Os três concorrentes de Mário Centeno na corrida ao Eurogrupo

por Sandra Salvado, Andreia Martins - RTP
Rafael Marchante - Reuters

A caminhada até à presidência do Eurogrupo conta com quatro candidatos, entre os quais o ministro português das Finanças, anunciou esta quinta-feira o Conselho da União Europeia. Além de Mário Centeno são candidatos à sucessão de Jeroen Dijsselbloem, o eslovaco Peter Kazimir, a letã Dana Reizniece-Ozola e o luxemburguês Pierre Gramegna. A escolha do futuro presidente do Eurogrupo, por voto secreto, decorre na próxima segunda-feira em Bruxelas.

"A eleição do novo presidente terá lugar em 4 de dezembro, através de uma votação por maioria simples (…) O vencedor será anunciado aos ministros no final da votação e apresentado na conferência de imprensa do Eurogrupo, imediatamente a seguir", informou o Conselho da União Europeia em comunicado.

O prazo para entrega de candidaturas, de acordo com os termos definidos pelas autoridades europeias, terminou esta quinta-feira. O Eurogrupo prepara-se para eleger o terceiro presidente da sua história. Apesar de supostamente ser um fórum informal, foram muitas as decisões importantes tomadas durante a crise económica e financeira. Mas este órgão tem sido criticado pela falta de transparência.


Será eleito assim o sucessor do holandês Jeroen Dijsselbloem, que em janeiro de 2013 sucedeu àquele que foi o primeiro presidente do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro, Jean-Claude Juncker, o atual presidente da Comissão Europeia.Quem são os candidatos?
Mário Centeno - Portugal

Mário Centeno está no topo da lista de favoritos à presidência do Eurogrupo. O ministro das Finanças tem o apoio das quatro maiores economias da zona euro (Alemanha, Espanha, França e Itália) e o Financial Times diz mesmo que é o candidato com mais hipóteses de conquistar o lugar.

Ministro das Finanças desde 26 de novembro de 2015, Mário Centeno nasceu a 9 de dezembro de 1966, em Olhão, tendo-se licenciado em Economia no ISEG, em Lisboa, onde é professor catedrático. Casou com uma colega do ISEG e teve três filhos.

O seu currículo no portal do Governo informa que Centeno teve diversos cargos relevantes: membro do Comité de Política Económica da Comissão Europeia (2004-2013); presidente do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento das Estatísticas Macroeconómicas, no Conselho Superior de Estatística (2007-2013); professor catedrático do ISEG; membro do Editorial Board do Portuguese Economic Journal (desde 2001); membro do Executive Committee da European Association of Labor Economists (2003-2005).

Tem um longo currículo académico: é licenciado em Economia (1990) e mestre em Matemática Aplicada (1993) pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, e mestre (1998) e doutorado (1995-2000) em Economia pela Harvard University, nos Estados Unidos. Alcançou mesmo 20 valores no exame de entrada na faculdade. Domina também o inglês, francês e italiano e tem boa compreensão do alemão.

Foi premiado internacionalmente pelas suas investigações sobre o mercado de trabalho, a primeira em 2001, quando recebeu o Young Economist Award, da European Economic Association, visando distinguir trabalhos de investigação de economistas com menos de 30 anos ou com o doutoramento concluído há menos de três anos; e a segunda em 2006 quando lhe foi outorgado o Scientif Merit Award, da União Latina.

Mário Centeno foi ainda muito ativo no domínio associativo e desportivo. O ministro das Finanças jogava râguebi na equipa do ISEG quando esta se encontrava na 1ª Divisão, na posição de ponta.

Pierre Gramegna - Luxemburgo

Pierre Gramegna tem 59 anos, nasceu a 22 de abril de 1958 na cidade de Esch-sur-Alzette, a sul do Luxemburgo, na fronteira com França.

Estudou Economia e Direito em Paris, na Universidade Pantheon-Assas, associada à conceituada Sorbonne, especializando-se em Direito Civil e em Ciências Económicas já nos anos 80.

Detém desde dezembro de 2013 a pasta das Finanças, mas começou o seu percurso no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em 1983 foi conselheiro económico e político da Embaixada luxemburguesa em Paris, cargo que ocupou até 1993.

Nos anos seguintes foi Cônsul geral e diretor do Conselho de Desenvolvimento Económico em São Francisco, nos Estados Unidos. A juntar a toda esta experiência, foi ainda Embaixador do Luxemburgo no Japão e na Coreia do Sul entre 1996 e 2002.

Passou ainda pela direção do departamento de Relações Económicas no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em 2003 fixa-se definitivamente no Luxemburgo para ser diretor-geral da Câmara luxemburguesa do Comércio, cargo que ocupou até chegar a ministro das Finanças, dez anos mais tarde.

Na altura, a nomeação para o Governo da coligação Bettel–Schneider - entre Partido Democrata (liberal), o Partido Socialista (LSAP) e os Verdes - constituiu uma surpresa, já que sempre se tinha afastado dos meandros da política. Filiou-se no partido liberal poucos dias após assumir o cargo de ministro das Finanças.

Como ministro das Finanças, Gramegna encetou várias reformas importantes para reequilibrar o Orçamento e alinhar a economia luxemburguesa com as regras fiscais e os padrões internacionais de transparência. Foi ele o responsável pela criação do Fundo Soberano do Luxemburgo.

