"Problemas não vão desaparecer". Mercados reagem a vermelho ao resgate do Credit Suisse

por Joana Raposo Santos - RTP
Na Europa, o índice bancário caiu 3,2%, o valor mais baixo dos últimos três meses. Denis Balibouse - Reuters

As ações internacionais caíram a pique esta segunda-feira, horas depois do anúncio da aquisição do banco Credit Suisse pelo UBS e pelo Swiss National Bank. A compra, no valor de três mil milhões francos suíços (3,04 mil milhões de euros) foi acordada pouco antes da abertura dos mercados financeiros na Nova Zelândia, Austrália e leste da Ásia.

O resgate do Credit Suisse abalou a Suíça, país conhecido por ser um centro bancário e financeiro seguro. As ações deste banco caíram mais de 60% na manhã desta segunda-feira na Bolsa de Valores de Zurique. Já as do UBS caíram mais de 8%.

Estas quedas bruscas seguiram-se a um dia de fortes vendas nos mercados financeiros asiáticos, mas o otimismo inicial dos investidores sobre os esforços para impedir uma crise bancária rapidamente se evaporou.
Em Tóquio, o índice de referência Nikkei 225 caiu esta manhã 1,42%, o equivalente a 388,12 pontos. Já em Hong Kong, as ações do Standard Chartered Plc e do HSBC caíram mais de 6%, para mínimos de mais de dois meses.

Na Europa, o índice bancário caiu 3,2%, o valor mais baixo dos últimos três meses. Depois de abrir a descer, a Bolsa de Lisboa mantinha a tendência e o principal índice, o PSI, baixou 1,50% para 5.638,18 pontos.

As bolsas de Londres, Paris e Frankfurt desciam 1,60%, 0,94% e 1,81%, bem como as de Madrid e Milão, que se desvalorizavam 2,27% e 2,48%, respetivamente.

O dia começou ainda com o Brent, o petróleo bruto de referência na Europa, a cair acentuadamente, 2,69%, para 71,06 dólares, enquanto os futuros nos principais indicadores de Wall Street antecipam perdas de mais de 1% esta segunda-feira, numa altura em que se aguarda a reunião da Reserva Federal (Fed) daqui a dois dias.
Dificuldades “não afetam bancos europeus”
Apesar da agitação nos mercados, o presidente do banco central da França, François Villeroy de Galhau, considerou esta segunda-feira que os problemas do Credit Suisse e a volatilidade no sistema bancário dos EUA "não afetam os bancos franceses e europeus".

Villeroy, que é também membro do Banco Central Europeu (BCE), elogiou ainda o UBS pela aquisição. "Eles têm modelos de negócios diversificados e lucrativos. Possuem fortes controlos de risco e, acima de tudo, têm bons níveis de liquidez e capital", explicou à rádio France Inter.

O negócio de compra do Credit Suisse, rival do UBS que estava em risco de falência devido a uma crise de confiança irremediável, foi finalizado na noite de domingo.

O Governo suíço ofereceu garantias substanciais para que o negócio prosseguisse, utilizando mecanismos de emergência com o argumento de que o colapso do Credit Suisse poderia gerar uma crise financeira não só a nível interno, mas global.

O UBS concordou em comprar o Credit Suisse por 3.000 milhões de euros, um preço que pagará apenas em ações e que avalia as ações da entidade absorvida em 40% do seu valor no fecho do último dia de negociação.
“Problemas não vão desaparecer”
Os atuais receios dos investidores dizem respeito ao possível impacto da aquisição do Credit Suisse nos detentores de títulos desse banco. A preocupação vem juntar-se às já existentes sobre o estado frágil dos bancos regionais dos EUA e sobre os desafios dos bancos centrais à medida que procuram conter a inflação e os riscos financeiros.

"É claro que, depois de mais de uma semana de pânico bancário e de duas intervenções organizadas pelas autoridades, estes problemas não vão desaparecer. Muito pelo contrário, tornaram-se já globais", alertou Mike O'Rourke, especialista em mercado na Jones.

"A aquisição do Credit Suisse vai provavelmente ampliar os seus problemas ao transferi-los para o UBS".

O casamento forçado dos dois bancos suíços é apoiado por garantias do Governo desse país, que pretende evitar aquele que seria um dos maiores colapsos bancários desde a queda do banco norte-americano Lehman Brothers, em 2008.

"É um dia histórico na Suíça e, francamente, esperávamos que este dia nunca chegasse", declarou o presidente do UBS, Colm Kelleher, após a compra. "Gostaria de deixar claro que, embora não tenhamos iniciado discussões com os nossos acionistas, acreditamos que esta transação é financeiramente atraente para eles", acrescentou.

O CEO do UBS, Ralph Hamers, disse por sua vez que ainda há muitos detalhes a serem acertados. "Sei que ainda deve haver perguntas às quais não fomos capazes de responder", disse. "Entendo e quero pedir desculpa por isso".

c/ agências
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