Trump dispara em todas as direcções, cotações em bolsa afundam-se

por RTP
Kevin Lamarque, Reuters

Ontem, o presidente norte-americano passou o dia a fazer fogo simultaneamente contra a China e contra o chefe da autoridade monetária do seu próprio país, considerado também "um inimigo". Ao fim do dia, as cotações em bolsa afundavam-se a pique.

Respondendo por Twitter ao aumento de tarifas alfandegárias chinesas sobre produtos norte-americanos, que por sua vez já eram uma resposta a um aumento de tarifas alfandegárias norte-americanas sobre produtos chineses, Donald Trump declarou que "ordena" às empresas dos EUA presentes na China que procurem alternativas para rapidamente poderem encerrar as suas actividades naquele país e incrementar a sua produção nos EUA.

Acentuando a retórica antichinesa, Trump acusou os seus antecessores de terem deixado a China roubar "triliões" de dólares e prometeu que irá parar essa sangria, concluindo bombasticamente: "Nós não precisamos da China e estamos muito melhor sem ela".




Empresas como a Boeing, a Apple, a General Motors e muitas outras seriam duramente atingidas se o presidente as submetesse a uma forte pressão para romperem completamente com a China, onde detêm investimentos muito vultosos. Geralmente, é esperada uma resistência forte de qualquer dessas empresas, se o presidente quiser realmente fazer cumprir a "ordem".

Imediatamente, o presidente dos EUA tornou-se alvo de troça, por dar "ordens" a empresas privadas com tal à-vontade. O congressista democrata Adam Schiff, respondeu sarcasticamente "ordenando-lhe" que se cale no Twitter.
Outros comentadores limitaram-se a rir a bandeiras despregadas.
E outros ainda aproveitaram-se para emitir "ordens" dos seus animais de companhia.

Mas algumas medidas mais sérias e mais graves foram também anunciadas por Trump, essas com maior impacto potencial no comportamento dos investidores e, portanto, nas cotações em bolsa: ainda durante o dia de ontem, o presidente anunciou que subirira a parada e iria proceder a mais um aumento de tarifas alfandegárias, passando as de 25 por cento para 30 por cento a partir de 1 de outubro. Outras, de 10 por cento, serão aumentadas para 15 por cento.

Como a guerra comercial com a China se está a fazer sentir na economia norte-americana, refreando o seu crescimento e aproximando-a perigosamente de um ponto de estagnação, Trump tem vindo a pressionar o Federal Reserve Bank, autoridade monetária dos EUA, no sentido de baixar drasticamente as taxas de juro, para estimular o investimento.

Acontece que o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, tem oposto certa resistência à pressão do inquilino da Casa Branca, e foi mesmo ao ponto de explicar numa entrevista que a economia não está em dificuldades por haver taxas de juro demasiado altas e sim devido à guerra comercial com a China. Trump, enfurecido, apontou-o ontem, literalmente, como "inimigo", acrescentando que não faria nada para dissuadi-lo se ele apresentasse a sua demissão.

O resultado não se fez esperar: o índice bolsista S&P perdeu só no dia de ontem 2,6 por cento; o Dow Jones perdeu 2,4 por cento; o Nasdaq perdeu 3 por cento. Algumas das grandes multinacionais da tecnologia perderam ainda mais: a Nvidia 5,3 por cento, a Apple mais de 4 por cento.
pub