Mundo
Guerra no Médio Oriente
Pentágono alega que ataques atrasaram programa nuclear do Irão em dois anos
O Pentágono garante ter recolhido material a sugerir que o programa nuclear do Irão sofreu um atraso de um a dois anos em resultado dos ataques dos Estados Unidos a três instalações, no mês passado.
O porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, Sean Parnell, repetiu a afirmação de Donald Trump de que as principais instalações nucleares do Irão tinham sido completamente destruídas, embora não tenha dado mais pormenores sobre a origem das avaliações.
“Atrasámos o programa nuclear do Irão em pelo menos um a dois anos. É essa a avaliação dos serviços secretos do Departamento de Defesa”, afirmou Parnell numa conferência de imprensa realizada no Pentágono.
A informação foi avançada no mesmo dia que o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), dando sequência a uma votação anterior no Parlamento.Desde os bombardeamentos norte-americanos contra as instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan, há dez dias, em apoio à ofensiva israelita, a questão da sua eficácia permanece incerta.
A descrição de Parnell dos ataques marcou uma estimativa mais medida do que as afirmações de Trump sobre o nível de destruição. Um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) de baixa confiança, com base em avaliações iniciais, disse que o programa do Irão foi atrasado vários meses.
O quadro evolutivo da gravidade dos danos causados ao programa nuclear iraniano surge numa altura em que as agências de informação norte-americanas continuam a divulgar novas avaliações, utilizando materiais que sugerem que as centrifugadoras da central de enriquecimento de Fordow foram destruídas, apesar de não ser claro se a própria central cedeu.
Os conselheiros de Trump utilizaram esse material - que inclui a utilização de vídeos captados por bombardeiros B-2, para confirmar modelos de simulação de ondas de choque e outras informações israelitas do exterior de Fordow - com o intuito de defender as afirmações de Trump, avançaram ao jornal britânico The Guardian duas fontes familiarizadas com o assunto.Os bombardeiros militares dos EUA realizaram ataques contra três instalações nucleares iranianas em 22 de junho, usando mais de uma dúzia de bombas bunker-buster de 13.600 quilos e mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Tomahawk.
A extensão dos danos causados ao programa nuclear iraniano e o destino das reservas de urânio enriquecido do país - que poderia ser rapidamente transformado numa arma nuclear - é importante porque pode ditar o tempo de atraso.
O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, admitiu, por sua vez, que os ataques à central nuclear de Fordow causaram danos graves.
"Ninguém sabe exatamente o que se passou em Fordow. Dito isto, o que sabemos até agora é que as instalações foram séria e fortemente danificadas", disse Araqchi à CBS News na passada terça-feira.
Donald Trump repete que o programa nuclear de Teerão foi “destruído” ou atrasado em “várias décadas”.
No final de junho, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, elogiou a “ação militar decisiva” que “criou as condições para acabar com a guerra” entre Israel e o Irão. “Dizimando, aniquilando, destruindo - escolha a expressão - as capacidades nucleares do Irão”, insistiu.
Mas um primeiro relatório ultrassecreto dos serviços secretos dos Estados Unidos, publicado na imprensa americana na semana passada, estabelecia que os ataques contra o Irão apenas tinham penalizado o seu programa nuclear em alguns meses, sem o destruir completamente.Segundo a Reuters, vários especialistas alertaram para o facto de o Irão ter provavelmente retirado um stock de urânio altamente enriquecido, quase de grau de armamento, do local de Fordow, profundamente enterrado, antes dos ataques, e poder continuar a usá-lo.
A avaliação preliminar da Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono, que se baseou em informações obtidas pouco mais de 24 horas após os ataques, segundo o Guardian, revelou que os danos podem ir desde a possibilidade de o Irão reiniciar as instalações com novas centrifugadoras até à necessidade de as abandonar para utilização futura.
O relatório da DIA avaliou que o programa tinha sido adiado por vários meses, embora essa conclusão tenha sido feita no chamado nível de “baixa confiança”, refletindo a natureza inicial da avaliação e a incerteza que as agências de informação têm com as conclusões iniciais.
