Janeiro: A vitória do Syriza que tudo mudou para que nada se alterasse

O ano de 2015 fica marcado pela ascensão do Syriza ao poder. O partido de Alexis Tsipras venceu as eleições em janeiro e impôs uma agenda que dominou parte considerável do ano. Entre promessas e cedências, festejos e desilusões, revisitamos as semanas que se seguiram ao dia 25 de janeiro de 2015.

25 de janeiro de 2015. Dois milhões, duzentos e quarenta e seis mil e sessenta e quatro eleitores helénicos votam no Syriza. O partido de extrema-esquerda obtém mais de 36 por cento dos votos e conquista 149 lugares no Parlamento helénico. Coliga-se com os Gregos Independentes e obtém a maioria. Alexis Tsipras chega a primeiro-ministro.

A Grécia regozija-se. A esquerda festeja. A Europa treme.


José Rodrigues dos Santos, Sérgio Ramos - RTP (26 de janeiro)

Na noite da vitória, Alexis Tsipras anuncia o “fim da troika” e proclama aquela que diz ser uma “vitória de todos os povos da Europa”. Perante a noite de festa, tudo parece estar feito. Como se os mais de dois milhões de votos no Syriza apagassem as dificuldades, como se fossem suficientes para apagar a dívida e a pobreza. Naquela noite, o sucesso estava garantido.

Hoje sabemos que faltava o mais difícil, o que não chegou a ser conseguido. Cumprir as principais promessas eleitorais e convencer a Europa da necessidade de mudar. Começava então o longo périplo de Tsipras e Varoufakis pelos corredores de Bruxelas.

A vitória de Tsipras dá-se a 25 de janeiro e o líder do Syriza toma posse logo no dia seguinte. A transição de poder é controversa, com a imprensa a dar conta de que a equipa de Samaras, antecessor de Tsipras, dificultou o processo: desapareceram as passwords, não houve aperto de mão. Até os sabonetes se evaporaram.

Os olhos de todo o mundo passam a estar em Atenas. O mundo familiariza-se com as novas vedetas da política helénica: o primeiro-ministro Alexis Tsipras, engenheiro civil de profissão, sem gravata e de colarinho aberto, e o ministro das Finanças Yanis Varoufakis, verdadeira rockstar da nova Grécia, controverso e sempre a postos para desafiar Berlim.

O Governo do Syriza não deixa ninguém indiferente. Os partidos mais à esquerda e economistas como Paul Krugman apreciam e veem uma nova oportunidade para a Europa. Os credores avisam que, promessas à parte, há regras que são para cumprir. Um grupo ao qual se juntam os governos conservadores, nomeadamente o português e o espanhol. A proposta de Tsipras é “um conto de crianças”, profetiza Passos.


Isabel Marques da Costa, Paulo Martins, Pedro Pessoa - RTP (26 de janeiro)

Em Atenas, avançam as primeiras medidas do executivo de Alexis Tsipras. O primeiro-ministro aumenta o salário mínimo, anuncia a criação de um programa de ajuda social aos que foram mais afetados pela crise no país e a recontratação dos trabalhadores da função pública que foram despedidos.

Entretanto, prolongam-se as negociações. Reuniões de Eurogrupo em Bruxelas, conselhos europeus, visitas a Atenas, périplos pelas capitais europeias e muito jogo de bastidores e do diz que disse. O futuro da Grécia joga-se em vários tabuleiros e todos brincam com o calendário. Um com as datas limites para os reembolsos, outros com aproximações a Moscovo. Regressa-se ainda ao passado para recordar as reparações de guerra devidas pela Alemanha.

O Executivo de Alexis Tsipras começa por defender que a troika não é interlocutor válido e rejeita solicitar um prolongamento do programa de resgate. Atenas aposta num prolongamento do empréstimo e na criação de todo um novo programa de assistência financeira. A União Europeia deseja prolongar o segundo programa de resgate.

Perante o debate, tempo há ainda para que Jean-Claude Juncker admita que a troika pecou contra a dignidade de portugueses, gregos e irlandeses. O presidente da Comissão Europeia defende que é preciso rever o modelo para não repetir os erros do passado.

Mas a troika prevalece. Atenas acaba por ir cedendo a partir do fim de fevereiro. Começa por pedir um prolongamento do financiamento por seis meses, aceitando a manutenção da supervisão da troika mas sem novas medidas de consolidação. Insuficiente, na opinião das autoridades europeias.

A 20 de fevereiro, o Eurogrupo aceita prolongar o programa de assistência por quatro meses. Em troca, o Governo grego deve apresentar um conjunto de reformas a implementar. O Governo helénico proclama vitória. A oposição grega e alguns elementos do Syriza avisam que nada parece ter mudado, apenas questões semânticas.

“A mudança do nome da troika para 'instituições', do 'memorando' por 'acordo' e dos 'credores' por 'parceiros' não altera nada a realidade anterior”, escreve Manolis Glezos, eurodeputado do Syriza.

Atenas apresenta as suas propostas de reforma e cede, sobretudo, no processo de privatizações. O Governo compromete-se a não voltar atrás nas privatizações já realizadas. Os processos em curso deverão ser reavaliados. A luz verde definitiva dos ministros das Finanças da Zona Euro chega a 24 de fevereiro, após uma reunião por teleconferência.

O programa é prolongado por quatro meses. Março. Abril. Maio. Junho. Em julho, as negociações regressarão em força. A Grécia estará à beira da saída da Zona Euro. Mas ficará por cá.


António Esteves Martins, Pedro Escoto - RTP (15 de agosto)

O resultado é pouco surpreendente para um processo altamente longo. Em poucos meses, o Syriza cresceu e venceu. Confrontou a Europa. Perdeu a luta e fragmentou-se quando confrontado com a inevitabilidade da austeridade europeia. Voltou a vencer nas urnas perante os gregos. O outrora radical Alexis Tsipras transformou-se somente num outro líder europeu.

O controverso Varoufakis divorciou-se do executivo para se manter fiel ao seu pensamento. Atenas tornou-se na capital da antiausteridade. Esquecera-se o mundo que é em Bruxelas e Berlim que reside o poder.


Paula Veran - Antena 1 (28 de agosto)

Quase um ano depois, mostram os cálculos que os gregos ficaram sujeitos a ainda mais austeridade. Apesar das consequências, nada apaga o fenómeno em se tornou o 25 de janeiro de 2015. O dia em que tudo mudou para que, no fim de contas, tudo ficasse na mesma.

As eleições legislativas na Grécia, realizadas a 25 de janeiro, tiveram como grande vencedor o Syriza de Alexis Tsipras. Uma vitória inédita para um partido que conheceu grande ascensão pela postura anti-austeridade, contra as políticas da União Europeia. Em dia de festa, os gregos celebram o início de uma nova etapa marcante e incerta para a política nacional e europeia.