"Ocupação" é uma viagem pelo fazer teatral, pela história do S. Luiz e pela cidade

por Lusa

Lisboa, 22 abr (Lusa) -- Um espetáculo evocativo e uma viagem poética sobre o fazer teatral é como a responsável do Teatro do Vestido, Joana Craveiro, definiu "Ocupação", trabalho que concebeu, dirige e estreia na quarta-feira, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa.

A realizar ao longo do espaço de todo o teatro e sobre ele, "Ocupação" tem por objetivo levar o espectador a "perder-se" num percurso que Joana Craveiro não revela de antemão, mas que será conduzido por grupos de cinco atores, segundo a diretora do Teatro do Vestido.

"Ocupação" resulta do convite que a diretora artística do S. Luiz, Aida Tavares, endereçou à dramaturga, atriz e encenadora, para que concebesse um trabalho alusivo ao 125.º aniversário do teatro, que se assinala no próximo dia 22 de maio.

"Boa noite! Bem-vindos!", assim começa "Ocupação", concebido para 65 pessoas/espectadores, por sessão, repartidas em grupos de 13, seguindo depois em percurso por vários espaços do teatro, com algumas cenas comuns, para os diferentes grupos.

À mesa, a receber os atores estarão sempre Olga, Irina e Masha, as protagonistas de "As três irmãs", da peça homónima do dramaturgo russo Anton Tchekhóv.

Para construir "Ocupação", com que Joana Craveiro quer "ocupar" todo o Teatro S. Luiz - ou o máximo de espaços possíveis num edifício que mantém outros espetáculos em cartaz -, a atriz, diretora artística e fundadora do Teatro do Vestido começou por lançar um desafio público com o qual pretendia ouvir pessoas que lhe contassem histórias sobre esta casa de espetáculos.

Apesar de as respostas obtidas não terem sido muitas, algumas foram "cruciais", pelo que acabaram por ser integradas no projeto, com a `anonimização` das personagens que terão nomes como x ou y, à semelhança do que acontece com o filme "O Último Ano em Marienbad" (1961), de Alain Resnais, um percurso fragmentário pela memória, e cuja sensação de fluidez e por vezes de ambiguidade inspira e perpassa ao longo de quase todo o espetáculo.

Memórias de atores, do Teatro do Vestido e da Companhia Maior, como Carlos Nery e Maria Emília Castanheira, presentes no elenco, e de outros, foram igualmente utilizadas nesta peça-percurso que continua em construção até à estreia e que Joana Creaveiro considerou "um bocadinho anárquica".

"Boa noite, bem-vindos, não sabemos bem (...) onde" é o "ponto de partida" desta viagem, com "um sentido de descoberta" que é "uma espécie de metáfora para uma espécie de trabalho sobre um espetáculo", observou a encenadora.

Joana Craveiro - que em 2001 fundou o Teatro do Vestido e desde então o dirige - está "mais interessada em saber que paisagens poéticas" consegue construir com os seus textos, "na relação com a memória, do que fazer espetáculos institucionais", disse, sublinhando ser também esta a matriz que deu origem a "Ocupação".

E porque muitas vezes a história que as pessoas têm para contar nem sempre é a que se espera à partida nem sobre o que se quer ouvir - como Joana Craveiro diz ter aprendido na "escavação da memória", em que consiste muito do seu trabalho -, a diretora artística não excluiu nenhum dos testemunhos, mesmo que não tivessem a ver com o que inicialmente previra, confessou.

As memórias dessas pessoas "também estão presentesn na peça, de uma maneira ou de outra, mesmo que seja só uma frase. Achei que essas pessoas tinham o direito de ficar, pois tinham respondido ao repto", frisou.

Foi assim, exemplificou, que "O último ano em Marienbad" - que Joana Craveiro gostava de ver projetado no todo ou em parte durante as representações - acabou por surgir em "Ocupação".

"É como `O Último Ano em Marienbad`", indicou, citando uma entrevista de preparação, em que uma mulher lhe falou deste filme de Resnais, escritor por Robbe-Grillet, como "uma metáfora para a memória", já que a história que a protagonista conta não correspondia à memória do marido sobre o mesmo acontecimeto.

Mestres de cerimónia e um `maître` de hotel, à semelhança do que acontece naquela obra cinematográfica, são também figuras de "Ocupação", onde a memória do S. Luiz enquanto teatro acaba por se tornar "residual".

Com direção, conceção e texto de Joana Craveiro, "Ocupação" tem interpretação de Alexandra Freudhental, Ana Lúcia Palminha, Carlos Fernades, Carlos Nery, Daniel Moutinho, Elisabete Rito, Estêvão Rosado, Francisco Madureira, Gustavo Vicente, Inês Minor, Inês Rosado, João Ferreira, João Silvestre, Lavínia Moreira, Mafalda Pereira, Maria Emília Castanheira, Maria João Baião, Rosinda Costa, Simon Frankel, Tânia Guerreiro, Tozé Satos, Vera Bibi e Violeta d`Ambrósio.

A assistência de encenação é de Daniel Moutinho e João Ferreira, que também apoiaram a investigação.

A música é de Francisco Madureira, os figurinos, de Tânia Guerreiro, a cenografia, de Carla Martinez e, o desenho de luz, de João Cachulo.

A peça, com uma duração de cerca de três horas, vai estar em cena até 30 de abril, com sessões às 21:00. No domingo, dia 28, após o espetáculo, haverá uma conversa com os artistas.

 

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