Conselho de Segurança da ONU aprova cessar-fogo humanitário na Síria

por RTP
Eduardo Munoz - Reuters

Os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU aprovaram este sábado por unanimidade uma resolução que prevê um cessar-fogo humanitário de um mês na Síria, depois de uma semana crítica em que terão morrido mais de 500 civis na sequência de bombardeamentos do regime sírio. Após o voto em Nova Iorque, houve registo de novos bombardeamentos em Ghouta, o último bastião rebelde nos arredores de Damasco.

Após intensas negociações até ao último minuto, a votação da resolução, que já tinha sido adiada na sexta-feira, foi realizada duas horas mais tarde do que estava inicialmente previsto (17h00, hora de Lisboa).

Esta resolução conta com o apoio inédito da Rússia, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança que nos últimos anos usou o poder de veto por nove vezes a propósito da guerra civil na Síria. Moscovo tem sido o aliado de peso de Bashar al-Assad nos últimos anos do conflito. 

O documento aprovado de forma unânime pelos 15 membros, permanentes e rotativos, prevê a imposição de um cessar-fogo humanitário de 30 dias, que permita a entrada de medicamentos e a evacuação de feridos.

A resolução apela a todas as partes envolvidas que “cessem as hostilidades de imediato” por pelo menos 30 dias, de forma a permitir o envio de ajuda humanitária e que as evacuações médicas aconteçam “em segurança”.
500 mortos em sete dias
Este voto acontece depois de uma semana em que vários bombardeamentos do regime sírio fizeram pelo menos 500 mortos, dos quais 121 crianças, segundo revelou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Segundo o mesmo observatório, terão morrido 40 pessoas só nos bombardeamentos que ocorreram este sábado.


Ana Romeu, Pedro Pessoa - RTP

A situação é mais crítica em Ghouta oriental, o último enclave rebelde perto de Damasco que vive cercado desde 2013, e onde foram registados bombardeamentos já depois da votação em Nova Iorque.

Segundo as estimativas das Nações Unidas e da organização Save The Children, cerca de 400 mil civis continuam a viver na zona que tem sido alvo de bombardeamentos constantes, apesar das enormes dificuldades em obter alimentação, combustível e medicamentos. A trégua hoje aprovada foi pedida pelas organizações das Nações Unidas no terreno a 6 de fevereiro.

Durante a semana, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tinha apelado ao fim de "todas as atividades de guerra" no local.

Wael Olwan, porta-voz de uma das principais fações rebeldes, comprometeu-se a cumprir as tréguas decretadas mas resguarda o direito à autodefesa.

“Afirmamos nosso compromisso sério com um cessar-fogo abrangente, de forma a facilitar a entrada de todos os auxílios em Ghouta Oriental…Com o legítimo direito à autodefesa e à resposta a qualquer agressão”, referiu Wael Olwan, da Failaq al-Rahman, citado pela agência Reuters. Não houve até ao momento qualquer reação por parte das forças militares sírias.

A resolução foi proposta pela Suécia e Kuwait, dois membros não-permanentes do Conselho de Segurança. Durante os três dias das negociações com o representante russo, a embaixadora norte-americana foi muito crítica da posição de Moscovo.

“Enquanto arrastam a negociação, as bombas dos aviões de Assad vão continuar a cair. Nos três dias que levámos a adotar esta resolução, quantas mães perderam os seus filhos nos bombardeamentos?”, questionou Nikki Haley, que se mostrou “cética” que o regime sírio cumpra o cessar-fogo.

“Estamos a combater o terrorismo no nosso próprio território. O nosso Governo reservará o direito de resposta, conforme julgar apropriado, em caso de ataques de grupos terroristas em qualquer parte da Síria”, disse Bashal Ja’afari, embaixador sírio junto das Nações Unidas.

Os media estatais sírios dão conta do lançamento de morteiros por parte dos rebeldes de Ghouta em várias zonas de Damasco, incluindo junto a uma escola, que terão causado ferimentos a seis pessoas, e que motivaram nova resposta do exército.

O regime garante que não está a bombardear locais com civis mas que os rebeldes usam a população como “escudos humanos”. Equipas de voluntariado e sobreviventes dão conta do bombardeamento de pelo menos seis hospitais de Ghouta só na última semana.

No próximo mês completam-se sete anos desde o início da guerra civil na Síria, em março de 2011.

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