"Motores não podem ficar parados". Itália prepara fase II do combate

por Inês Moreira Santos - RTP
Luca Zennaro - EPA

Nos últimos dias, Itália tem registado uma diminuição significativa no número de mortos e de novos casos identificados com Covid-19. O país europeu mais afetado pela pandemia prepara-se agora para entrar na fase dois do combate ao novo coronavírus.

O país superou, na terça-feira, as 17 mil mortes por causa do novo coronavírus, com o registo de 604 óbitos desde o balanço das autoridades italianas na segunda-feira, estando em decréscimo, no entanto, o número de contágios e de pessoas hospitalizadas.

"A curva atingiu um pico e começou a descer", disse Silvio Brusaferro, diretor do Instituto Superior de Saúde, o principal instituto de saúde em Itália.

"É um resultado que temos que alcançar dia após dia", acrescentou. "Se isto for confirmado, precisamos de começar a pensar na segunda fase e manter os números na propagação desta doença".

Embora a saúde pública esteja no topo das preocupações, o Governo italiano não esquece o impacto desta pandemia na economia do país.

O ministro italiano da Saúde, Roberto Speranza, delineou uma série de medidas, incluindo mais testes e um sistema de saúde local reforçado, quando começou o decréscimo no número de vítimas da Covid-19. O objetivo é permitir um alívio gradual até que uma vacina possa ser desenvolvida.

"Há meses difíceis pela frente. A nossa tarefa é criar condições para conviver com o vírus", pelo menos até que a vacina seja desenvolvida, disse ao jornal La Repubblica.
Fase dois: em que consiste?

Numa reunião com o comité técnico-científico, o primeiro-ministro Giuseppe Conte deixou claro que "a proteção da saúde permanece no topo, mas os motores do país não podem permanecer desligados por muito tempo".

Preocupado "com a estabilidade psicológica dos cidadãos, a ordem pública e o impacto do encerramento da economia", Conte quer preparar o país para entrar na segunda fase da batalha contra a Covid-19.

A "fase dois" pode começar já a 4 de maio e os hábitos diários em Itália vão ter que mudar radicalmente, avisa o Governo.

É a condição necessária para Itália poder começar de novo, depois de uma quarentena longa. A recuperação pode vir a ser lenta e gradual, mas a estratégia para controlar a propagação do vírus não muda.

Para começar, de forma gradual, serão impostos turnos para o trabalho e turnos para entrar em lojas, mercearias e superfícies comerciais, assim como, distância de segurança e dispositivos de proteção obrigatórios para quem tem contato direto com o público.

As viagens e as grandes deslocações vão continuar suspensas, mas o Governo pretende dar "luz verde" para a reabertura de algumas empresas.

"Não podemos arriscar que a curva da epidemia suba novamente, porque não podemos dar-nos ao luxo de recomeçar", disse Conte, ciente de que a "fase dois da emergência" só pode começar em maio.

"Temos que começar preparar-nos para alguma flexibilização, porque o bloqueio não pode durar muito e a suspensão da atividade económica deve ser mantida o mais baixo possível".
Medidas de contenção da segunda fase
Além de ser obrigatório o uso de materiais de proteção - como máscaras e luvas - e de manter o distanciamento social, e de serem reforçados os sistemas de saúde e de rastreio da Covid-19, as empresas que abrirem nesta fase têm de garantir as medidas de segurança.

Os escritórios e as empresas de diversos setores devem garantir a presença mínima de pessoas. Por isso, os trabalhadores podem retomar às suas funções desde que estejam distribuídos por turnos e usem material de proteção individual. Ainda assim, o trabalho a partir de casa, sempre que possível, continuará a ser priveligiado.

Também nas lojas, espaços comerciais e centros de estética as regras vão mudar.

À semelhança do que acontece agora, em pleno estado de emergência, os clientes não podem entrar nas lojas sem garantir a sua segurança e a das restantes pessoas à sua volta. É necessário restringir o número de clientes dentro de cada estabelecimento, sendo obrigatório estes continuarem a fazer filas para entrar, ordenamente, nas lojas, supermercados e farmácias.

Tanto clientes como funcionários devem proteger-se com máscara e outros equipamentos de proteção, estando os funcionários também obrigados a trabalhar por turnos.

Nos cabeleireiros e centros de estética, por exemplo, será necessário fazer uma marcação prévia de forma a garantir que, no estabelecimento, estão apenas duas pessoas: o cliente e o funcionário.

O objetivo de "elaborar um programa na "fase dois", com a ajuda de especialistas em modelos de trabalho organizacional, sociólogos, psicólogos, estatísticos" é conseguir criar "modelos de coexistência com o vírus", segundo o primeiro-ministro italiano.

Embora algumas empresas possam reabrir, com novas medidas de contenção, os especialistas não aconselham a reabertura das escolas e outras instituições de ensino até setembro.

Um dos critérios para a proibição de viagens está relacionado com a proteção de certos grupos mais suscetiveis, sendo, por isso, estabelecidos limites para idosos ou pessoas com doenças subjacentes.

Mantendo encerrados jardins de infância, escolas e universidades, o governo consegue evitar deslocações e contacto, e a contenção da propagação do vírus, entre cerca de 12 milhões de pessoas: oito milhões e meio de estudantes, um milhão de professores, além dos pais.

Outra medida desta segunda fase, será "fortalecimento das estratégias de rastreio de contactos e assistência digital com o uso de novas tecnologias".

Assim, através de uma aplicação digital, o Ministério da Saúde vai ser capaz de identificar os contactos próximos de pessoas infetadas pelo novo coronavírus e controlar o estado de saúde dos pacientes durante a quarentena, por exemplo, monitorizando os batimentos cardíacos e a oxigenação do sangue.
Conter propagação para evitar novos contágios

A curva epidémica e os dados de novos contágios são a bússola do Governo de Conte. O objetivo é retomar gradualmente, mas evitar novos contágios e voltar à "estaca zero" e a mais "bloqueios".

Livrarias e papelarias são dos primeiros setores a poderem retomar a atividade, assim como as áreas consideradas de "baixo e médio risco", como a agricultura, a construção e determinados setores comerciais.

Já os funcionários de hoteis, cantinas e restauranres e até cabeleireiro, são considerados de "alto risco", pela proximidade com o público, tendo, por isso, mais limitações para reabrir.

"O país ainda está a atravessar por uma fase de emergência, mas a curva parece ter estabilizado e estamos a começar a ter sinais positivos. Agora podemos pensar na segunda fase , mas sempre numa abordagem de máxima prudência, cautela e gradualemente", lembrou o primeiro-ministro na reunião com o comité técnico-científico.

Por isso, a "fase dois da emergência" vai ter duas etapas: primeiro as empresas, depois os cidadãos.

"Para recomeçar, é necessário definir novas formas de organizar a vida social e profissional, para poder abrandar as medidas e preparar o reinício dos motores do país", argumentou Giuseppe Conte.
Tópicos
pub