Os conselheiros de Trump contestaram o relatório da Agência de Inteligência de Defesa e afirmaram, em privado, que a destruição das centrifugadoras, por si só, significava que tinham eliminado uma componente fundamental da capacidade do Irão para desenvolver armas nucleares e que isso atrasava o programa nuclear em anos.As batalhas em torno das conclusões das agências de informações têm estado no centro das decisões da política externa americana há décadas, desde os avisos sobre os programas de armamento do Iraque que a Administração Bush utilizou para justificar a invasão de 2003 e que mais tarde se revelaram falsos, até às alegações de que uma fuga de um laboratório chinês foi responsável pela covid.
Ainda assim, grande parte da controvérsia sobre os ataques dos EUA foi gerada pela afirmação do presidente norte-americano, Donald Trump, de que “obliteraram” as instalações nucleares do Irão, o que nenhuma agência secreta repetiu diretamente, porque não é uma caraterização usada em avaliações deste tipo.
Irão suspende cooperação com a AIEA
O diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), organismo de vigilância nuclear da ONU, afirmou no domingo que o Irão poderia estar a produzir urânio enriquecido em poucos meses.
“O Irão é um país muito sofisticado em termos de tecnologia nuclear. Não se pode anular o conhecimento que se tem ou as capacidades”, afirmou Rafael Grossi, da AIEA.
A verificação da extensão dos danos foi dificultada na quarta-feira, depois de o Irão ter posto em vigor uma nova lei que suspende a cooperação com a AIEA. Teerão acusou o organismo de vigilância nuclear de estar do lado dos países ocidentais e de justificar os ataques aéreos de Israel.
Na quarta-feira, o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica, dando sequência a uma votação anterior no Parlamento.
A lei promulgada hoje visa "garantir o total apoio aos direitos do Irão" e, "em particular, ao enriquecimento de urânio" ao abrigo do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), segundo os meios de comunicação iranianos.
O porta-voz do Pentágono considerou a medida “inaceitável” e afirmou que o Irão deve cumprir integralmente as suas obrigações no âmbito do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, nomeadamente fornecendo à AIEA informações sobre material nuclear não declarado e facultando acesso ilimitado a qualquer instalação de enriquecimento recentemente anunciada. Já a ONU considerou preocupante esta decisão de Teerão.
A 25 de junho, um dia após o cessar-fogo imposto por Donald Trump após uma guerra de 12 dias entre o Irão e Israel, o Parlamento iraniano aprovou por larga maioria um projeto de lei que suspende a cooperação com a agência da ONU responsável pela segurança nuclear.
A decisão do Irão irritou também Israel, inimigo desde a Revolução Islâmica de 1979, e o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, apelou ao mundo para "utilizar todos os meios ao seu dispor para pôr fim às ambições nucleares do Irão".
Apelou à Alemanha, França e Reino Unido, os três países europeus que assinaram o acordo nuclear iraniano de 2015 com a China e os Estados Unidos, para "reinstaurarem todas as sanções contra o Irão" e fazerem-no "agora".
Este acordo tornou-se nulo e sem efeito após a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018, e Teerão começou então a libertar-se das suas obrigações. Berlim classificou a decisão do Irão como um "sinal desastroso".
Afirmando que o Irão estava perto de desenvolver uma arma nuclear, Israel lançou um ataque maciço contra o país em 13 de junho, atingindo centenas de instalações nucleares e militares.
O Irão, que nega procurar uma bomba atómica, mas defende o seu direito de enriquecer urânio para fins civis, retaliou com ataques de mísseis e drones contra Israel.
Os ataques israelitas fizeram pelo menos 935 mortos no Irão, segundo um relatório oficial. Em Israel, 28 pessoas foram mortas por mísseis iranianos, segundo as autoridades israelitas.
A questão do enriquecimento de urânio está no centro das divergências entre o Irão e os Estados Unidos, que iniciaram negociações indiretas em abril, mas foram interrompidas pela guerra.
