Estados Unidos e China travam a fundo na guerra comercial

por Carlos Santos Neves - RTP
Washington e Pequim darão início “de imediato” a “negociações sobre mudanças estruturais”, segundo a Casa Branca Kevin Lamarque - Reuters

O cair do pano sobre a cimeira do G20, em Buenos Aires, deu lugar a uma trégua entre as duas maiores economias mundiais. Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, acertaram nas últimas horas uma trégua no braço-de-ferro comercial desencadeado a partir de Washington. Ficam adiadas por 90 dias as novas taxas norte-americanas sobre produtos chineses.

Foi ao jantar, após a reunião de líderes das 20 principais economias do mundo, na capital da Argentina, que Donald Trump e Xi Jinping chegaram a um entendimento no sentido de dar início “de imediato”, segundo a Casa Branca, a “negociações sobre mudanças estruturais” em matéria de blindagem de propriedade intelectual, cibercrime e outras frentes consideradas prioritárias pela Administração Trump.
“Não serão impostas tarifas adicionais após 1 de janeiro e as negociações entre as duas partes vão continuar”, reportou a televisão estatal chinesa.

Fica assim de parte, por agora, a aplicação, a partir de 1 de janeiro de 2019, de um agravamento das tarifas alfandegárias norte-americanas sobre importações da China de dez para 25 por cento. Caso Washington e Pequim não sejam capazes de chegar a um acordo mais amplo, dentro de 90 dias, as taxas avançam. O Governo chinês assume um compromisso análogo.

Foi, nas palavras de Trump, uma “reunião produtiva” aquela que manteve com o Presidente chinês. Uma conversa, afirmou ainda o Presidente dos Estados Unidos, “que abriu possibilidades ilimitadas” para os dois países.

Ainda segundo a Casa Branca, a China terá mesmo assumido o compromisso de adquirir um volume “ainda por estabelecer”, embora “muito substancial”, de produtos dos Estados Unidos, tendo em vista reequilibrar os pratos da balança comercial. Haverá mesmo a promessa da compra “imediata” de produtos norte-americanos dos sectores agrícola, energético e industrial.

Outro ponto quente no pré-acordo entre China e Estados Unidos diz respeito ao fentanil, um poderoso analgésico associado a um aumento de óbitos por overdose em solo norte-americano. Pequim terá concordado em classificar esta substância como “controlada” e em penalizar os seus vendedores.

Em declarações a jornalistas a bordo do avião presidencial Air Force One, no regresso a Washington, Donald Trump acenou com “um acordo incrível” que terá “um impacto incrivelmente positivo na agricultura”.

“A China vai abrir-se. A China vai livrar-se de tarifas”, acrescentou.
Do consenso ao isolacionismo
A ampla sombra da guerra comercial movida pela Administração Trump, com frentes na China e na Europa, pairou sobre as discussões entre os líderes do G20 na cimeira de Buenos Aires, que decorreu entre sexta-feira e sábado.Em Buenos Aires, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou um consenso com a Arábia Saudita para dilatar o acordo bilateral sobre uma redução da produção de petróleo.

No comunicado final da cimeira, o G20 assumiu também um compromisso com a reforma da Organização Mundial do Comércio, uma estrutura encarada como “aquém dos seus objetivos”, nas palavras de um alto responsável da Administração norte-americana, citado na edição online da BBC.

A necessidade de modernizar a OMC foi, de resto, um ponto em destaque nas declarações públicas do Presidente francês, Emmanuel Macron, em Buenos Aires.

O texto que culminou o encontro de líderes faz menção a “problemas comerciais” na arena internacional, mais não vai ao ponto de reprovar as políticas protecionistas.

Já em matéria de respostas às alterações climáticas, só a delegação norte-americana decidiu excluir-se de um reiterar do apoio ao Acordo de Paris, desenhado para conter o aquecimento global. A América de Trump fez questão de deixar lavrada a sua oposição a este instrumento internacional, apesar de fazer uma apologia do “crescimento económico” e do “acesso à energia e à segurança” com recurso a “todas as tecnologias disponíveis e fontes de energia, protegendo o meio ambiente”.

O que o 45.º Presidente dos Estados Unidos não quis assinar foi a afirmação de que “o Acordo de Paris é irreversível”, assim como o compromisso “com a sua plena implementação, refletindo responsabilidades comuns, mas diferenciadas as respetivas capacidades, à luz de diferentes circunstâncias nacionais”.

c/ agências
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