Governo. Questionário de verificação tem 36 perguntas, recua a três anos e abrange família

por RTP
Miguel A. Lopes - Lusa

Foi publicado esta sexta-feira, em Diário da República, o questionário de verificação prévia a preencher por nomeados para cargos de ministro ou secretário de Estado. São 36 perguntas que abarcam os últimos três anos de atividade, alargando-se ao agregado familiar. Os partidos da oposição encaram o mecanismo aprovado em Conselho de Ministros como uma inutilidade.

As 36 perguntas constam de um anexo à resolução do Conselho de Ministros, já publicada em Diário da República. Repartem-se por cinco áreas: atividades atuais e anteriores; impedimentos e conflitos de interesses, situação patrimonial, situação fiscal e responsabilidade penal.

Perguntas que respondem a situações que, nas últimas semanas, conduziram a demissões no Governo. 

Nas questões 13 e 14, a título de exemplo, a personalidade convidada deve responder se "exerceu, nos últimos três anos, funções em entidades públicas ou em que o Estado tenha posição relevante" e se nesse mesmo período "foi beneficiário de qualquer tipo de incentivo financeiro ou incentivo fiscal, de natureza contratual, concedido por entidade pública nacional ou da União Europeia". 

Se responder afirmativamente, deve adiantar "qual a função que exerceu e em que entidade" e "qual a causa da cessação da função, e se, por força dessa cessação, recebeu qualquer tipo de compensação que, atenta a nomeação para o cargo que é proposta/o, deva devolver, total ou parcialmente", assim como " o benefício concedido; a origem do benefício concedido; bem como a entidade que concedeu o benefício".

No que toca à situação patrimonial, pergunta-se pelos rendimentos de origem nacional - referentes à última declaração de IRS - e se "tem rendimentos de origem estrangeira" e "contas bancárias sediadas no estrangeiro", para apurar eventual recurso a paraísos fiscais. 

Em caso afirmativo, é preciso indicar "a respetiva origem, em especial se esses rendimentos provêm de países, territórios ou regiões com um regime fiscal claramente mais favorável, bem como a entidade pagadora" e também "a origem dos rendimentos subjacentes à aquisição desse património".  Outras perguntas visam apurar se o candidato "está insolvente" e se "alguma empresa na qual deteve capital social e/ou foi administrador nos últimos três anos está insolvente".

Em matéria de responsabilidade penal, quem é convidado a exercer funções governativas deve informar sobre condenações "por qualquer infração penal ou contraordenacional" de que tenha sido alvo pessoalmente e também das condenações aplicadas a pessoa coletiva cujos corpos integra ou integrou ou que tenha gerido ou detido.

De acordo com fonte do Governo, citada pela agência Lusa, esta pergunta abrange coimas da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ou do Banco de Portugal. 

Neste capítulo, pergunta-se também se o candidato "tem qualquer tipo de processo judicial, contraordenacional ou disciplinar pendente em que esteja direta ou indiretamente (envolvendo algum dos membros do seu agregado familiar) envolvida/o" e ainda se "tem conhecimento de que seja objeto de investigação criminal qualquer situação em que, direta ou indiretamente, tenha estado envolvido".Questionário é destruído se candidato não prosseguir
A resolução do Executivo estipula que o questionário é secreto e deve ser destruído em caso de não nomeação ou cessação de funções.

A destruição e o caráter secreto das respostas ao questionário, segundo fonte do Governo, destina-se à salvaguarda de quem é candidato a funções executivas.

Em caso de proposta e nomeação, os novos membros do Governo estão sujeitos às respetivas obrigações legais, incluindo a declaração de património, rendimentos, interesses e impedimentos às quais este mecanismo não se substitui.

A mesma fonte do Governo acrescentou que "este é apenas um instrumento de avaliação política e que envolve quem está no circuito de nomeação".

Os convidados para o governo declaram, "sob compromisso de honra", perante o primeiro-ministro ou o ministro da tutela, "a veracidade dos dados preenchidos e anexados, desde já autorizando que estas informações possam ser partilhadas com S. Ex.ª o Presidente da República e/ou o primeiro-ministro, sem prejuízo de esclarecimentos complementares que possam ainda vir a ser solicitados".

Na exposição de motivos da resolução do Conselho de Ministros, refere-se que o procedimento adotado consiste numa "ferramenta de avaliação política”.

"Este mecanismo não substitui nem antecipa o cumprimento das obrigações declarativas previstas na lei, as quais visam assegurar a declaração, em regra pública, do património, rendimentos, interesses e impedimentos dos titulares de cargos políticos e altos cargos públicos, que fica sujeita ao escrutínio das entidades legalmente competentes", enfatiza o documento.Evitar surpresas e reforçar confiança
Na conferência de imprensa que se seguiu à última reunião do Conselho de Ministros, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, afirmou que este novo mecanismo vai servir para evitar surpresas e reforçar a confiança nos governantes.


Já a oposição considera que o questionário aprovado pelo Governo não resolve nenhum problema. Da esquerda à direita, os partidos questionam a utilidade e a eficácia da medida.
Entendem que fica aquém do que é preciso para evitar o aparecimento de novos casos suspeitos no Governo.

c/ Lusa
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