Vice de Trump a um passo de romper com o candidato

por RTP
Jonathan Ernst, Reuters

Mike Pence, candidato a vice-presidente de Donald Trump, emitiu uma curta declaração no twitter que condena duramente a atitude sexista de Trump. Pence diz-se "na expectativa" do que Trump irá dizer amanhã a este respeito no debate com Hillary Clinton.

Na sua curta declaração, Mike Pence, que é também governador do Estado do Indiana, afirma categoricamente: "Como marido e como pai, fiquei ofendido pelas palavras e acções descritas por Donald Trump no vídeo com onze anos ontem divulgado. Não subscrevo os seus comentários nem posso defendê-los".

Prossegue, depois, atenuando esta condenação inicial: "Estou grato por ele ter expressado remorso e ter pedido desculpa ao povo americano".O "ultimato" de Pence a Trump
Mas conclui com aquilo que praticamente constitui um ultimato, e que coloca o candidato presidencial sob grande pressão para o debate de amanhã, domingo, com Hillary Clinton: "Ficamos na expectativa sobre a oportunidade que ele tem de mostrar o que vai no seu coração quando aparecer diante da nação amanhã à noite".

Segundo o New York Times, Pence cancelou também a sua participação ao lado de Trump num comício de campanha previsto para a noite de hoje, sábado, no Wisconsin.

Cerca de vinte congressistas e governadores republicanos já retiraram publicamente o seu apoio a Trump. Entre os notáveis do Partido Republicano que, um após outro, lhe têm retirado o seu apoio, o nome de Pence tem aparecido como possível alternativa ao candidato presidencial. Ao apelarem à desistência de Trump, vários têm vindo a apelar a que Pence assuma o protagonismo da campanha.

Ao vir a público criticar o candidato, Pence dá uma primeira indicação de estar possivelmente inconformado com o pape de número dois numa campanha que, após um começo auspicioso, tem vindo a sofrer sucessivos revezes e derrapagens.
O hesitante apoio de Melanie Trump
Ainda segundo o New York Times, assessores de Trump têm-no descrito como "abalado" pela divulgação do vídeo, olhando as notícias com um misto de horror e incredulidade. Numa breve entrevista telefónica concedida no sábado, Trump negou que estivesse a ponderar a desistência ou sequer que pudesse fazê-lo "em um milhão de anos". E negou que alguém do partido ou Mike Pence lhe tivessem feito alguma sugestão nesse sentido.

Em socorro de Trump, notoriamente, veio apenas sua mulher, Melania Trump, mas em termos muito defensivos: "As palavras que o meu marido usou são inaceitáveis e ofensivas para mim". Acrescenta depois: "Isto não representa o homem que eu conheço". E conclui com um apelo: "Espero que as pessoas aceitem o seu pedido de desculpas, como eu o aceitei, e que se concentrem nas questões importantes que a nossa nação e o mundo têm pela frente".
O "êxodo" dos apoiantes
O jornal de referência nova-iorquino, para além de considerar o apelo de Pence como um "ultimato", classifica a debandada de apoiantes de Trump como um "êxodo", iniciado na sexta feira à noite.

A catadupa de apelos de antigos apoiantes a que Trump desista foi desencadeada por duas congressistas, membros da Câmara dos Representantes, Barbara Comstock pela Virginia, e Martha Roby pelo Alabama. Quando ambas publicaram um apelo à desistência de Trump, vieram então as dezenas de dignitários republicanos que até aí tinham silenciado as suas angústias.

Uma outra mulher republicana, a senadora Kelly Ayotte, do New Hampshire, foi a primeira personalidade a declarar que, independentemente da decisão do candidato, não iria apoiá-lo,  que iria votar em Pence para presidente.

Ao fazê-lo, afirmou: "Sou uma mãe e em primeiro lugar uma americana, e não posso nem vou apoiar um candidato a presidente que se vangloria de degradar e de molestar mulheres".
Financiadores da campanha deitam contas à vida
Eloquente é também o silêncio de defensores habitualmente incondicionais de Trump - a direita radical do Partido Republicano, com Newt Gingrich, Chris Christie e Rudy Giuliani à cabeça.

Um representante republicano da Pennsylvania Republican, Charlie Dent, sugeriu ao presidente do Partido, Reince Priebus, que tratasse de obter a demissão de Trump. E, acrescentou, se não souber ou não puder obter essa demissão, demita-se ele próprio da presidência do partido.

Igualmente, na área dos financiadores  e dos representantes do mundo dos negócios na campanha, nota-se uma retirada que vários que até aqui tinham sido activos e destacados. Um dos mais influentes financiadores, Fred Malek, responsável financeiro da Associação de Governadores Republicanos, não esteve com rodeios e classificou as afirmações de Trump como "para lá de repugnantes".
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