Ainda se diz chique?

Há ainda quem olhe com desdém para o fluxo de turistas que nos últimos anos invade a baixa do Porto. É certo que eles acrescentam um timbre cosmopolita ao pardacento ar rústico da cidade, mas. Enchem os restaurantes, fazem um frenesim nas ruas que incomoda o degustar do gelado em família na Santini, ou no La Copa, que impedem...que atrasam...que transformam a baixa num zoo...tem graça esta diversidade, mas na verdade esta classe de gente gosta muito mais de os de ver no estrangeiro, tão a ver?

A cidade do Porto está um destino fulgurante do turismo europeu. A voar à custa das companhias de baixo custo rasgam das soleiras antigas novos restaurantes, tascas ou filiais de marcas de renome mundial, e ainda lojas de bugigangas onde sobra tralha estimada no imediato, como uma lembrança dos dias e noites felizes, recuerdos, souvenirs, whatever!


Daquele tipo de coisas que chegados a casa, encostamos numa prateleira qualquer a ganhar pó. As caves do vinho do porto, as esplanadas na Ribeira dão o tom para a festa que os bares da baixa durante a noite amplificam. Há um hostel em cada esquina, uma hamburgueria Gourmet em cada bairro, enfim quase tudo para quase todos. O que é bom para a economia da cidade e do país. 

À exceção dos tios que não têm interesses comerciais na baixa, as "forças vivas "aplaudem a nova downtown de Oporto. Ele é o roncar dos motores dos carros de rali, os velhos edifícios transformados em laboratórios de arte urbana, são as intervenções nas caixas dos transformadores da eletricidade, ou das fibras de comunicação, é um Porto vivo que afronta um marasmo que, honra seja feita cresceu e começou a morrer ainda no tempo de um Rio. 

Rui Moreira incentiva este pulsar da cidade, e bem. Paulo Cunha e Silva antecipou o bater deste novo coração, bombeado pelo ritmo da festa, da invenção cultural, a tal cidade líquida de que ele tanto falava e defendia. O Porto está assim, visto de fora e de dentro, um rio que desagua em ruas e geografias variáveis. 

Mas há uma coisa que incomoda, e que aparentemente estas forças não vêm ou não querem ver, e no entanto está aos olhos de todos...vou só retratar um caso que apaga o brilho de tudo o que descrevi. Homens e mulheres a quem, talvez, seja mais fácil chamar sem abrigo, que todas as noites fazem da praça da Batalha uma casa, e onde se fecham de dia e de noite. 

Estão lá, mas não fazem parte do postal do Porto chique e portanto parece que ninguém os vê. Mas ocupam muito espaço.    

pub