NASA estuda missão interestelar para 2069

por Nuno Patrício - RTP
Reuters

O espaço é mesmo a última fronteira para a agência espacial norte-americana. Depois da visita a vários planetas do nosso Sistema Solar, depois de orbitar e aterrar num asteróide e de ter conseguido colocar uma sonda a viajar para fora do nosso sistema planetário, a NASA estuda agora a possibilidade de enviar uma sonda até Próxima Centauri, local onde existe um planeta com as mesmas características da Terra.

5 de setembro de 1977. A sonda Voyager-1, da NASA, é projetada para o espaço. Missão estudar Júpiter e Saturno, e posteriormente, o espaço interestelar.

A Voyager-1 é a única sonda criada por humanos que, passados 40 anos, continua a viajar pelo espaço a uma velocidade de 29,5 quilómetros por segundo.

Uma velocidade que levará a nave até à estrela mais próxima, mas só daqui a 65 mil anos.

Uma distância temporal quase irreal e que a NASA quer reduzir ao máximo. E já está a estudar a forma de o concretizar.A NASA gostaria de saber mais sobre o exoplaneta Próxima Centauri B que, segundo os astrónomos, apresenta condições muito semelhantes ao nosso planeta.

Anthony Freeman e Leon Alkalai engenheiros do Jet Propulsion Laboratory da NASA, apresentaram recentemente o primeiro conceito para uma missão interestelar que seria lançada em 2069, data em que se vai celebrar os 100 anos da chegada do homem na lua.

O novo projeto – ainda sem nome- "está em uma fase muito embrionária", refere Freeman, mas coincide com o início de vários projetos similares promovidos por organizações privadas e com a aprovação no Congresso dos EUA. Razão pela qual estes engenheiros gostariam da aposta da NASA neste projeto.



Destino Próxima Centauri (4,22 anos luz)
De nome Próxima Centauri ou simplesmente Próxima, este sistema localizado a 4,22 anos luz da Terra é composto por uma anã vermelha que orbita ao redor das estrelas Alpha Centauri A e B, formando o sistema triplo Alpha Centauri.

Mas porquê este sistema em particular? É que a estrela possui um exoplaneta, batizado como Próxima Centauri B, em 24 de agosto de 2016 e que, segundo os cientistas, apresenta condições muito semelhantes ao nosso planeta.

A proposta de Freeman é construir uma sonda capaz de viajar a uma velocidade até dez por cento da velocidade da luz, e que chegaria a este sistema em 40 anos.

Um primeiro objetivo seria recolher imagens que chegariam à Terra quatro anos depois, em 2113, o que significaria que os engenheiros e cientistas que analisariam essas imagens ainda não nasceram, e provavelmente, a maioria dos designers originais já terão desaparecido.

"Agora as missões espaciais são feitas com uma abordagem muito conservadora. Se realmente queremos enviar uma missão a outra estrela, não podemos fazer isso, temos que ser um pouco loucos", admite Freeman.
Uma sonda metamórfica e com autoaprendizagem
Para a concretização desta “louca” missão, Anthony Freeman, explica que o conceito da sonda interestelar não pode ser construída nos moldes atuais.

A sonda terá de ser capaz de se atualizar, reprogramar e de se transformar sem a necessidade de receber as instruções da origem.

Freeman dá mesmo o exemplo do uso de impressoras 3D e sistemas de inteligência artificial capazes de criar novos programas de software.

Problema da propulsão

Um dos problemas atuais é a forma de propulsão. Pois nem são eficientes na duração nem rápidas o suficiente.

Nem o combustível químico dos foguetes, nem painéis solares, nem a energia nuclear servem para cobrir distâncias de mais de 40 mil milhões de quilómetros, até as estrelas mais próximas, numa distância temporal acessível.

Existem já algumas ideias alternativas, como a fusão nuclear ou explosões de matéria e antimatéria, mas que ainda não foram desenvolvidas.

Outra opção é a "energia dirigida", proposta por Phillip Lubin, um físico da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA), em que se utilizaria um sistema baseado em velas solares alimentadas por luz laser emitida pela Terra ou espaço.

Outra questão será também o tamanho da sonda. Quanto menor, mais rápida.

Este não é o primeiro projeto a longo prazo para eventuais missões interestelares. Mar Vaquero, engenheira de voo da JPL, acredita que a proposta de seus colegas é muito "louca e teórica", embora acrescente que "não há dúvida de que tal conceito convida à reflexão".

A engenheira da NASA-JPL argumenta mesmo que existem outros programas espaciais paralelos e com missões de sucesso. "A rota primária da Cassini não estava totalmente planeada no momento do lançamento, foi só desenhada durante a construção da sonda. Algo semelhante pode acontecer com esse conceito e enfrentaremos desafios em diferentes campos, como propulsão, navegação ou a mesma proteção do navio e seus sistemas durante tantos anos de viagem interestelar. Mas não tenho dúvidas de que podemos resolvê-los ", disse Vaquero.

Certo é que a velocidade da evolução tecnológica é cada vez maior. Gerd Leonhard, futurista, humanista, refere que evolução da humanidade vai mudar mais nos próximos 20 anos, do que evoluiu nos últimos 300 anos.

A acreditar nesta teoria, Próxima Centauri pode estar mesmo ali ao virar da esquina.
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