Acidente na Grécia. Divulgado áudio que sugere que maquinista foi instruído a ignorar sinal vermelho

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Alexandros Avramidis - Reuters

Os protestos explodiram na Grécia depois de ter sido divulgado um áudio, esta sexta-feira, no qual o maquinista de um dos comboios envolvidos no trágico acidente de terça-feira é instruído a ignorar um sinal vermelho. O chefe da estação da cidade de Larissa admitiu ter cometido um erro.

Uma gravação da comunicação entre o maquinista de um dos comboios envolvidos no acidente e o chefe da estação da cidade de Larissa, sugere que este último deu ordem ao maquinista para avançar, apesar do sinal vermelho.

“Larissa, consegue ouvir-me?”, pergunta o maquinista, de acordo com o áudio publicado no jornal grego Proto Thema. “Estou a ouvir. Passe o sinal vermelho na saída até ao sinal de entrada na Neoi Poroi (estação)”, respondeu o chefe da estação.

“Vasilis, posso ir?”, perguntou o maquinista, ao que o chefe da estação responde: “Vá, vá”.

Segundo o jornal grego, a ordem não soou estranha ao maquinista uma vez que o sistema de sinalização nas linhas ferroviárias tem estado com avarias.

Numa segunda conversa, agora divulgada pelas autoridades, o chefe da estação de Larissa pode ser ouvido a ordenar a um funcionário que mantenha os dois comboios na mesma faixa.

“Posso virar agora?”, pergunta o funcionário. "Não, não, porque o 1564 está nesta rota", responde o mestre da estação.

Os dois comboios percorreram vários quilómetros na mesma faixa que liga Atenas a Thessaloniki, as duas maiores cidades do país, e acabaram por colidir frontalmente perto da cidade de Larissa.

O chefe da estação, de 59 anos, foi detido e acusado pelo Ministério Público de homicídio involuntário por negligência. Inicialmente, o chefe da estação negou qualquer erro e culpou o acidente por uma falha técnica, mas mais tarde admitiu ter cometido um erro. Se for considerado culpado, o chefe da estação pode enfrentar entre dez anos de cadeia e prisão perpétua.
Protestos aumentam
Depois dos protestos de quinta-feira, que acabaram em confrontos com a polícia, os manifestantes voltaram a sair à rua em massa esta sexta-feira, após a divulgação do áudio. Mais de cinco mil manifestantes concentraram-se em frente à sede da empresa responsável pela manutenção dos caminhos-de-ferro da Grécia, desta vez num protesto pacífico.

Com gritos de “assassinos” pedem que se faça justiça pelas 57 vítimas do desastre ferroviário, o mais grave acidente de comboio ocorrido na Grécia.

A população pede que se apurem responsabilidades por este acidente. “Estamos cheios de raiva e não podemos aceitar que um acidente tão trágico possa acontecer em 2023, com dezenas de vidas perdidas, incluindo muitos colegas estudantes”, lamentou um dos manifestantes, citado pela agência AFP.

“Estamos a sair à rua para exigir que assumam as responsabilidades, para que nada fique encoberto ou escondido nesta tragédia”, acrescentou.
Ferroviários em greve
Os trabalhadores ferroviários fizeram greve esta sexta-feira, pelo segundo dia consecutivo, contra as más condições de trabalho e a falta de pessoal.

A confederação dos sindicatos ferroviários denuncia "a falta de respeito demonstrada pelos governos ao longo do tempo para com os caminhos-de-ferro gregos”.
Os sindicalistas ferroviários acreditam que os sistemas de segurança não estavam a funcionar corretamente, apesar dos repetidos avisos ao longo dos anos.

A confederação dos sindicatos acusa o Governo de estar constantemente a negar contratar “mais funcionários permanentes, dar melhor formação e principalmente implementar sistemas de segurança modernos”.

O Executivo grego já garantiu a realização de um inquérito independente e decretou três dias de luto nacional.

O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis fala de “um trágico erro humano” e o acidente levou à demissão do ministro dos Transportes Kostas Karamanlis, que assumiu as “falhas de longa data das autoridades para reparar um sistema ferroviário que não está preparado para o século XXI”.
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