Oito anos depois. Grécia despede-se dos resgates mas austeridade perdura

por Carlos Santos Neves - RTP
Em oito anos, o PIB grego emagreceu em aproximadamente um quarto e a taxa de desemprego disparou, a partir de 2013, para os 27,5 por cento Marko Djurica - Reuters

Ao cabo de oito anos de sucessivos e draconianos pacotes de austeridade, o Governo grego e os diretórios europeus colocam esta segunda-feira um ponto final ao terceiro e último programa de assistência financeira ao Estado helénico. O que não significa que o país possa desviar-se da linha que lhe foi traçada a partir de 2010.

“O tempo da austeridade terminou, mas o fim do programa não é o fim do caminho para as reformas”. A declaração é do comissário europeu para os Assuntos Económicos e foi proferida na véspera da despedida oficial dos programas de assistência da Grécia. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, marcou uma intervenção televisiva para terça-feira, o primeiro dia após os resgates.


É um claro sinal amarelo de Bruxelas que, na prática, se traduz na exigência de manutenção das políticas até aqui impostas ao Ministério grego das Finanças, mesmo que se privilegie agora um vocabulário menos áspero.

O semáforo mostra, de resto, a mesma cor no seio do banco central da Grécia. Em entrevista ao jornal grego Ekathimerini, o governador Yannis Stournaras advertia no domingo que o país teria ainda de percorrer “um longo caminho”.

Depois de Portugal, República da Irlanda, Espanha e Chipre, a Grécia é o último país a sair de programas internacionais de assistência financeira. Os cofres públicos do país receberam do triunvirato de credores – Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu – um total de 289 mil milhões de euros distribuídos por três pacotes implementados em 2010, 2012 e 2015.

As contrapartidas foram dolorosas. Em oito anos, o Produto Interno Bruto grego emagreceu em aproximadamente um quarto e a taxa de desemprego disparou, a partir de 2013, para os 27,5 por cento. E continua, no presente, a rondar os 20 por cento.

No momento de carimbar a saída, o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, procurou já esta segunda-feira reconhecer “o esforço extraordinário do povo grego”, mas também a “boa cooperação com o atual Governo” de Alexis Tsipras, hoje distante da matriz de contestação à troika que o levou em 2015 ao poder, ao lado do antigo ministro das Finanças Yanis Varoufakis.

Rosa Azevedo - Antena 1

Mais vermelho do que amarelo, o sinal acendido pelo FMI pende sobre o peso da dívida soberana: os 180 por cento do PIB são, para a instituição encabeçada por Christine Lagarde, insustentáveis a prazo.
“Asfixia” ou “história de êxito”?

O Governo grego calcula que as necessidades de financiamento do Estado estejam cobertas até ao termo de 2022, acenando assim com o que considera ser uma margem de conforto para a abordagem pós-resgates aos mercados.

Em junho, quando já se vislumbrava o fim do ciclo de programas de assistência, Tsipras arriscava a promessa de políticas de maior “justiça social”. O jornal To Vima resumiu nas últimas 24 horas o sentimento dominante entre os críticos do primeiro-ministro, ao escrever que “os planos de ajuda acabaram, mas nem as correntes nem a asfixia”.

Filipe Silveira - RTP

A esperança dos diretórios de Bruxelas é a de que a narrativa de “uma história de êxito”, nas palavras do diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Regling, se sobreponha, nos próximos dias, à exaustão grega.

“Há algum tempo nada faria crer que Portugal, Espanha, Irlanda e Chipre seriam histórias de êxito. Refiro-me sempre a estes países como as nossas quatro histórias de sucesso. Agora poderei incluir a Grécia neste grupo”, clamou Regling, no domingo, ao diário grego News247.

O verdadeiro horizonte da Grécia foi descrito a 4 de julho, diante do Parlamento Europeu, pelo ministro português das Finanças, sucessor de Jeroen Dijsselbloem à frente do bloco ministerial da moeda única. Centeno avisava então que, uma vez saídos dos programas, os gregos teriam de manter uma “política orçamental prudente” debaixo de uma “vigilância reforçada”.

c/ agências
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