As autoridades iranianas denunciaram veementemente o silêncio da AIEA face aos bombardeamentos israelitas e norte-americanos contra as instalações nucleares iranianas.
“Atrasámos o programa nuclear do Irão em pelo menos um a dois anos. É essa a avaliação dos serviços secretos do Departamento de Defesa”, afirmou Parnell numa conferência de imprensa realizada no Pentágono.
A informação foi avançada no mesmo dia que o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), dando sequência a uma votação anterior no Parlamento.Desde os bombardeamentos norte-americanos contra as instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan, há dez dias, em apoio à ofensiva israelita, a questão da sua eficácia permanece incerta.
A descrição de Parnell dos ataques marcou uma estimativa mais medida do que as afirmações de Trump sobre o nível de destruição. Um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) de baixa confiança, com base em avaliações iniciais, disse que o programa do Irão foi atrasado vários meses.
O quadro evolutivo da gravidade dos danos causados ao programa nuclear iraniano surge numa altura em que as agências de informação norte-americanas continuam a divulgar novas avaliações, utilizando materiais que sugerem que as centrifugadoras da central de enriquecimento de Fordow foram destruídas, apesar de não ser claro se a própria central cedeu.
Os conselheiros de Trump utilizaram esse material - que inclui a utilização de vídeos captados por bombardeiros B-2, para confirmar modelos de simulação de ondas de choque e outras informações israelitas do exterior de Fordow - com o intuito de defender as afirmações de Trump, avançaram ao jornal britânico The Guardian duas fontes familiarizadas com o assunto.Os bombardeiros militares dos EUA realizaram ataques contra três instalações nucleares iranianas em 22 de junho, usando mais de uma dúzia de bombas bunker-buster de 13.600 quilos e mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Tomahawk.
A extensão dos danos causados ao programa nuclear iraniano e o destino das reservas de urânio enriquecido do país - que poderia ser rapidamente transformado numa arma nuclear - é importante porque pode ditar o tempo de atraso.
O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, admitiu, por sua vez, que os ataques à central nuclear de Fordow causaram danos graves.
"Ninguém sabe exatamente o que se passou em Fordow. Dito isto, o que sabemos até agora é que as instalações foram séria e fortemente danificadas", disse Araqchi à CBS News na passada terça-feira.
Donald Trump repete que o programa nuclear de Teerão foi “destruído” ou atrasado em “várias décadas”.
No final de junho, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, elogiou a “ação militar decisiva” que “criou as condições para acabar com a guerra” entre Israel e o Irão. “Dizimando, aniquilando, destruindo - escolha a expressão - as capacidades nucleares do Irão”, insistiu.
Mas um primeiro relatório ultrassecreto dos serviços secretos dos Estados Unidos, publicado na imprensa americana na semana passada, estabelecia que os ataques contra o Irão apenas tinham penalizado o seu programa nuclear em alguns meses, sem o destruir completamente.Segundo a Reuters, vários especialistas alertaram para o facto de o Irão ter provavelmente retirado um stock de urânio altamente enriquecido, quase de grau de armamento, do local de Fordow, profundamente enterrado, antes dos ataques, e poder continuar a usá-lo.
A avaliação preliminar da Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono, que se baseou em informações obtidas pouco mais de 24 horas após os ataques, segundo o Guardian, revelou que os danos podem ir desde a possibilidade de o Irão reiniciar as instalações com novas centrifugadoras até à necessidade de as abandonar para utilização futura.
O relatório da DIA avaliou que o programa tinha sido adiado por vários meses, embora essa conclusão tenha sido feita no chamado nível de “baixa confiança”, refletindo a natureza inicial da avaliação e a incerteza que as agências de informação têm com as conclusões iniciais.
