Cuba vacina crianças a partir dos dois anos com vacina não validada pela OMS

por RTP
A vacina Soberana 02, juntamente com a Soberana Plus e a Abdala, foi das primeiras a ser desenvolvida na América Latina Alexandre Meneghini/Reuters

Cuba começou a vacinar em massa as crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 10 anos, com a Soberana 02, uma das três vacinas produzidas no país. As autoridades de saúde do país garantem que as vacinas são seguras para as crianças mais novas, apesar de o país ter iniciado, também quinta-feira, o processo de validação destas vacinas junto da Organização Mundial da Saúde (OMS) para facilitar a sua comercialização externa. Cuba é um dos primeiros países a vacinar a população infantil.

Com o objetivo de ter mais de 90 por cento dos 11 milhões de habitantes imunizados até Dezembro, as autoridades de saúde de Cuba começaram a vacinar a faixa etária entre os 2 e os 10 anos.

Para a decisão das autoridades terá contribuído o facto de o surto de Covid-19 na ilha de Cuba quase ter colapsado o sistema de saúde e o grande aumento das infeções entre os mais novos devido à variante Delta. A propagação da infeção entre as crianças foi de tal modo significativa que a comunidade científica decidiu começar os ensaios clínicos e a aplicação da Soberana 02 nas crianças foi aprovada.

O fabricante, Instituto Finlay de Vacinas, nota que os testes à Soberana 02 revelaram que a resposta imunológica nas crianças é mais forte do que nos adultos.

O nosso país não iria expor [as crianças] ao mínimo risco se as vacinas não fossem comprovadamente seguras e altamente eficazes quando ministradas às crianças”, declarou o diretor da Policlínica da Universidade de Vedado, Aurolis Otano, à Associated Press.

Todas as crianças vão receber pelo menos duas inoculações da Soberana 02. A campanha de vacinação será idêntica aos programas anuais de vacinação contra várias doenças infantis e decorrem nos centros de saúde, explicou a diretora de Ciência e Inovação Tecnológica do Ministério cubano da Saúde, Ileana Morales Suarez. Já as crianças com idade entre os 5 e os 10 são vacinadas na escola.

Apesar de mostrarem menos sintomas do que os adultos, os especialistas dizem que as crianças podem transmitir o vírus mas também sofrer os efeitos do SARS-COV-2. “Enquanto os adultos são cada vez mais vacinados, as crianças, que não são elegíveis para as vacinas na maior parte dos países, são responsáveis por uma maior percentagem de hospitalizações e até de mortes (…) Sejamos claros: as crianças e os jovens também enfrentam riscos significativos”, disse Clarissa Etienne, diretora da Pan American Health Organization.

Cuba procura validação da OMS

Nas últimas semanas, decorreu a vacinação dos que têm entre 11 e 18 anos. O plano para esta faixa etária inclui duas doses de Soberana 02 e uma de Soberana Plus, tal como o dos adultos.

Para além destas, Cuba ainda produz a vacina Abdala, que terá uma eficácia superior a 90 por cento para prevenir a Covid-19 e os seus sintomas, de acordo com dados fornecidos pelos investigadores cubanos.

As vacinas produzidas em Cuba, as primeiras produzidas na América Latina, assentam numa proteína recombinante, a mesma técnica desenvolvida pela americana Novavax e pela francesa Sanofi.

O México e a Argentina já demonstraram interesse em comprar as vacinas e o Irão quer produzir a Soberana 02 no seu território. No entanto, como as vacinas cubanas ainda não foram reconhecidas pela OMS, não podem ser compradas por outros países.

Por isso, as autoridades de saúde do país deram início quinta-feira ao processo de validação das vacinas Abdala e Soberana 02, que implica novos testes “à segurança, imunogenicidade e eficácia [das duas vacinas] demonstradas em ensaios clínicos" já realizados na ilha, explicou Rolando Pérez, diretor do departamento Ciência e inovação da empresa estatal BioCubaFarma.

A autorização da OMS é ainda necessária para integrar o fundo Covax, que promove o acesso equitativo às vacinas em diversos países.

Ritmo de vacinação longe da meta

No entanto, Cuba tem de resolver o problema da desigualdade vacinal no seu território. Se na capital Havana mais de 60 por cento dos dois milhões de habitantes estão totalmente vacinados, com os números de casos e mortes muito inferiores à média nacional, apenas 38,5 por cento da população adulta cubana (cerca de 3.5 milhões) está plenamente vacinada, na maioria com a vacina Abdala.

Cerca de 50 por cento da população recebeu pelo menos uma dose de uma das vacinas produzidas no país. Para intensificar o processo de vacinação, Havana decidiu utilizar também a chinesa Sinopharm.

Falhada a meta de vacinar 70 por cento da população até final de agosto, o novo objetivo é garantir que todos os adultos ilegíveis recebam pelo menos uma das três doses até ao final deste mês.

Com as crianças a terem aulas em casa há meses, as famílias cubanas têm urgência na reabertura das escolas. O Governo também quer controlar a propagação do vírus a tempo da abertura da temporada de turismo, em novembro.

Com falta de tudo, incluindo alimentos e medicamentos, passando por peças para a produção agrícola, devido ao fecho da indústria do turismo, às sanções dos Estados Unidos e às suas próprias ineficiências, a economia cubana enfrenta graves dificuldades.

Cuba regista quase 770 mil casos e mais e 6.500 mortes por Covid-19.
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