Agricultores portugueses organizam bloqueios de estradas

por RTP
Mohammed Badra - EPA

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) está a preparar bloqueios de estradas em várias regiões do país, com reuniões, concentrações, marchas lentas e manifestações, como forma de protesto para reivindicar melhores rendimentos.

Num contexto em que vários agricultores bloqueiam as estradas em França há vários dias, também os agricultores portugueses também prometem uma vaga de protestos. Segundo o Jornal de Noticias, está previsto o bloqueio das principais fronteiras e outras passagens a partir desta quinta-feira.

As ações estão previstas a partir das 2h00 em Trás-os-Montes, com o bloqueio de todas as fronteiras, no Minho o corte da fronteira de Valença, nas Beiras o bloqueio da fronteira de Vilar Formoso e de outras pequenas fronteiras ao longo da raia beirã.
No Alentejo, está planeada a deslocação para as fronteiras do Caia, no concelho de Elvas, e do Retiro, perto de Badajoz, bem como para Olivença, Mourão e Ficalho (Baixo Alentejo), no Algarve o bloqueio de Castro Marim e, em Alcácer do Sal, corte da A2 e avanço para Pegões, no Ribatejo está preparado o corte da A2, no sentido Lisboa-Porto e em Montemor o bloqueio da A6 no nó de Montemor e da estrada que vai para Sines, para cortar acesso ao porto.O movimento de associações de agricultores realiza estes protestos regionais “com vista à construção de caderno de reclamações, com medidas concretas que um novo Governo possa implementar", de acordo com uma nota da CNA publicada na sua página da Internet.

Por sua vez, a Confederação de Agricultores de Portugal (CAP) reuniu durante a manhã o Conselho de Presidentes para debater a crise do setor.

Já a CNA está esta quarta-feira reunida em Bruxelas com a REPER – Representação Permanente de Portugal e quinta-feira com os deputados portugueses no Parlamento Europeu.

A decisão para avançar com os protestos foi tomada na terça-feira pela Confederação Nacional de Agricultores, numa reunião em que se debateu a situação dos agricultores portugueses depois dos cortes nas ajudas da PAC. O ponto de rutura foi o corte de 35 por cento nas ajudas à agricultura biológica.

A notícia dos corte nas ajudas surgiu no dia em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou o lançamento do Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Agricultura.
As reivindicações dos agricultores

Entre as várias reivindicações estão a "melhoria dos rendimentos dos agricultores, preços justos à produção, com proibição de que se pague abaixo do custo de produção, e escoamento dos produtos com incentivo aos circuitos curtos de produção".

Os agricultores pedem também proteção através da a regulação do mercado. Querem o fim dos “tratados de livre comércio" que abre a porta a produtos de outros países da União Europeia, que não cumprem as mesmas regras sociais e ambientais o que cria uma concorrência desleal.

Segundo a CNA, "a concretização do Estatuto da Agricultura Familiar, a alteração do PEPAC (programa de aplicação da Política Agrícola Comum em Portugal), maior justiça na distribuição das ajudas, definição de limites máximos por exploração, reversão dos cortes nas ajudas dos pequenos e médios agricultores e atribuição das ajudas só a quem produz".

O movimento de agricultores considera também que estão “subjugados ao quero, posso e mando” da grande distribuição que paga a preços miseráveis e um sistema de ajudas injusto e cada vez mais complexo põem em causa milhares de explorações, não só em Portugal, mas em toda a Europa”.

Exigem no imediato “que o Ministério da Agricultura garanta que os agricultores, em circunstâncias idênticas às do ano anterior, e até um máximo de 25 mil euros de ajuda, não são prejudicados pelas opções do Governo, nem que para isso se tenha de recorrer a medidas extraordinárias de caráter nacional".

Os protestos começaram nos Países Baixos e espalharam-se por França, Alemanha, Polónia e Roménia. A confederação afirma também que os protestos dos agricultores em toda a Europa têm contextos e realidades diferentes, “mas em todos eles existe um ponto comum: o rendimento dos agricultores, ou seja, o dinheiro que no final da campanha fica para os agricultores”.

Por toda a Europa assiste-se a um crescente bloqueio de estradas. As três principais organizações agrícolas espanholas já aderiram ao movimento de protesto dos agricultores europeus com mobilizações em todo o país durante as próximas semanas.
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