Comissão CGD. Armando Vara recusa-se a falar sobre Vale do Lobo

por RTP
Tiago Petinga, Lusa

O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos Armando Vara defendeu perante os deputados da comissão parlamentar de inquérito à CGD que o banco público "não teve qualquer intervenção nas 'guerras' do BCP". O também ex-ministro recusou ainda desenvolver a questão do financiamento ao empreendimento de Vale do Lobo. Vara justificou a decisão com o facto de ser um dossier que faz parte de um processo em fase de instrução na Operação Marquês.

O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Armando Vara foi ouvido esta sexta-feira na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão do banco, depois de os deputados terem recusado o seu pedido para não comparecer no parlamento.Armando Vara, detido desde janeiro após condenação no processo Face Oculta, foi nomeado administrador da CGD em 2006 para a equipa presidida por Carlos Santos Ferreira, tendo ambos transitado para o BCP em 2008.

Armando Vara, antigo ministro Adjunto e da Juventude e Desporto do segundo Executivo Guterres, é um dos 28 arguidos da Operação Marquês.


Para a escusa de comparência no Parlamento, Armando Vara invocou a atual situação em que se encontra, a cumprir pena de prisão em Évora por tráfico de influência, no âmbito do processo Face Oculta. Razões que, sublinhou, o impediam de se preparar para uma audição perante os deputados da comissão de inquérito.

O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Armando Vara sublinhou que o banco público "não teve qualquer intervenção nas 'guerras' do BCP", durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD.

A Caixa "nunca teve qualquer intervenção nas guerras do BCP", garantiu hoje Armando Vara aos deputados, rejeitando que tenha existido qualquer "assalto" ao banco privado e que a CGD até quis vender as ações que tinha do BCP.

"E só não saímos mais, porque Paulo Teixeira Pinto (então presidente do BCP) deu conta que a Caixa estava a vender e pediu a (Carlos) Santos Ferreira (então presidente da CGD) para discutir o tema", revelou Armando Vara, acrescentando que o banco público não via "vantagem em ter uma participação daquela dimensão num concorrente".

De acordo com o ex-ministro socialista, Paulo Teixeira Pinto disse que "não era o melhor tempo" para vender uma posição no BCP, "porque ter a Caixa como acionista era uma proteção contra a OPA (do BCP sobre o BPI, à data)", tendo pedido que o banco público ficasse com "pelo menos 1%".

Armando Vara disse ainda que, quando saiu da CGD para o BCP, em 2008, o banco público tinha "menos de 5%" de ações do banco privado.

Questionado pelo deputado do PSD Virgílio Macedo sobre o facto de a Caixa ter concedido crédito às sociedades ligadas ao empresário José Berardo para aquisição de ações do BCP, aumentando a sua exposição indireta ao banco privado, Armando Vara disse que as operações foram votadas por um "órgão colegial".

"Essas operações, quase todas, foram votadas por todo o conselho de crédito. Eu não enjeito responsabilidades nessas decisões, mas todos fazíamos parte de um órgão colegial, onde as decisões se tomavam sempre por consenso", disse Vara, acrescentando que "bastava que um elemento do conselho de administração desse sinal de algum desconforto para que a operação parasse, ficasse para a reunião seguinte ou até que a pessoa ficasse mais descansada em relação à operação".

Armando Vara disse ainda que foi ele "que teve a iniciativa da decisão de ir saindo do BCP" e que o banco público tinha capacidade financeira para emprestar 500 milhões de euros.
Vara recusa questões sobre Vale do Lobo
O ex-administrador da Caixa manteve no Parlamento a posição de não responder a questões sobre o financiamento ao empreendimento de Vale do Lobo. Vara justificou esta decisão com o facto de este ser um dossier que faz parte de um processo em fase de instrução na Operação Marquês.

"Não irei responder a perguntas relacionadas sobre o financiamento a Vale do Lobo", afirmou Armando Vara logo na intervenção inicial na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD.

"Entendo que para salvaguarda dos meus direitos de defesa, e também de dever, não devo, por ora, me pronunciar sobre o processo Vale do Lobo", acrescentou Vara.

Abrindo uma exceção a este silêncio, Armando Vara disse apenas que em Vale do Lobo "todos os processos regulamentares foram cumpridos" – e que o financiamento foi aprovado "com agrado geral e sem qualquer objeção" – por parte do Conselho de Administração da Caixa.
Longo processo, longa lista
Dos arguidos deste processo foram já ouvidos na comissão parlamentar de inquérito à CGD Joaquim Barroca (ex-administrador do grupo Lena) e Diogo Gaspar Ferreira (ex-administrador de Vale do Lobo).

Em 29 de maio foi dado a conhecer que o ex-primeiro-ministro José Sócrates, também arguido na Operação Marquês, responderá por escrito às questões dos deputados da comissão.

Na Operação Marquês estão também envolvidos Ricardo Salgado, Carlos Santos Silva, Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Bárbara Vara (filha de Armando Vara), Helder Bataglia, Rui Mão de Ferro e Gonçalo Ferreira, empresas do grupo Lena (Lena SGPS, LEC SGPS e LEC SA) e a sociedade Vale do Lobo Resort Turísticos de Luxo.

Além de ser ex-administrador da Caixa, Armando Vara está implicado na Operação Marquês, no âmbito do processo de concessão de crédito ao empreendimento de Vale do Lobo, sustentando a acusação do Ministério Público que Vara terá recebido um milhão de euros para favorecer as condições do crédito ao 'resort'.

Em 16 de abril, na sua audição na comissão parlamentar, o antigo diretor de empresas sul da CGD Alexandre Santos disse que recebeu um 'e-mail' de Vara para avaliar o projeto.

"Como é público recebi um 'email' do administrador do pelouro à data (Armando Vara) para estudar o dossier, remeti o dossier para estudo da área comercial onde estava o financiamento", disse.

Alexandre Santos disse ainda que "percentualmente, face aos pedidos de financiamento, financiamentos que entram por via dos senhores administradores são ínfimos, comparando com o que é normal, que é serem pela via local, do cliente".


c/ Lusa
Tópicos
pub