Espanha veta despedimentos devido à pandemia

por RTP
Um funcionário deixa à porta uma encomenda em El Masnou, a norte de Barcelona, Espanha, dia 26 de março de 2020 em plena pandemia de covid-19 Reuters

O Governo espanhol aprovou esta sexta-feira medidas que impedem os empresários de usar a pandemia de covid-19 para despedir empregados. Em todo o país, as empresas e negócios praticamente pararam devido à imposição de medidas de isolamento social e o encerramento definitivo parece a muitas extremamente provável.

Duas das maiores centrais sindicais espanholas estimaram que a crise poderá levar à perda permanente de um milhão de empregos, só no mês de março e sem contar com os trabalhadores dispensados temporariamente.

Num Conselho de Ministros extraordinário, a ministra espanhola do Trabalho, Yolanda Diaz, frisou que os empregadores devem recorrer aos programas de layoff entretanto implantados, conhecidos como ERTEs, em vez de despedir pessoas.Recorrer a "justa causa" para justificar um despedimento é agora proibido em Espanha.

"Estou a pedir aos empregadores que deem o exemplo, que hajam responsavelmente com as pessoas e mantenham o emprego", apelou a ministra.

"Não se pode usar a covid-19 para despedir pessoas", resumiu.

A Espanha regista o segundo maior número de mortes por covid-19, a seguir a Itália. Entre quinta e sexta-feira, o número de óbitos cresceu 19 por cento, para um total de 4 858.

Apesar de tudo, a contabilidade traz consigo alguma esperança. "Em termos percebtuais, o aumento de hoje equivale relativamente ao dos últimos três dias, no que nos parece uma clara estabilização", referiu o responsável pelos serviços de emergência espanhois, Fernando Simon, em consferência de imprensa.

A decisão do executivo para balizar a dispensa de funcionários, deverá tornar improcedentes quaisquer despedimentos entretanto verificados e justificados pela pandemia.

A ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, justificou a decisão, ressaltando que o governo construiu "um amplo mecanismo para que as empresas possam tirar proveito da ERTE".

O Governo decretou ainda um parêntesis nos contratos temporários afetados pela suspensão do emprego consagrados nas ERTE, enquanto durar o estado de emergência.

Depreende-se de referências por parte do Conselho de Ministros, que, uma vez esta termine, o contrato seja retomado no ponto em que estava.

O Executivo espanhol estabeleceu também um mecanismo para aprovar rapidamente apoios às pessoas afetadas por suspensões.

Apesar da avalanche de ERTEs causada pela pandemia nas últimas semanas, os despedimentos e o fim dos contratos a prazo multiplicaram-se.

Quinta-feira, depois de preverem a perda de um milhão de trabalhadores, o CCOO e a UGT pediram ao Governo que proibisse os despedimentos, ao que o Executivo de Pedro Sanchez anuiu.

Nesse mesmo dia, o Governo eliminou durante o período de emergência sanitária o despedimento por força maior, como causas económicas, técnicas, organizativas e de produção causadas pelo covid-19.
Improcedentes ou nulos

O texto do decreto ainda não foi publicado, pelo que não se conhece a moldura legal que permita perceber se os despedimentos serão considerados judicialmente improcedentes ou nulos.

O primeiro implica uma indemnização do trabalhador por cada 33 dias de ano de trabalho, enquanto o segundo prevê o regresso ao seu posto de trabalho após a decisão do juiz.Fontes do Ministério do Trabalho garantiram ao El País que, por norma geral, os despedimentos serão considerados improcedentes.

O objetivo da proibição, afirmaram tanto a ministra das Finanças e porta-voz, María Jesús Montero, como a ministra do Trabalho, é fazer com que os ajustes laborais a que as empresas recorram durante a crise se façam por via das suspensões de empregos.

Até agora, foram já afetados por estas medidas 1,5 milhões de trabalhadores, o que, reconheceu a própria Diaz, avassalou os centros de emprego.
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