Afeganistão. G7 exige "passagem segura" para saída de afegãos após 31 de agosto

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Os líderes do G7 estiveram reunidos esta terça-feira e exigiram aos talibãs que deixem sair afegãos após a retirada das tropas ocidentais do país a 31 de agosto. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, garantiu que “terminar as operações militares no Afeganistão não significa o fim do nosso empenho para a promoção da democracia e direitos humanos no mundo”.

O grupo dos sete países mais ricos esteve reunido virtualmente para discutir a situação no Afeganistão, nomeadamente a controversa questão da retirada das tropas norte-americanas a 31 de agosto.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou em conferência de imprensa no final da reunião que defendeu o prolongamento do prazo da retirada das tropas ocidentais, sublinhando que “é importante tentar prolongar essa data”. Em todo o caso, Michel garantiu que “terminar as operações militares no Afeganistão não significa o fim do nosso empenho para promoção da democracia e direitos humanos no mundo”. “Pelo contrário, temos de estar mais determinados do que nunca”, acrescentou.

Michel apelou aos EUA que garantam a segurança do aeroporto de Cabul “tanto tempo quanto dor necessário para completar a complexa operação de evacuação de cidadãos estrangeiros e afegãos que desejam sair do Afeganistão". “Deve haver um justo e equitativo acesso ao aeroporto para todas as nações envolvidas nas evacuações”, acrescentou.
“A UE fará o seu papel para garantir a segurança dos afegãos que procuram sair do Afeganistão”, disse Michel, garantindo que será assegurada proteção internacional àqueles que enfrentam perseguição.

O presidente do Conselho Europeu afirmou ainda que “é demasiado cedo para decidir que tipo de relação é que se irá desenvolver com as novas autoridades afegãs”, apelando a um “entendimento político inclusivo”. “Se queremos ter uma influência positiva e ajudar os afegãos temos que lidar com as novas autoridades e isso vai estar sujeito a condições estritas”, sublinhou.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi ao encontro das declarações de Charles Michel, declarando que “é um dever moral ajudar o povo afegão, fornecendo-lhes o máximo de apoio e condições”. “A situação é de facto uma tragédia para o povo afegão e é um recuo importante para a comunidade internacional”, disse von der Leyen.
Von de Leyen anunciou ainda que a Comissão Europeia propõe quadruplicar a ajuda humanitária. “Vamos aumentá-la para 200 milhões de euros para 2021 para ajudar nas necessidades imediatas dos afegãos, tanto no Afeganistão como nos países vizinhos”, afirmou.
G7 exige “passagem segura” após 31 de agosto
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que presidiu a cimeira virtual do G7, anunciou que os países do G7 vão exigir "passagem segura" aos talibãs para os afegãos que querem deixar o Afeganistão depois de 31 de agosto, data em que as tropas norte-americanas deverão deixar o país.

"A primeira condição que estabelecemos como G7 é que devem garantir uma passagem segura para aqueles que queiram partir até 31 de agosto e depois", disse Boris Johnson.
“O que temos de fazer é usar a nossa influência deveras considerável como G7 para trabalharmos nos novos poderes no Afeganistão, insistirmos uma circulação segura e seguirmos um rumo que julgamos ser compatível com os nossos valores”, reiterou Johnson.

O grupo islâmico, que tem agora o poder do país, vincou esta terça-feira que não aceitará a extensão do prazo estabelecido pela administração do Presidente norte-americano Joe Biden para a retirada das tropas. “31 de agosto é o prazo dado e depois dessa data já é violar o acordo”, anunciou o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid.

“Todas as pessoas devem ser retiradas antes dessa data. Depois de 31 de agosto isso não será permitido, teremos uma postura diferente”, avisou Mujahid.

O porta-voz dos insurgentes pediu ainda a retirada apenas dos cidadãos estrangeiros e não dos afegãos mais qualificados, anunciando que os afegãos estão agora impedidos de se dirigirem ao aeroporto de Cabul a fim de evitar a aglomeração de multidões.

Numa conferência de imprensa, Zabihullah Mujahid acusou os EUA de estarem a retirar do país “especialistas afegãos”, como engenheiros, e acrescentou: “Pedimos-lhes que parem com isso”.
"Não somos a favor de permitir que os afegãos partam, não o permitiremos. E após dia 31 não permitiremos que os americanos estejam cá e tomaremos uma posição firme", reiterou.

O porta-voz do movimento extremista procurou garantir aos milhares de afegãos que se encontram no aeroporto de Cabul na esperança de embarcar num voo que não têm nada a temer e deviam voltar para as suas casas. “Deixámos tudo no passado, não encorajem os nossos cidadãos a ir embora”, apelou Mujahid. “Nós garantimos a segurança deles”, afirmou.
EUA mantêm retirada a 31 de agosto
A retirada das tropas ocidentais do Afeganistão a 31 de agosto parece ser o único ponto consensual entre os Estados Unidos e os talibãs.

Apesar de pressionado pelos seus aliados para atrasar a evacuação do Afeganistão de forma a dar mais tempo para retirar todos os que querem abandonar o país, o Presidente dos EUA, Joe Biden, decidiu manter o prazo do fim do mês, segundo anunciou um funcionário do Governo esta terça-feira.


Biden tomou a decisão após consultar a sua equipa de segurança nacional, ponderando os riscos de manter as forças no terreno para além do prazo e optando por concluir a missão na próxima terça-feira, prazo que tinha sido por si definido, ainda antes de os talibãs terem tomado conta de Cabul, em 15 de agosto.

Biden pediu, porém, à sua equipa de segurança nacional para criar planos de contingência, caso surja uma situação cujo prazo precise de ser ligeiramente prorrogado, disse a mesma fonte governamental.
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