"A desigualdade mata". Dez homens mais ricos do mundo duplicaram fortunas durante a pandemia
A Oxfam Internacional revela que os dez homens mais ricos do mundo viram a sua riqueza mais que duplicar desde o início da pandemia. Por outro lado, os rendimentos de 99 por cento da população mundial diminuíram desde março de 2020, conclui a organização. Nos últimos dois anos de pandemia houve "mais um bilionário a cada 26 horas, enquanto 160 milhões de pessoas caíram na pobreza", destaca a organização não-governamental.
Como habitual, a Oxfam divulga o relatório anual sobre a desigualdade por altura do Fórum Económico Mundial, em Davos, onde se costumam reunir os principais empresários e líderes políticos mais poderosos do mundo.
Este ano, devido à variante Ómicron, o evento presencial acabou por ser adiado e, em substituição, decorre por estes dias a semana da “Agenda de Davos”, com diálogos virtuais entre vários protagonistas do setor económico, político e tecnológico.
A divulgação do documento neste momento procura precisamente captar as atenções das elites para os problemas de desigualdade.
“Há um novo bilionário quase todos os dias desde o início desta pandemia, enquanto 99 por cento da população mundial está pior devido aos confinamentos, às quebras do comércio e do turismo, com mais de 160 milhões de pessoas empurradas para a pobreza. Algo está profundamente errado com o nosso sistema económico”, afirma Danny Sriskandarajah, diretor executivo da Oxfam no Reino Unido.
De acordo com a Oxfam, a desigualdade provoca a morte de pelo menos 21.300 pessoas por dia, o que significa que uma pessoa morre por questões de desigualdade a cada quatro segundos. As principais causas elencadas pela organização são a falta de acesso a cuidados de saúde, fome e violência doméstica.
Desde março de 2020, mês em que foi declarada a pandemia, há mais 160 milhões de pessoas a viver com menos de 5,50 dólares por dia.
Este ano, para além das formas de desigualdade pré-existentes que se agudizam, a organização destaca as diferenças gritantes no acesso à vacinação contra a Covid-19, com o “apartheid das vacinas” em prol dos lucros das grandes farmacêuticas e dos países mais ricos, destaca a Oxfam.
“Em alguns países, os mais pobres têm quase quatro vezes mais possibilidades de morrer de Covid-19 do que os mais ricos. Pessoas com origem no Bangladesh tiveram cinco vezes mais probabilidade de morrer de Covid-19 em comparação com a população branca britânica em Inglaterra, durante a segunda vaga da pandemia”, realça o relatório.
O relatório da Oxfam é particularmente crítico em relação aos grandes bilionários do mundo. “Uma pequena elite de 2.755 bilionários viu as suas fortunas a crescer ainda mais durante a Covid-19 do que no total dos últimos 14 anos”, destaca a organização. Esta é o maior aumento anual de riqueza entre os mais poderosos desde que há registos, acrescenta-se.
A Oxfam Internacional analisa com mais pormenor a fortuna de 10 dos homens mais ricos do mundo, segundo a listagem da revista Forbes: Elon Musk, Jeff Bezos, Bernard Arnault e família, Bill Gates, Larry Ellison, Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Steve Ballmer e Warren Buffet.
Todos viram aumentar as suas posses de forma significativa desde março
de 2020, mas nenhum deles como Elon Musk, fundador da Tesla, que obteve
um crescimento de 1000% na sua fortuna.
Como solução para as desigualdades, a Oxfam propõe precisamente taxar a riqueza dos grandes bilionários a nível mundial.
“Por exemplo, um imposto único de 99 por cento sobre os ganhos durante a Covid-19 aos dez homens mais ricos iria gerar 812 mil milhões de dólares”, estima a Oxfam, o que seria suficiente para ajudar um total de 80 países no combate às alterações climáticas, bem como alargar os cuidados de saúde. Só este valor permitiria ainda garantir o acesso equitativo às vacinas contra a Covid-19 no mundo.
“Se estes homens perdessem 99,999 por cento da sua riqueza amanhã, eles continuam a ser mais ricos do que 99 por cento da população deste planeta”, estima a diretora executiva da Oxfam Internacional, Gabriela Bucher.