O brilhante slogan da RTP Memória serve de título a uma pequena reflexão sobre aquilo que está a acontecer a José Cid. Uma frase infeliz, numa entrevista que foi dada há seis anos, a um canal que muitos portugueses nunca terão visto, pode ter acabado com uma carreira. Pelo menos para lá do Marão.

Traz prá frente. É este um dos maiores poderes das redes sociais. E não tem regulador.

Não sou transmontano, mas também não gostei das palavras de José Cid sobre Trás-os-Montes. Como também não gostaria de ouvir a mesma coisa sobre o Algarve, os Açores ou a Beira Baixa. A questão está no tempo que passou e na reação que se produziu, porque aquela frase não foi dita ontem ou há quinze dias. Pode parecer absurdo, mas a punição com retroativos faz sentido para coisas realmente graves, como crimes. E mesmo esses prescrevem.

O problema é que nas redes sociais não há esperança de absolvição e os advogados de defesa passam a réus facilmente, antes que alguém consiga dizer "favas com chouriço". Seis anos depois, o Canal Q tirou o vídeo do arquivo do esquecimento, alguém o publicou no facebook e tornou viral, alguém se sentiu ofendido, alguém criou uma página chamada "Todos contra José Cid". Alguns, muitos, mais de nove mil, aderiram a essa página e validaram o que por lá se escreve: os insultos, os boicotes, as ameaças de morte ao cantor e à família. Kafka poderia muito bem escrever alguma coisa sobre este processo.

Depois de tudo isto, apesar de tudo isto, José Cid reconheceu o erro, assumiu o tremendo disparate, sem se esconder. Escreveu nas redes sociais e pediu desculpas em direto na televisão.

Mesmo assim, este ato de contrição pode não chegar, até porque o vírus da "indignação póstuma" não atacou apenas a multidão em fúria, mas atingiu também, de forma violenta, alguns autarcas.

O presidente da Câmara Municipal de Bragança escreveu mesmo uma mensagem que termina com a exigência de um pedido de desculpas, mas lembrou, de forma bem clara, que "não será possível, nunca, reparar a forma grosseira como maltratou e humilhou os Transmontanos".

José Cid disse uma frase infeliz e pediu desculpas. E quem pede agora desculpas a José Cid?

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