Podem estar a ser desperdiçados 28 milhões de euros por ano em óleos alimentares usados

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Pichi Chuang - Reuters

As contas foram feitas pela associação ambientalista ZERO e apontam para um desperdício de recursos sem valorização económica que se pode situar nos 28 milhões de euros por ano. O destino dos óleos alimentares usados é muitas vezes o cano de esgoto. Por ano, 35 mil toneladas de óleos devem acabar despejadas, criando problemas para as estações de tratamento.

A associação apresentou o que chama de “retrato possível” do ciclo dos óleos alimentares usados. O possível, já que a ZERO diz ter solicitado à APA – Agência Portuguesa do Ambiente - dados sobre o destino destes resíduos e argumenta ter constatado muitas incongruências nos dados disponibilizados.

Ainda assim, a associação fez contas com base nesses dados “limitados”. E garante que 60 por cento dos óleos alimentares usados estão a ser despejados nos esgotos.

A quantidade de resíduos expectável para valorização seria de aproximadamente 58 mil toneladas, de 77 mil toneladas colocadas no mercado. De acordo com a APA, são recolhidas 23 mil toneladas, pelo que “35 mil toneladas acabam nos coletores de águas residuais (60% do total de óleos alimentares usados), estimando a ZERO que 15 mil toneladas (44% do total) de OAU [Óleos Alimentares Usados] sejam rejeitadas pelos cidadãos nos esgotos domésticos e que 19 mil toneladas (56% do total) sejam desperdiçadas pelo setor HORECA [hotéis, restaurantes e cafés]”.

Para a ZERO, isto significa que o sistema de recolha “não funciona, não só no que respeita ao setor doméstico, onde a recolha é de uns insignificantes 1,6% (253 toneladas recolhidas), enquanto a taxa do setor HORECA e do setor industrial será de 46%”, lê-se em comunicado da associação, que realça que há atividades económicas que “não cumprem a lei, já que a sua entrega a empresas licenciadas para o efeito é obrigatória”.
Pontos de recolha fora da lei
A associação diz que 51 por cento das autarquias que enviaram dados à APA não estão a cumprir a lei que obriga a instalar um determinado número de pontos de recolha consoante a população residente. Há ainda 23 municípios que não enviaram sequer os dados obrigatórios. Taxa de recolha no setor doméstico é de 1,6 por cento – apenas 253 toneladas recolhidas, diz a ZERO.

Deitar os óleos cano abaixo não faz desaparecer o problema. Pelo contrário, pode contaminar os cursos de água e fazer aumentar e muito a conta do tratamento de águas residuais.

“Constata-se pois que, pelo menos, 17 milhões de litros de OAU poderão estar a ser despejados pelos cidadãos nos esgotos domésticos, aumentando os custos do tratamento das águas residuais nas ETAR em 25% e, em muitos casos, chegando mesmo aos cursos de água, afetando a vida aquática”, reforça a ZERO.
Gerar valor em biodiesel
Face ao desperdício, a ZERO pede um maior esforço da Agência Portuguesa do Ambiente na recolha de dados, um maior esforço de fiscalização, a criação de incentivos e novas medidas para que se possa melhorar a recolha dos óleos alimentares usados.

Por outro lado, consideram ser importante reforçar a informação pública sobre a reutilização destes resíduos, sensibilizado os cidadão para que não os deitem nos esgotos e para que exijam uma recolha eficiente por parte dos municípios.

Porque estes são resíduos que podem gerar nova riqueza. Por exemplo, na transformação em biodiesel.

A associação dá o exemplo positivo da BRAVAL, sistema multimunicipal que abrange os municípios de Braga, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Amares, Vila Verde e Terras de Bouro.

Este sistema terá recolhido em 2016 73.630 litros de óleos alimentares usados, que se transformaram em 58.850 litros de biodiesel. O volume de negócios gerado foi de 34 mil euros.
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