Partex. Preços dos combustíveis vão baixar em Portugal a longo prazo

por RTP
Reuters

O presidente executivo da petrolífera Partex considera que os preços dos combustíveis em Portugal vão baixar pelo menos ao longo dos próximos dois anos, como consequência da pandemia. A descida pode chegar aos seis cêntimos por litro, revelou António Costa e Silva à agência Lusa.

"Vamos ter claramente uma redução dos preços dos combustíveis, porque o [barril] de Brent [do mar do Norte e o de referência para a Europa] vai acabar - aliás já está - por ser afetado", afirmou em entrevista à agência Lusa António Costa e Silva, presidente executivo da Partex, petrolífera detida pela Fundação Gulbenkian até 2019, depois comprada pela tailandesa PTT Exploration and Production.

O gestor da petrolífera revelou que, embora difícil de prever, a descida dos preços “pode chegar aos seis cêntimos por litro”. “Depende da volatilidade do mercado e da possibilidade de termos alguma estabilidade", afirmou o presidente executivo da Partex.

António Costa e Silva explicou que o mercado português "depende muito da cotação do Brent, da Europa, e, depois, dos preços dos vários produtos refinados. Já há indicações, nos últimos dias, de que esses preços estão a baixar e poderão vir a baixar ainda mais".
Antena 1

Segundo o presidente da petrolífera, os portugueses ainda não começaram a sentir “de forma profunda” essa baixa de preço nos postos de combustível, mas, de acordo com o gestor, irá acontecer nas próximas duas ou três semanas:

"Teremos sempre uma décalage de duas a três semanas até que isso se comece a sentir nas bombas [em Portugal]. Mas se olharmos para os últimos dias já houve um abaixamento, quer do preço do gasóleo, quer da gasolina, e portanto, essas tendências vão provavelmente refletir-se de forma mais profunda nas próximas semanas no mercado português”.
Recuperação “extremamente lenta”
Questionado sobre o período ao longo do qual se estima que esta redução de preços se mantenha em Portugal, Costa e Silva considera que “pode ser significativo”, dado que, com a paralisação da economia e a crise global, a recuperação económica "será extremamente lenta".

“Neste momento, evaporou-se parte significativa da procura mundial. Desapareceram entre 25 a 30 milhões de barris por dia em termos de consumo de petróleo e isso é cerca de 30 por cento. Portanto, vai demorar tempo a reativação da economia", sublinhou o gestor da Partex.

Ora, sem crescimento da economia não "haverá recuperação sustentada do preço do petróleo", frisou. "Prevejo que neste ano e no próximo vamos ter preços baixos dos combustíveis”, concluiu Costa e Silva.
Lucros “moderados” para a economia portuguesa
No entanto, para a economia portuguesa, o presidente executivo da petrolífera explica que os lucros desta quebra no preço dos combustíveis, que poderiam ser elevados, serão apenas “moderados” num país ainda muito dependente do preço do petróleo e com uma fatura energética pesada.

Para mostrar como a economia nacional tem uma fatura energética pesada, Costa e Silva recordou que já houve, pelo menos, dois anos em que as compras de petróleo, gás e carvão em Portugal atingiram o valor de dez mil milhões de euros.

"Se olharmos para o peso destas importações de combustíveis no PIB nacional, anda entre o 4 e os 6 por cento, o que é significativo". Por isso, diz, "quando o preço do petróleo baixava dez dólares, era suficiente para ter um efeito positivo no PIB do país de 0,2 por cento".

Só que agora, no cenário de pandemia, a situação é diferente. Com a atividade económica muito paralisada "os ganhos serão mais moderados e mais limitados".
Perda de empresas
O presidente executivo da Partex revelou ainda à agência Lusa que a pandemia de Covid-19 vai ter consequências para a indústria petrolífera, obrigando-a à consolidação e reconversão. Neste caminho, algumas empresas desaparecerão e outras serão compradas.

"O mercado vai ditar a competitividade das empresas" e neste cenário pós pandemia “sem dúvida” que haverá companhias que vão perder-se e “pode haver também mais consolidação", afirmou em entrevista à Lusa António Costa e Silva.

"Penso que caminhamos para aí indubitavelmente, portanto também haverá companhias que vão ser compradas”, acrescentou. O gestor prevê que o preço do barril de petróleo "provavelmente" vai descer "até aos dez ou 15 dólares".

Neste contexto, Costa e Silva acredita que "a indústria vai aprender ou vai tentar adaptar-se à nova situação". O gestor da Partex sublinhou que a paralisação da atividade económica provocada pela pandemia já mostrou, "neste primeiro ensaio, aquilo em que a indústria petrolífera nunca acreditou, que é que pode haver um colapso da procura mundial de petróleo”.

