Covid-19. Variante indiana gera preocupação no Reino Unido

por Inês Moreira Santos - RTP
Carlos Ortega - EPA

As autoridades de saúde britânicas recomendaram, esta sexta-feira, que uma das três variantes detetada na Índia fosse considerada "preocupante". A estirpe B.1.617.2 está a disseminar-se muito rapidamente no Reino Unido e começa a gerar preocupação entre os especialistas britânicos.

A Public Health England (PHE) está a estudar a estirpe B.1.617.2 do coronavírus, que parece estar a disseminar-se mais rapidamente do que as outras duas mutações identificadas na Índia, e recomendou às autoridades britânicas que a classificassem como uma "variante preocupante".

Os cientistas afirmam não haver dados que provem que variante indiana seja resistente às vacinas atuais, revela a BBC, mas parece ser, pelo menos, tão transmissível como a variante britânica detetada em Kent no ano passado.

Estima-se que, até ao momento, existam cerca de 500 casos de infeção provocada pela B.1.617.2 no Reino Unido, com maior prevalência em Londres e a noroeste do território.

Embora ainda não se saiba ao certo quantas destas infeções se devem a viagens internacionais, as autoridades de saúde acreditam que já houve transmissão comunitária "significativa", principalmente em locais de trabalho e espaços para reuniões religiosas.

A atualização sobre a prevalência das variantes no Reino Unido devia ter sido divulgada na quinta-feira, mas segundo informações a que o Guardian teve acesso, foi adiada para esta sexta-feira devido às eleições locais.

Os cientistas têm avaliado as três variantes detetadas pela primeira vez na Índia e já identificadas no Reino Unido, com o objetivo de perceber como é que as mutações tornam o vírus mais resistente às respostas imunitárias do corpo e a ser mais transmissível. Todas estas variantes indianas, conhecidas como B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3, estão "sob investigação" pela Public Health England.

De acordo com documentos internos do PHE, datados de 5 de maio e vistos pelo Guardian, a avaliação do risco contínuo para a saúde pública da B.1.617.2 é "elevado".
Idosos infetados após vacinação

Os documentos confidenciais a que o Guardian teve acesso revelavam que foram detetados 15 casos desta estirpe num lar de idosos em Londres, onde todos os utentes já tinham recebido as duas doses da vacina da AstraZeneca, uma semana antes do surto.

Até ao momento, não há nenhuma morte a registar na instituição, mas quatro desses utentes foram hospitalizados, apesar de não apresentarem sintomas severos da doença.

Os especialistas garantem que todas as vacinas atualmente aprovadas asseguram algum grau de proteção contra variantes, mas que podem não conseguir evitar completamente todas as infeções por Covid-19, especialmente entre pessoas vulneráveis ​​ou idosas.

Os documentos especificam ainda que existem 48 cadeias de transmissão da variante B.1.617.2 no Reino Unido. Parte destes contágios estão diretamente relacionados com escolas, cerimónias religiosas e com transmissão comunitária. Contudo, em Londres, os contágios parecem ser prevalentes apenas em lares de idosos.

Os relatórios adiantam que as autoridades de saúde britânicas estão "preocupadas" com o aumento do número de casos de infeção por esta estirpe indiana.

O Deepti Gurdasani, epidemiologista clínico da Queen Mary University of London, confirmou ao jornal britâncio que a variante indiana "está a aumentar muito rapidamente" e que "na taxa de duplicação atual, pode facilmente tornar-se dominante em Londres no final de maio ou no início de junho".

Como tem sido explicado pela comunidade científica, os vírus sofrem mutações frequentemente, produzindo diferentes versões de si mesmos. A maioria dessas mutações é insignificante - e algumas podem até tornar o vírus menos perigoso - mas outras podem torná-lo mais contagioso e mais difícil de combater e evitar com vacinas.

"Embora as medidas preventivas - incluindo restrições de viagens - sejam muito importantes, a avaliação mostra que irão apenas atrasar e não impedir permanentemente a disseminação de variantes já detetadas noutras regiões do território", explicou o diretor médico da Irlanda do Norte , Dr. Michael McBride, acrescentando que a notícia sobre a "preocupação" da variante indiana não era inesperada.

"A maneira mais eficaz de impedir o desenvolvimento ou a disseminação de variantes é continuar a reduzir as taxas de infeção e de transmissão do vírus na nossa comunidade", acrescentou. "Todas as variantes se espalham da mesma maneira. Devemos proteger-nos a nós mesmos e aos outros e seguir os conselhos de saúde pública, sendo vacinados quando chegar a nossa vez".

As variantes de Kent, África do Sul e Brasil foram também já consideradas "variantes preocupantes" no Reino Unido. Essas estirpers, assim como esta variante da Índia, sofreram alterações a nível da sua proteína "pico" - a parte do vírus que se liga às células humanas.
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