OMS admite como "muito prováveis" dois milhões de mortos no mundo por Covid-19

por RTP
Covas recém-escavadas em 2020 para acolher vítimas mortais da Covid-19, em El Salvador Reuters

A Organização Mundial de Saúde considera "muito provável" um cenário de dois milhões de mortes por Covid-19 em todo o mundo, se não houver uma ação constante concertada e sem tréguas para combater a doença. A marca de um milhão de óbitos mundialmente está prestes a ser alcançada.

Em conferência de imprensa virtual a partir de Genebra, o diretor executivo da OMS para as situações de emergência, Michael Ryan, questionado sobre quantas mortes estará a organização a prever, respondeu que "só um milhão de mortos já é terrível e devíamos refletir sobre isso antes de começar a pensar em dois milhões".

Mas, perguntou logo depois, "estamos preparados coletivamente para fazer o necessário para evitar um tal número?"

"Estamos nós determinados em empreender ações multilaterais, uma ação coletiva mundial para controlar este vírus em vez de o deixar controlar as nossas vidas?", acrescentou.

"Se não o fizermos, sim, iremos olhar para esse número e infelizmente muito acima. A não ser que façamos tudo, os números de que fala não são inimagináveis mas infelizmente, e tristemente, muito prováveis".
Não basta "rezar"
Michael Ryan reconheceu que a prioridade é o financiamento, produção e distribuição de quaisquer vacinas contra a Covid-19.

"Se estamos a ver a perda de um milhão de pessoas em nove meses, então temos de olhar para a realidade de termos de conseguir ter disponível uma vacina nos próximos nove meses, é uma grande tarefa para todos os envolvidos", afirmou.

O esforço tem de ser contudo mais abrangente e cooperativo à mesma escala da pandemia.

"Se não fizermos mais, evoluirmos na natureza, escala e intensidade da nossa cooperação, então sim, iremos ver esse número e infelizmente um mais elevado. O tempo de agir é agora", acrescentou-

"Não se trata somente de testar e seguir os surtos, não apenas de aplicar cuidados médicos, não apenas de cumprir o distanciamento social, não apenas de trabalhar nas vacinas, tem de se fazer isto tudo ao mesmo tempo", insistiu o diretor da OMS para as emergências.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, alertou igualmente aqueles que colocam todas as fichas numa vacina.

"A nossa mensagem é que, enquanto trabalhamos nas vacinas, devemos esforçar-nos ainda mais no uso das ferramentas que já temos à nossa disposição", afirmou, lembrando que foram estas que permitiram a alguns países controlar a pandemia.

"Quando se usam estas ferramentas já disponíveis, salvam-se vidas agora", lembrou. "Não podemos salvar vidas hoje, simplesmente a rezar ou a trabalhar apenas nas vacinas que só virão mais tarde", insistiu Ghebreyesus.
Europa preocupa
A OMS afirmou ainda que está a seguir com preocupação "o aumento do número de hospitalizações, um aumento da taxa de ocupação de camas e dos serviços de cuidados intensivos" na Europa, referiu Maria Van Kerkhove, responsável da organização para a pandemia do Covid-19.

A organização reconhece que no velho continente as situações diferem entre países e que, em parte, o aumento do casos registados se deve a uma maior vigilância.

O cruzamento do aumento de ocupação de camas com doentes de Covid-19 com o impacto sazonal da gripe, quando se aproxima o inverno, irá provavelmente sobrecarregar sistemas de saúde já no limite, referiu a responsável.

O novo coronavírus já matou 984,068 pessoas em todo o mundo desde o início da pandemia, na China, em dezembro de 2019, de acordo com o mais recente balanço feito pela Agência France Presse.

Registaram-se quase 32.3 milhões de casos de infeção com o SARS-CoV-2 confirmados mas o número real deverá ser muito superior devido aos que não foram identificados.
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