Uma grande montra

Quando foi realizado o sorteio, em agosto, e se ficou a saber que o Sporting iria ficar no grupo de Real Madrid e Borussia de Dortmund poucos seriam os que acreditavam que os leões iriam discutir o apuramento. A força dos espanhóis – campeões da Europa em título – e dos alemães – uma das equipas mais fortes no atual panorama futebolístico europeu – fazia com que ambos fossem mais do que favoritos. Realizados os jogos e chegados às decisões ninguém se enganou e, sem surpresa, são os mais poderosos que seguem para a fase seguinte da prova. No entanto, para a história e na retina de quem viu os quatro jogos – com Real Madrid e Dortmund – ficam excelentes exibições dos leões, com jogadores, treinador e o emblema claramente valorizados. Chegados a este ponto muita gente estará a questionar: mas voltamos aos tempos das vitórias morais? Essa altura já não tinha sido ultrapassada? Não me parece e vou explicar porquê.

Vamos partir de um dado incontornável: o Sporting perdeu os quatro jogos. Isso é indesmentível, mas com o nível que apresentou marcou pontos num logo caminho de afirmação que, em boa verdade, começou recentemente. Eu sei que para os sportinguistas isto pode ser estranho e quase ofensivo, mas para quem segue este futebol europeu a realidade é esta: o Sporting tem pouca expressão. Os decisores sabem que foi em Alvalade que Ronaldo, Figo, Nani, João Moutinho, Simão Saborosa, João Mário entre muitos outros foram formados mas também sabem que, nos últimos anos, os leões tiveram poucas presenças nas competições europeias, com destaque para a Liga dos Campeões, e quando lá estiveram ou não foram longe ou tiveram derrotas pesadas como aquela com o Bayern de Munique. Não é por acaso que Jorge Jesus fala de um processo de aprendizagem e de experiência que a equipa fez ao longo desta temporada. Um processo do qual vai tirar proveitos já no próximo jogo com o Légia de Varsóvia onde é obrigada a pontuar para seguir para a Liga Europa. A equipa ganhou maturidade e qualidade com estes jogos.

Para além dessa afirmação progressiva que estes jogos trazem e de que maneira – a partida com o Real Madrid e com o B. Dortmund foi seguida em dezenas de países – há ainda a exposição a que são sujeitos os jogadores. A chamada montra que depois rende milhões de euros. Gelson é um dos casos cuja cotação subiu exponencialmente depois do que fez em Madrid na partida da primeira jornada. Os olheiros do futebol europeu já o conheciam, é certo, mas depois do que jogou passou a ser visto de outra maneira. Provou as suas qualidades. Outro exemplo, em Alvalade, na terça-feira, estou convencido que o central Coates passou a entusiasmar algumas equipas depois da exibição que rubricou. Há quem diga e eu partilho dessa opinião, que os grandes negócios – os que rendem para cima de 30/40 milhões de euros - só se fazem se os jogadores provarem a sua qualidade ao serviço das suas seleções nacionais ou nos grandes jogos da Liga dos Campeões. Para o Sporting foi o que se passou com João Mário transferido depois de um europeu fantástico e é o que se vai passar com Gelson num futuro próximo.

O mesmo raciocínio é válido para a muito jovem equipa do FCPorto que em Copenhaga não foi além de um empate sem golos. Chegar aos oitavos de final da “milionária” é, não só, fundamental, a curto prazo, para ajudar a entrar dinheiro nos depauperados cofres do dragão como é ainda muito mais importante para ajudar a equipa a fazer os grandes negócios a que está habituada no final da temporada ou nos próximos anos porque senão vejamos: Corona, André Silva e Otávio são jovens, mais ou menos conhecidos no futebol mundial e precisam de se afirmar. A Liga dos Campeões é para o seu clube e para eles um espaço de eleição, uma montra absolutamente fundamental. A equipa tem tudo para chegar aos oitavos de final. Aliás, na Dinamarca, os azuis e brancos estiveram muito perto de marcarem o golo que chegava para que isso acontecesse e, em boa verdade, mereciam-no. Não aconteceu mas ainda tem mais uma possibilidade, na última jornada da prova, frente ao Leicester.

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