Com tanta experiência no mundo diplomático e económico, era natural que o Financial Times apontasse Pierre Gramegna como favorito na corrida à liderança do Eurogrupo, isto quando a intenção de Centeno ainda não era conhecida.

O jornal referia que o ministro luxemburguês representava “um sério candidato” a assumir a liderança do Europrupo, muito devido à vasta experiência. Tal como Jeroen Dijsselbloem, Kazimir não faz parte do Partido Popular Europeu, a maior família política europeia, o que pode constituir uma desvantagem importante.

Ainda assim, um dos principais defeitos da sua candidatura está mesmo no país de origem, uma vez que Jean-Claude Juncker, ex-primeiro-ministro luxemburguês, já ocupa o lugar de presidente da Comissão Europeia desde 2014. É pouco provável que dois dirigentes de um país pequeno ocupem, simultaneamente, dois dos lugares de topo junto da União Europeia.

Dana Reizniece-Ozola - Letónia

É a única mulher a entrar na corrida ao Eurogrupo. Dana Reizniece-Ozola é letã, tem 36 anos, quatro filhos, fala seis línguas e é ministra das Finanças desde o início de 2016, pelos Verdes.

Dana Reizniece-Ozola nasceu a 6 de novembro de 1981 em Kuldīga. Trabalhou como Presidente da Comissão de Educação, Cultura e Ciência, foi Membro da Comissão de Assuntos Jurídicos e Membro da Comissão de Assuntos Europeus.

É casada com Andris Ozols, diretor da Agência de Investimento e Desenvolvimento da Letónia.

Há quatro anos Dana Reizniece-Ozola opos-se à adoção da moeda única no país mas, a Letónia acabaria por ser o sexto dos "novos" Estados-membros (os 12 países que aderiram à União Europeia em 2004 e 2007) a adotar o euro como moeda, depois de Eslovénia (2007), Chipre e Malta (2008), Eslováquia (2009) e Estónia (2011) já se terem juntado a Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal.

Na altura, os observadores sublinharam, contudo, a existência de fortes reticências por parte dos cerca de dois milhões de letões à introdução da moeda única, que substituiu o lats, a divisa nacional nacional criada em 1993 para substituir o rublo da era soviética.

Como curiosidade, destaca-se o facto da candidata da Letónia ter sido campeã de xadrez durante vários anos nos mais diversos campeonatos. Há um ano, já ministra, bateu mesmo a chinesa Hou Yifan, campeã mundial, na quarta volta de um torneio da modalidade que se realizou em Bacu, na capital do Azerbaijão.

Peter Kazimir  - Eslováquia

O eslovaco Peter Kazimir tem 49 anos, nasceu a 28 de junho de 1968 em Košice, uma das maiores cidades no leste da Eslováquia, uma zona urbana “no meio de nada”, como viria mais tarde a confessar. Mudou-se para a capital para estudar na Faculdade de Negócios da Universidade de Economia, em Bratislava.

Antes de trabalhar como secretário de Estado das Finanças do país entre 2006 e 2010, foi consultor fiscal num escritório de advogados e passou por várias empresas.

Depois de dois anos como deputado, assume desde 2012 o lugar de ministro das Finanças naquele país, integrando o Governo do primeiro-ministro Robert Fico do partido social-democrata SMER-SD que, apesar de ter ficado aquém de uma maioria absoluta, se manteve no poder após as eleições de março de 2016.

Ficou conhecido nos últimos anos pela posição forte na gestão e controlo das finanças públicas e do défice na Eslováquia desde que assumiu a pasta, mas sobretudo pela intransigência em relação à Grécia, quandoa saída do país da zona euro esteve iminente, em 2015.

Um socialista conservador, tal como Dijsselbloem, assume-se como pouco flexível para com países que violem regras e normas orçamentais.

Em maio último, Peter Kazimir recorria a uma metáfora peculiar para expor o problema do populismo da Europa. Para o ministro eslovaco, tratava-se de uma “lasanha do mal”, com várias camadas onde a agitação não foi contida, desde os media, a classe política ou mesmo a religião.

“Agora temos de a comer”, dizia o candidato em entrevista ao Financial Times, apontando para os exemplos da saída do Reino Unido da União Europeia ou a ascensão de partidos de extrema-direita em vários Estados-membros.

Não obstante comparações mais infelizes de um político que tem fama de ser pouco diplomático, a Eslováquia emergiu nos últimos anos como uma das principais potências económicas na Europa central. Em 2017, a economia eslovaca deverá crescer 3,3 por cento e o desemprego está abaixo de 8 por cento, com uma situação de emprego praticamente total junto da capital, Bratislava. Para além disso, a Eslováquia tem um dos défices orçamentais mais baixos da União Europeia.

Apesar do sucesso macroeconómico, Kazimir assume que a prevalência de desigualdades sociais – em cidades mais isoladas, o desemprego ultrapassa os 20 por cento – constitui uma das principais preocupações do Governo, talvez por ter nascido e crescido numa cidade de leste, a zona geográfica mais pobre do país.

“O maior problema deste país é a disparidade entre regiões”, afirmava então o ministro eslovaco.
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