“A indústria não acreditou quando havia a questão climática e se discutia o pico da procura que devia ocorrer. (...) “Era um bocado arrogante”, porque, de facto, nos últimos 35 anos, a procura esteve sempre a subir. Só em dois destes anos declinou, disse Costa e Silva.

O gerente da petrolífera observa que as companhias já estão a fazer "cortes brutais" nas despesas de investimento e nas despesas operacionais, uma revisão da estrutura de custos. Mas, além disso, Costa e Silva prevê que "vai haver também uma revisão grande do portefólio de projetos” em que estão envolvidas, sobretudo, daqueles “com altos custos de produção e alta intensidade de carbono", porque "é evidente que a indústria face a esta situação vai ter mais dificuldades em atrair investimento e em atrair capital".

E como esta é uma crise global e o consumo de petróleo vai durante muito tempo ser baixo e a recuperação “muito lenta”, as companhias ainda terão de fazer mais do que isto para se manterem.

Costa e Silva defende que as empresas vão precisar também de se reconverterem e passarem a ser "companhias de multienergia":

"Já digo há muito anos que esta é única maneira de as companhias sobreviverem no futuro. Têm que investir mais nas energias renováveis, participar nos segmentos da eletricidade, diversificar os seus portefólios, apostar em novas tecnologias, tem que eventualmente crescer e competir na parte da mobilidade, sobretudo na elétrica", afirmou, dando o exemplo da própria Partex que há muitos anos decidiu deixar de ser apenas uma empresa de petróleo e gás e passou a ser uma empresa multienergia.

Quanto à decisão da Galp de suspender a atividade das suas refinarias, Sines e Matosinhos, neste contexto de pandemia, Costa e Silva considera que “faz todo o sentido” e acrescenta mesmo, num tom irónico, que as companhias que não fizeram isso arriscam-se a “ter de pagar” para encontrar alguém que lhes fique com os combustíveis.

Já sobre o facto de os acionistas da Galp terem aprovado esta sexta-feira em assembleia-geral a distribuição de dividendos e prémios aos administradores e trabalhadores da petrolífera portuguesa num contexto de recessão e de uma pandemia imprevisível, António Costa e Silva disse apenas que não faria comentários.
Golfo Pérsico e Rússia “vencedores”
O presidente executivo da Partex considera que os países do golfo Pérsico e a Rússia serão os "vencedores", num contexto de preços do petróleo baixos, enquanto países como Brasil e Angola perdem atratividade para investimentos na produção, afirma.

"Vai haver um colapso muito grande no mundo da procura e é evidente que quem vender petróleo e gás a preços mais baixos e mais competitivos serão os vencedores. E estes serão tradicionalmente os países do Golfo Pérsico, com custos de produção muito baixos, e a Rússia", afirmou Costa e Silva na entrevista à agência Lusa.

“Há vantagens e inconvenientes neste cenário global, mas claramente os grandes produtores mundiais do Golfo Pérsico e a Rússia serão ganhadores", rematou.

Ao contrário, "muitos dos outros países que têm custos de produção mais elevados, como a Argélia, ou têm problemas muito difíceis de fragmentação política, como a Líbia, o Iraque, a Venezuela - que está numa situação extremamente crítica- e países como a Nigéria e Angola, que têm muita da sua produção 'off-shore' [em mar], e em que já não tem havido investimento nos últimos anos, (…) vão ter bastantes mais dificuldades para se continuarem a afirmar no mercado mundial", considerou Costa e Silva.

Angola, que aderiu recentemente à OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], "nem sequer conseguiu produzir ao nível da quota estabelecida, isto é, a sua produção, já muito sacrificada hoje, vai ser mais com a falta de investimento", assinalou.

Quanto ao Brasil, o gestor da Partex considera-o um caso “muito complexo”
:

"O Brasil é um produtor de petróleo e de gás, mas tem problemas e constrangimentos muito grandes. E não podemos esquecer que muita da produção é 'offshore' [no mar] que é sempre mais cara do que 'on-shore' [em terra]".

Costa e Silva prevê, por isso, que a queda da procura será "prenunciada" e depois haverá "uma recuperação extremamente lenta". Por isso, "vamos ter 2020, 2021 e provavelmente 2022 de preços relativamente baixos" do petróleo, afirmou, até porque o consumo mundial depende muito da mobilidade e o que "este novo coronavírus veio trazer é uma restrição total da mobilidade".

c/ Lusa
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