Europa a várias velocidades

Com a eliminação do FCPorto pela Juventus terminou a participação das equipas portuguesas nas competições europeias de futebol na temporada 2016/2017.

Longe de ter sido uma boa participação, bem pelo contrário, está consumada a nossa ultrapassagem pela Rússia no ranking da UEFA, o que vai fazer com que, na temporada 2018/2019, Portugal deixe de ter três equipas na liga milionária para passar a ter apenas duas. Sendo que só o campeão terá acesso direto à fase de grupos, enquanto o vice-campeão entrará na terceira pré-eliminatória e não no play-off como acontecia até agora. Já o terceiro classificado da liga portuguesa, que até agora ia ao play-off de acesso à principal competição de clubes do mundo, passará apenas a ir à Liga Europa. É o choque do futebol português com a dura realidade ou, se quiserem, a nossa descida a uma espécie de segunda divisão do futebol do velho continente.

Em boa verdade, esta temporada, apenas o FCPorto, que veio do play-off, e o Benfica, que entrou diretamente na fase de grupos, por ser o campeão nacional, estiveram à altura das suas responsabilidades pois chegaram onde era razoável que chegassem. Ou seja, aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Daí para a frente, sejamos claros, só mesmo se o sorteio tivesse sido favorável o que não aconteceu, já que Borussia de Dortmund e Juventus são dos principais conjuntos do futebol europeu. 


A seu favor, os dragões têm o facto de terem ultrapassado a Roma no play-off que se apetrechou para jogar a fase de grupos e de só terem perdido com o eterno campeão italiano. Já os encarnados venceram o primeiro jogo dos oitavos de final, na Luz, com os alemães, tendo sido depois “varridos” em Dortmund. Apenas os dois empates com o Besiktas, na fase de grupos, em casa e principalmente fora, tenham sido a exceção a uma época interessante, pois as derrotas com o Nápoles até que eram esperadas.

Bem diferente foi o percurso do Sporting. É certo que a equipa de Jorge Jesus apanhou pela frente o Real Madrid e o Borussia de Dortmund. Ninguém esperava que conseguissem chegar à fase a eliminar mas também ninguém esperava que fossem eliminados pelo Légia de Varsóvia que há mais de vinte anos não ganhava um jogo na principal prova de clubes do futebol mundial.

Chegar à fase seguinte da Liga Europa era o mínimo que se exigia, principalmente depois das exibições que realizaram em Madrid e em Dortmund. Tenho para mim que a crise dos leões – sim porque houve uma crise de exibições e de resultados – começou precisamente na capital polaca. 

Por fim a participação portuguesa na Liga Europa foi um desastre. O Sporting de Braga não passou da fase de grupos mesmo tendo pela frente uns belgas acessíveis e uns turcos muito fraquinhos. Já o Shakhtar Donetsk de Paulo Fonseca era mesmo de outro campeonato. Quanto ao Arouca e ao Rio Ave fizeram seis jogos e não conseguiram ganhar qualquer partida, pelo que estamos conversados.

Aqui chegados importa perceber que talvez o futebol português, no que aos clubes diz respeito – a seleção é outro filme –, agora que não há fundos de investimento para os ajudar, que o dinheiro está pela hora da morte e que os bancos fogem do chuto na bola como o Diabo da Cruz, o caminho terá de ser outro passando inevitavelmente pela formação. 

Os adeptos terão de se começar a mentalizar que as grandes equipas do passado e que ganharam as competições europeias serão isso mesmo: uma recordação, tal como aconteceu na Hungria, República Checa e Roménia, até ao final do século XX e, mais recentemente, na Holanda e na Bélgica. 

Ter uma equipa portuguesa a vencer a liga dos Campeões nos próximos cinquenta ou cem anos será mesmo uma improbabilidade estatística. É a Europa a duas ou mesmo a três velocidades, até no futebol.

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