Preços dos bens alimentares ainda vão subir e o consumidor vai sentir o impacto

por Antena1

Foto: Antena1

Os preços dos bens alimentares vão continuar a subir e o consumo já regista um abrandamento da ordem dos 15 por cento. Os retalhistas continuam a reduzir as suas margens para refletir no consumidor final apenas 35 por cento do aumento real dos custos de produção. Ainda assim, a APED espera ter um Natal idêntico ao de 2019.

Em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, o Diretor Geral da APED - Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição - Gonçalo Lobo Xavier, revelou que “o preço ainda tem espaço para aumentar" porque a escalada dos custos dos fatores de produção vai continuar, a cadeia de valor está pressionada, e o último elo dessa cadeia - o consumidor - vai sentir o impacto.

Segundo Gonçalo Lobo Xavier, nos últimos 2 meses registou-se uma redução do consumo no retalho alimentar da ordem dos 15 por cento e uma alteração no perfil do consumidor: 50 por cento dos produtos que são vendidos na área alimentar, estão em promoção. Os consumidores procuram sobretudo promoções e marcas próprias, nos retalhistas que oferecem maior poupança.

Ainda assim, o presidente da APED diz que as empresas têm esperança - e necessidade - de um bom Natal. Gonçalo Lobo Xavier acredita que será possível atingir os níveis de 2019 porque o consumidor não vai deixar de comprar, vai é fazer escolhas mais racionais em função do preço. Os receios surgem para o período pós-natal. O diretor geral da APED confessa que está preocupado com o que aí vem, que pode ser difícil de suportar.

Em relação à tributação dos lucros não esperados na distribuição, Gonçalo Lobo Xavier acredita que o governo não fez contas e que o primeiro-ministro baseou a sua decisão apenas numa perceção, porque se tivesse feito contas percebia que as empresas estão a cortar nas margens e não estão a refletir no preço final o aumento dos custos de produção. Segundo Gonçalo Lobo Xavier, o governo nunca falou com as associações ou com as empresas, nem formal nem informalmente.

Lembra que as únicas reuniões que existiram ocorreram em agosto, quando foram consultados sobre uma eventual redução do IVA, e que foram depois surpreendidos por saberem que não haveria redução nenhuma. Nessas reuniões esclareceram logo o governo que os custos dos fatores de produção estavam a ser refletidos no cliente final na ordem de 35% do aumento real, o que só é possível “esmagando” as margens de lucro.

No atual contexto a APED defende o fim da taxa de Segurança Alimentar Mais que representa todos os anos 40 milhões para o Estado e que, segundo Gonçalo Lobo Xavier, não está a ser usada para os fins que foi criada, no governo de Passos Coelho, quando Assunção Cristas era ministra da Agricultura.

Entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Hugo Neutel do Jornal de Negócios.
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