Guerra aduaneira à vista com taxas de Trump sobre o aço e o alumínio

por RTP
Um trabalhador do produtor de aço alemão Salzgitter AG em frente a uma fornalha da fábrica da empresa em Salzgitter, Alemanha. Reuters

Da União Europeia ao Canadá, passando por Pequim, as reações indignadas sucedem-se, desde que Donald Trump anunciou o agravamento dos impostos à importação de alumínio e de aço, de 10 e de 25 por cento, respetivamente. Trump já respondeu: "as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar".

A intenção foi revelada quinta-feira, durante uma reunião de Trump com produtores americanos do setor siderúrgico. O Presidente norte americano disse que irá "promulgar para a semana que vem" taxas aduaneiras de 25 por cento para o aço e de 10 por cento para o alumínio.

"E elas serão aplicadas durante muito tempo", acrescentou Donald Trump, sem contudo revelar que países serão visados especificamente. A omissão deixou meio mundo aos pulos e fez tremer os mercados.

As principais bolsas europeias abriram no vermelho arrastadas pela queda das ações dos setores automóvel e do preço do aço e do alumínio.

Pequim apelou ao "respeito das regras" do comércio internacional e recomendou aos Estados Unidos para "refrearem" a utilização de medidas protecionistas. Esta manhã, a chanceler alemã Angela Merkel, pediu à União Europeia uma "reação firme".

A União Europeia garantiu que “vai reagir firmemente e proporcionalmente para defender os (seus) interesses”. Uma garanta de Jean-Claude Juncker, acrescentando que nos próximos dias a Comissão Europeia vai apresentar uma proposta de medidas de resposta contra os Estados Unidos, para “reequilibrar a situação”.

"Lamentamos fortemente" esta decisão norte-americana, reagiu Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia.

"Em vez de facilitar uma solução, esta decisão só pode agravar as coisas. Não vamos ficar de braços cruzados enquanto a nossa indústria é atingida por medidas injustas", acrescentou.

Perante as reações mundiais, Donald Trump respondeu pelo Twitter.

"As guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar", escreveu o presidente norte-americano, acresecentando que os Estados Unidos perdem milhares de milhões de dólares com praticamente todos os países com quem faz negócio.

Uma “guerra comercial” entre a Europa e os Estados Unidos “só trará perdedores”, retorquiu o ministro francês da Economia Bruno Le Maire. O ministro considerou que as medidas, se se concretizarem como foram anunciadas, são “inaceitáveis” e trarão um “enorme impacto” sobre a economia europeia. Por isso, Le Maire pede uma resposta forte, coordenada e unida da União Europeia.
Automóveis mais caros
Foi sobretudo nos setores da siderurgia e de construção automóvel mundial que o anúncio de Trump provocou ondas de choque. Depois dos anos dourados de vendas desde 2009, o mercado de viaturas novas na América registou uma retração em 2017, com as vendas a diminuírem cerca de dois por cento, para as 17,23 milhões de unidades. O ano corrente já se anunciava ainda pior.

A japonesa Toyota, que tem nos Estados Unidos o seu maior mercado, com mais de 2,4 milhões de veículos ali vendidos em 2017, já alertou para a mais que provável subida do preço dos veículos, arrastado pelo aumento dos custos em consequência do agravamento das taxas.

"Mais de 90 por cento do aço e do alumínio que compramos [para o mercado americano] provém dos próprios Estados Unidos", sublinhou o grupo, num comunicado enviado às agências.

"No entanto, a decisão do Governo de impor taxas significativas sobre o aço e o alumínio vai ter um impacto negativo nos construtores de automóveis, os fornecedores e os consumidores, ao aumentar consideravelmente os custos e por isso o preço dos veículos e dos camiões vendidos na América", alertou.
UE admite retaliar
A União Europeia reagiu com preocupação. "Lamentamos profundamente" esta decisão norte americana, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em comunicado.

"Em vez de trazer uma solução, esta decisão só pode agravar as coisas", alertou Juncker.

"Não ficaremos de braços cruzados enquando a nossa indústria é atingida por medidas injustas", acrescentou.

