Estudo. Distribuição de vacinas contra Covid-19 não significará regresso à normalidade

por RTP
Neste momento, mais de duas centenas de vacinas contra o SARS-CoV-2 estão a ser desenvolvidas por cientistas de todo o mundo. Thomas Peter - Reuters

Mesmo que uma vacina eficaz contra o novo coronavírus seja desenvolvida nos próximos meses, a vida não regressará ao normal até à primavera. Quem o diz é um grupo de cientistas da Royal Society, cujo estudo alerta para o facto de a distribuição de vacinas ser um processo demorado e que deve ser acompanhado de um relaxamento gradual das medidas de contenção.

Os investigadores que a instituição britânica Royal Society reuniu para levarem a cabo este estudo avisam que a sociedade precisa de ser “realista” sobre aquilo que uma vacina conseguirá alcançar e sobre a data em que tal acontecerá.

Alertando que poderá levar até um ano para que a eventual vacina seja distribuída pela generalidade da população, o relatório “Desenvolvimento e implementação da vacina contra o SARS-CoV-2” esclarece que as restrições têm de ir sendo “gradualmente relaxadas”, em vez de serem totalmente levantadas assim que a distribuição da vacina se inicie. Neste momento, mais de duas centenas de vacinas contra o SARS-CoV-2 estão a ser desenvolvidas por cientistas de todo o mundo. Ainda assim, não há data certa para o lançamento de qualquer uma delas.

“Mesmo quando uma vacina estiver disponível isso não significa que no espaço de um mês toda a gente vá ser vacinada. Estamos a falar de seis meses, nove meses ou talvez um ano”, explicou Nilay Shah, da universidade Imperial College London.

“Não é possível que a vida regresse subitamente ao normal em março”, acrescentou, em declarações à BBC.

O imunologista Charles Bangham, também do Imperial College, explicou por sua vez que “simplesmente não sabemos quando estará disponível uma vacina, quão eficaz será e, claro, quão rapidamente poderá ser distribuída”.

“Mesmo que seja eficaz, é improvável que consigamos regressar completamente ao normal, portanto haverá uma escalada (…). Teremos de gradualmente relaxar algumas das medidas”, afirmou.
“História repleta de falhanços”
O ritmo de distribuição das vacinas constitui, assim, um “enorme” desafio, segundo o relatório. Nilay Shah estima que a vacinação da população contra a Covid-19 tenha de acontecer a um ritmo dez vezes superior ao da vacinação contra a gripe comum, o que implicaria até 30 mil profissionais envolvidos.

“Preocupa-me que esta questão não esteja a ser pensada”, admitiu à BBC.

A demora na distribuição das vacinas não é a única questão que preocupa especialistas. O relatório da Royal Society expõe dúvidas quanto aos materiais utilizados tanto nas vacinas como nos frascos de vidro usados para as armazenar, mas também quanto à capacidade de refrigeração das vacinas, que devem ser mantidas a 80 graus negativos.

Há ainda a incerteza quanto à eficácia real da administração deste fármaco. “Uma vacina oferece grande esperança para potencialmente acabar com a pandemia, mas sabemos que a história do desenvolvimento de vacinas está repleta de falhanços”, avisou a investigadora Fiona Culley, também do Imperial College.

Dados preliminares das empresas que estão a testar em humanos vacinas contra o novo coronavírus adiantam que estas desencadeiam uma resposta imunitária, mas ainda é cedo para determinar se essa resposta oferece uma proteção completa.
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