Os conselheiros de Trump contestaram o relatório da Agência de Inteligência de Defesa e afirmaram, em privado, que a destruição das centrifugadoras, por si só, significava que tinham eliminado uma componente fundamental da capacidade do Irão para desenvolver armas nucleares e que isso atrasava o programa nuclear em anos.As batalhas em torno das conclusões das agências de informações têm estado no centro das decisões da política externa americana há décadas, desde os avisos sobre os programas de armamento do Iraque que a Administração Bush utilizou para justificar a invasão de 2003 e que mais tarde se revelaram falsos, até às alegações de que uma fuga de um laboratório chinês foi responsável pela covid.
Ainda assim, grande parte da controvérsia sobre os ataques dos EUA foi gerada pela afirmação do presidente norte-americano, Donald Trump, de que “obliteraram” as instalações nucleares do Irão, o que nenhuma agência secreta repetiu diretamente, porque não é uma caraterização usada em avaliações deste tipo.
Irão suspende cooperação com a AIEA
O diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), organismo de vigilância nuclear da ONU, afirmou no domingo que o Irão poderia estar a produzir urânio enriquecido em poucos meses.
“O Irão é um país muito sofisticado em termos de tecnologia nuclear. Não se pode anular o conhecimento que se tem ou as capacidades”, afirmou Rafael Grossi, da AIEA.
A verificação da extensão dos danos foi dificultada na quarta-feira, depois de o Irão ter posto em vigor uma nova lei que suspende a cooperação com a AIEA. Teerão acusou o organismo de vigilância nuclear de estar do lado dos países ocidentais e de justificar os ataques aéreos de Israel.
Na quarta-feira, o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica, dando sequência a uma votação anterior no Parlamento.
A lei promulgada hoje visa "garantir o total apoio aos direitos do Irão" e, "em particular, ao enriquecimento de urânio" ao abrigo do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), segundo os meios de comunicação iranianos.
O porta-voz do Pentágono considerou a medida “inaceitável” e afirmou que o Irão deve cumprir integralmente as suas obrigações no âmbito do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, nomeadamente fornecendo à AIEA informações sobre material nuclear não declarado e facultando acesso ilimitado a qualquer instalação de enriquecimento recentemente anunciada. Já a ONU considerou preocupante esta decisão de Teerão.
A 25 de junho, um dia após o cessar-fogo imposto por Donald Trump após uma guerra de 12 dias entre o Irão e Israel, o Parlamento iraniano aprovou por larga maioria um projeto de lei que suspende a cooperação com a agência da ONU responsável pela segurança nuclear.
A decisão do Irão irritou também Israel, inimigo desde a Revolução Islâmica de 1979, e o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, apelou ao mundo para "utilizar todos os meios ao seu dispor para pôr fim às ambições nucleares do Irão".
Apelou à Alemanha, França e Reino Unido, os três países europeus que assinaram o acordo nuclear iraniano de 2015 com a China e os Estados Unidos, para "reinstaurarem todas as sanções contra o Irão" e fazerem-no "agora".
Este acordo tornou-se nulo e sem efeito após a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018, e Teerão começou então a libertar-se das suas obrigações. Berlim classificou a decisão do Irão como um "sinal desastroso".
Afirmando que o Irão estava perto de desenvolver uma arma nuclear, Israel lançou um ataque maciço contra o país em 13 de junho, atingindo centenas de instalações nucleares e militares.
O Irão, que nega procurar uma bomba atómica, mas defende o seu direito de enriquecer urânio para fins civis, retaliou com ataques de mísseis e drones contra Israel.
Os ataques israelitas fizeram pelo menos 935 mortos no Irão, segundo um relatório oficial. Em Israel, 28 pessoas foram mortas por mísseis iranianos, segundo as autoridades israelitas.
A questão do enriquecimento de urânio está no centro das divergências entre o Irão e os Estados Unidos, que iniciaram negociações indiretas em abril, mas foram interrompidas pela guerra.
As autoridades iranianas denunciaram veementemente o silêncio da AIEA face aos bombardeamentos israelitas e norte-americanos contra as instalações nucleares iranianas.
Teerão criticou ainda a agência por uma resolução adotada em 12 de junho, véspera dos primeiros ataques israelitas, acusando o Irão de incumprimento das suas obrigações na área nuclear.
c/ agências