"A UE dará início o mais rapidamente possível a consultas sobre o regulamento de diferendos com os Estados Unidos", em Genebra, onde está sediada a Organização Mundial do Comércio, OMS, referiu por seu lado no mesmo comunicado a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström.

O gabinete da comissária admite eventuais retaliações, se as indústrias dos Estados membros da UE sofrerem as implicações da decisão proteccionista norte-americana.
"Inaceitável"
Já o Canadá, principal fornecedor de aço e de alumínio dos Estados Unidos, sublinhou que "qualquer tarifa ou quota que seja imposta à nossa indústria canadiana do aço e do alumínio será inaceitável". Foram palavras do ministro canadiano do Comércio Internacional François-Philippe Champagne.

"Os Estados Unidos têm um excedente de dois mil milhões de dólares no comércio de aço com o Canadá", fez notar por seu lado a ministra dos Negócios Estrangeiros, Chrystia Freeland.

O Governo canadiano advertiu ainda que a decisão poderá vir a prejudicar fortemente a siderurgia norte-americana.

O sindicato norte americano das siderurgias, o United Steelworkers (USW), já veio aliás exigir que as importações do Canadá sejam excluídas das novas tarifas.

"Claramente, o Canada não é um desses 'maus atores' no comércio injusto e de dumping do alumínio e do aço contra os EUA", referiu.
Alemanha exige soluções
Também a associação da poderosa siderurgia alemã, Stahl, denunciou "medidas que violam as regras da Organização Mundial do Comércio" e exigiu a intervenção da União Europeia.

"Se a Europa não agir, a nossa siderurgia vai pagar a conta do proteccionismo americano", alertou em comunicado o seu presidente, Hans Jürgen Kerkhoff.

A chanceler alemã Angela Merkel fez eco destas exigências esta manhã e apelou a União Europeia a ter uma "reação firme" às mais recentes propostas de Donald Trump.

Já a reação britânica, prudente quanto ao futuro pós-Brexit, veio pela embaixada do Reino Unido em Washington.

"Expressamos claramente a nossa extrema inquietação com qualquer medida que possa ter consequências sobre o aço do Reino Unido e as suas indústrias de alumínio", indicou em comunicado, revelando estar a debater o assunto com os norte-americanos.
"Impacto grave"
Já Pequim, o segundo maior parceiro comercial dos Estados Unidos, apelou ao "respeito" pelas regras internacionais e convidou o país a "refrear" os seus impulsos protecionistas.

O anúncio de Trump coincide com uma visita aos Estados Unidos de Liu He, um dos conselheiros mais próximos do Presidente chinês, Xi Jinping, precisamente para aplainar diferendos comerciais entre os dois países.

O aumento das taxas americanas não deverá pesar na balança comercial entre os dois países, já que a China, responsável por cerca de metade da produção mundial de aço, suprime apenas dois por cento das necessidades norte-americanas no sector siderúrgico.

Especificamente, o alumínio representa 0,87 por cento das exportações chinesas para os EUA e as do aço e de ferro 0,14 por cento, no máximo.Pequim tem sido por seu lado acusada pela União Europeia e pelos EUA de proteger a indústria chinesa de produção de aço e de alumínio, que inunda o mercado com excedente de produção e faz cair os preços.

A atitude proteccionistas dos EUA poderá contudo ser o rastilho para fazer explodir de irritação os chineses, que acusam os EUA de dumping noutros setores comerciais e de "proteccionismo".

Pequim advertiu que tomará as "medidas necessárias" para defender os seus exportadores, embora ainda não mencione retaliações aduaneiras. 

"A China pede aos Estados Unidos para refrearem o seu recurso a medidas protecionistas e a respeitarem as regras do comércio multilateral", disse Hua Chunying, uma porta voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

"Se outros países lhe seguem o exemplo, isso terá um impacto grave na ordem comercial", acrescentou, lembrando ainda que os Estados Unidos garantem já "uma proteção excessiva" aos seus produtores nacionais de aço e de alumínio, depois de terem adotado "mais de uma centenas de contra-medidas" sobre as importações americanas nestes setores.
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