o Syriza tratava-se portanto de organizar o veredicto das urnas antes que o eleitorado realize inteiramente o preço da política adoptada.
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