Chefe da AIEA diz que Irão pode voltar a produzir urânio enriquecido dentro de "alguns meses"

O chefe da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) considera que o Irão tem capacidade técnica para voltar a produzir urânio enriquecido "dentro de alguns meses", contradizendo a afirmação de Donald Trump de que as instalações nucleares do Irão foram "totalmente destruídas".

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Lisa Leutner - Reuters

Uma semana depois dos ataques dos Estados Unidos contra as instalações nucleares do Irão, Rafael Grossi lembra que apesar dos danos, as instalações não ficaram destruídas por completo.

"Houve danos significativos, mas não completos. Podem ter (...), diria eu, dentro de alguns meses, centrifugadoras a funcionar para produzir urânio enriquecido", disse Grossi na sexta-feira em entrevista ao canal norte-americano CBS, que será transmitida este domingo.

O chefe agência da ONU contradiz as afirmações do presidente norte-americano, que garante que as instalações nucleares do Irão foram “aniquiladas” pelo ataque dos EUA.

"Francamente, não se pode afirmar que tudo desapareceu e que não há nada lá", disse Grossi. Israel atacou instalações nucleares e militares no Irão a 13 de junho, alegando que Teerão estava a produzir urânio enriquecido para construir uma arma nuclear.

Mais tarde, os EUA entraram no conflito, lançando bombas contra as instalações nucleares do Irão de Fordo, Natanz e Isfahan.

Desde então, a verdadeira extensão dos danos ao programa nuclear iraniano permanecem incertos.

Na passada quarta-feira, um relatório dos serviços secretos dos EUA, divulgada pela CNN e pelo New York Times, revelou que os bombardeamentos norte-americanos não destruíram o programa nuclear do Irão e apenas o atrasaram em alguns meses.

Donald Trump rapidamente rejeitou estas conclusões, descrevendo-as como “notícias falsas”. O presidente norte-americano garante ter “aniquilado” as instalações nucleares iranianas e afirma que infligiu um retrocesso de décadas ao programa nuclear.

Mais tarde, a CIA saiu em defesa de Trump, alegando ter “novas informações” que provam que o programa nuclear iraniano foi "severamente danificado".
Onde está o urânio enriquecido?
Outra das questões que permanece incerta é o paradeiro dos 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, que teoricamente poderiam ser utilizados para fabricar mais de nove bombas atómicas se o nível fosse aumentado para 90%.

Numa entrevista transmitida este domingo no programa "Sunday Morning Futures", da Fox News, Donald Trump garantiu que os stocks de urânio do Irão não tinham sido movimentados antes dos ataques norte-americanos.

"É algo muito difícil de fazer, e não demos qualquer aviso" antes do bombardeamento, frisou, segundo excertos da entrevista. "Não movimentaram nada", garante.

Mas os inspetores da AIEA não têm sinal destas reservas desde 10 de junho, daí os pedidos da agência da ONU para aceder aos locais e stocks iranianos. No entanto, o parlamento iraniano votou a favor da suspensão da cooperação com a AIEA e o projeto de lei foi aprovado na quinta-feira, devendo ser enviado à presidência para ratificação.

"É a lei deles, o parlamento deles, mas há aqui implicações legais. Um tratado internacional deve, naturalmente, ter precedências. Não se pode invocar uma lei nacional para evitar o cumprimento de um tratado internacional", observou Grossi.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, garantiu no sábado que os EUA “apoiam os esforços cruciais de verificação e monitorização da AIEA no Irão" e exortou Teerão a “garantir a segurança do pessoal da organização”.

O Irão critica a agência da ONU por ter adotado uma resolução a 12 de junho que acusa Teerão de incumprimento das suas obrigações nucleares. Teerão considera ainda que esta decisão serviu de "desculpa" para Israel e os Estados Unidos atacarem as suas instalações nucleares.

c/agências
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