"A desigualdade mata". Dez homens mais ricos do mundo duplicaram fortunas durante a pandemia

por Andreia Martins - RTP
No último ano, Elon Musk (Tesla, SpaceX) ultrapassou Jeff Bezos (Amazon) como o homem mais rico do mundo, segundo os cálculos da revista Forbes. Mike Blake - Reuters

A Oxfam Internacional revela que os dez homens mais ricos do mundo viram a sua riqueza mais que duplicar desde o início da pandemia. Por outro lado, os rendimentos de 99 por cento da população mundial diminuíram desde março de 2020, conclui a organização. Nos últimos dois anos de pandemia houve "mais um bilionário a cada 26 horas, enquanto 160 milhões de pessoas caíram na pobreza", destaca a organização não-governamental.

Como habitual, a Oxfam divulga o relatório anual sobre a desigualdade por altura do Fórum Económico Mundial, em Davos, onde se costumam reunir os principais empresários e líderes políticos mais poderosos do mundo.

Este ano, devido à variante Ómicron, o evento presencial acabou por ser adiado e, em substituição, decorre por estes dias a semana da “Agenda de Davos”, com diálogos virtuais entre vários protagonistas do setor económico, político e tecnológico.

A divulgação do documento neste momento procura precisamente captar as atenções das elites para os problemas de desigualdade.

“Há um novo bilionário quase todos os dias desde o início desta pandemia, enquanto 99 por cento da população mundial está pior devido aos confinamentos, às quebras do comércio e do turismo, com mais de 160 milhões de pessoas empurradas para a pobreza. Algo está profundamente errado com o nosso sistema económico”, afirma Danny Sriskandarajah, diretor executivo da Oxfam no Reino Unido.

O relatório “Inequality Kills” (A Desigualdade Mata) vem a público esta segunda-feira para denunciar o que designa de “violência económica”, ou seja, as escolhas políticas e económicas de cariz estrutural, que acabam por beneficiar os mais ricos e poderosos.

De acordo com a Oxfam, a desigualdade provoca a morte de pelo menos 21.300 pessoas por dia, o que significa que uma pessoa morre por questões de desigualdade a cada quatro segundos. As principais causas elencadas pela organização são a falta de acesso a cuidados de saúde, fome e violência doméstica.

Desde março de 2020, mês em que foi declarada a pandemia, há mais 160 milhões de pessoas a viver com menos de 5,50 dólares por dia.

Este ano, para além das formas de desigualdade pré-existentes que se agudizam, a organização destaca as diferenças gritantes no acesso à vacinação contra a Covid-19, com o “apartheid das vacinas” em prol dos lucros das grandes farmacêuticas e dos países mais ricos, destaca a Oxfam.

“Em alguns países, os mais pobres têm quase quatro vezes mais possibilidades de morrer de Covid-19 do que os mais ricos. Pessoas com origem no Bangladesh tiveram cinco vezes mais probabilidade de morrer de Covid-19 em comparação com a população branca britânica em Inglaterra, durante a segunda vaga da pandemia”, realça o relatório.

O relatório da Oxfam é particularmente crítico em relação aos grandes bilionários do mundo. “Uma pequena elite de 2.755 bilionários viu as suas fortunas a crescer ainda mais durante a Covid-19 do que no total dos últimos 14 anos”, destaca a organização. Esta é o maior aumento anual de riqueza entre os mais poderosos desde que há registos, acrescenta-se.

A Oxfam Internacional analisa com mais pormenor a fortuna de 10 dos homens mais ricos do mundo, segundo a listagem da revista Forbes: Elon Musk, Jeff Bezos, Bernard Arnault e família, Bill Gates, Larry Ellison, Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Steve Ballmer e Warren Buffet.

No total, o conjunto de riqueza destes bilionários passou de 700 mil milhões de dólares para 1,5 biliões desde março de 2020.
Todos viram aumentar as suas posses de forma significativa desde março de 2020, mas nenhum deles como Elon Musk, fundador da Tesla, que obteve um crescimento de 1000% na sua fortuna.
Como solução para as desigualdades, a Oxfam propõe precisamente taxar a riqueza dos grandes bilionários a nível mundial.

“Todos os governos deveriam tributar de imediato os ganhos obtidos pelos super-ricos durante este período de pandemia, a fim de recuperar esses recursos e alocá-los para ajudar o resto do mundo”, sugere.

“Por exemplo, um imposto único de 99 por cento sobre os ganhos durante a Covid-19 aos dez homens mais ricos iria gerar 812 mil milhões de dólares”, estima a Oxfam, o que seria suficiente para ajudar um total de 80 países no combate às alterações climáticas, bem como alargar os cuidados de saúde. Só este valor permitiria ainda garantir o acesso equitativo às vacinas contra a Covid-19 no mundo.

Mesmo com esta taxa de 99 por cento, os dez maiores bilionários do mundo ficariam, entre eles, com mais 8 mil milhões de dólares do que tinham antes da pandemia, calcula a organização.

“Se estes homens perdessem 99,999 por cento da sua riqueza amanhã, eles continuam a ser mais ricos do que 99 por cento da população deste planeta”, estima a diretora executiva da Oxfam Internacional, Gabriela Bucher.
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