Europa desencadeia contraofensiva no conflito comercial com Trump

por Carlos Santos Neves - RTP
As novas taxas, que entraram em vigor às 0h00 desta sexta-feira, constituem a resposta às tarifas aduaneiras norte-americanas para o aço e o alumínio Heino Kalis - Reuters

Os diretórios da União Europeia têm em vigor, a partir desta sexta-feira, taxas aduaneiras agravadas para dezenas de produtos dos Estados Unidos. É a resposta às políticas protecionistas adotadas pela Administração Trump. São visados produtos como o vestuário de ganga, o bourbon ou as motas Harley-Davidson.

Para a maior porção dos produtos norte-americanos atingidos pela retaliação comercial europeia está reservada uma tarifa de 25 por cento. Mas há também bens que passarão a acarretar uma taxa de 50 por cento, nomeadamente calçado, alguns tipos de vestuário e máquinas de lavar.

Bruxelas responde assim às taxas norte-americanas de 25 por cento sobre as importações de aço e de dez por cento para o alumínio.As taxas de Trump começaram a ser aplicadas às importações de produtos europeus a 1 de junho.


A comissária europeia Cecilia Malmström, com o portefólio do Comércio, reafirmara já esta semana que “a decisão unilateral” da Administração de Donald Trump não deixava “outra escolha” à União.

“As regras do comércio internacional não podem ser violadas sem reação da nossa parte”, insistiu Malmström, para acrescentar que, “se os Estados Unidos suprimirem as suas tarifas aduaneiras”, as taxas europeias serão “igualmente suprimidas”.

Recorde-se que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, havia já prometido uma resposta “clara” a uma via que “desafia toda a lógica”.

Na quinta-feira, o vice-presidente do Executivo comunitário Jyrki Katainen admitia que a escolha dos produtos norte-americanos a taxar assentara no “peso simbólico”: até “politicamente”.

“Se escolhemos produtos como as Harley-Davidson, a manteiga de amendoim, o bourbon, é porque há alternativas no mercado. Não queremos fazer nada que possa prejudicar os consumidores”, explicou, por outro lado, o número dois da Comissão.
Milhares de milhões

Um par de isenções temporárias poupou os produtos europeus ao protecionismo da atual Administração dos Estados Unidos. E Bruxelas ainda procurou manter conversações com Washington sobre as políticas comerciais. Sem sucesso: as tarifas norte-americanas começaram a ser aplicadas a partir de 1 de junho.

A União formalizou entretanto uma queixa junto da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em números, as medidas agora implementadas equivalem ao impacto das taxas dos Estados Unidos sobre as exportações europeias de aço e alumínio, que em 2017 valeram 6,4 mil milhões de euros.

O impacto das taxas da União rondará, no imediato, os 2,8 mil milhões de euros; espera-se que os demais 3,6 mil milhões sejam cobertos ao longo dos próximos três anos, partindo do pressuposto de que a Europa acabe por ver os seus interesses atendidos pela OMC.

A anteceder as medidas europeias, o México retaliou no início do mês contra as taxas da Administração Trump. O Canadá planeia fazê-lo em julho. O espectro de uma guerra comercial à escala mundial é ainda adensado pela tensão crónica entre Washington e Pequim.

c/ agências internacionais
Tópicos
pub