Al-Zarqawi morto por forças dos Estados Unidos e da Jordânia
O chefe da Al-Qaida no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, foi morto numa operação em que estiveram envolvidos os serviços secretos da Jordânia, disse uma fonte jordana.
Segundo a mesma fonte, um alto responsável jordano que solicitou o anonimato, na operação participaram também os serviços secretos norte-americanos, além de forças especiais dos Estados Unidos.
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, anunciou hoje a morte de Abu Musab al-Zarqawi e de sete dos seus colaboradores num ataque ocorrido quarta-feira à noite (hora local), numa casa próximo da cidade rebelde de Baquba, 65 quilómetros a noroeste de Bagdad.
A fonte jordana disse que Al-Zarqawi ficou ferido e morreu "dez minutos depois da operação", que teve apoio aéreo.
Al-Zarqawi presidia a uma reunião do "seu grupo terrorista" no momento do ataque, segundo o responsável jordano, que não deu indicações sobre uma participação das forças iraquianas no ataque ou outros pormenores da operação.
Imediatamente depois da sua morte, as autoridades norte-americanas e jordanas compararam as fotografias mais recentes que tinham com as do corpo, permitindo confirmar a identidade de Al-Zarqawi, referiu.
Segundo a fonte em Amã, o desempenho da Jordânia na captura e morte do terrorista jordano foi crucial devido nomeadamente a informações obtidas após a detenção, no mês passado, de um comando do braço iraquiano da rede terrorista Al -Qaida.
O homem, um cidadão iraquiano com o nome de Ziad Khalaf al-Karbuli, foi apresentado por Amã como sendo um membro importante da rede de Al-Zarqawi.
"Para a Jordânia, trata-se da operação dos +Mártires dos hotéis+", adiantou a mesma fonte, referindo-se aos atentados perpetrados contra três hotéis em Amã, em Novembro do ano passado.
Nestes atentados, que foram reivindicados por Al-Zarqawi, morreram 60 pessoas.
Os Estados Unidos ofereciam uma recompensa de 25 milhões de dólares (cerca de 20 milhões de euros) pela captura ou morte de Abu Musab al-Zarqawi.
Perfil
O chefe da organização terrorista Al- Qaida no Iraque, o jordano Abu Musab al-Zarqawi, cuja morte foi hoje anunciada pelo governo Iraquiano, era o mais conhecido terrorista do Iraque, por quem os Estados Unidos ofereciam 25 milhões de dólares.
Fadel Nazzal Al-Khalayleh, conhecido por Al-Zarqawi, nasceu a 20 de Outubro de 1966, em Zarqa, localidade pobre situada a 25 quilómetros a leste de Amã, capital da Jordânia.
Sunita de confissão, Al-Zarqawi pertencia aos Bani Hassan, uma das grandes tribos da Jordânia.
Após uma juventude dedicada a pequenos delitos, Al-Zarqawi aparece pela primeira vez no Iraque à frente da organização extremista Al-Tawhid wal Jihad (Monoteísmo e Guerra Santa), ligando-se em 2004 à Al-Qaida de Usama bin Laden.
A maior parte da informação disponível sobre Al-Zarqawi está, contudo, limitada ao que os seus inimigos ou colaboradores disseram sobre ele.
Enquanto analistas defendem que Al-Zarqawi usou a rebelião iraquiana como trampolim para a expansão das suas operações, outros garantem que a sua importância tem sido exagerada.
Em Fevereiro de 2004, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, disse perante as Nações Unidas que o jordano era um associado de Usama bin Laden, que se refugiara no Iraque.
Segundo Powell a presença de Al-Zarqawi no Iraque era um sinal claro de que o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein estava a "cortejar" a Al-Qaida, o que por si só justificava um ataque contra o país.
Al-Zarqawi e Bin Laden tornaram-se conhecidos como "árabes afegãos" ao liderarem combatentes estrangeiros na "jihad" contra forças soviéticas no Afeganistão, na década de 80.
Após a derrota dos soviéticos no Afeganistão, Zarqawi regressou à Jordânia com intenções islamitas radicais, país onde ficou preso durante sete anos, depois de acusado de conspiração para derrubar a monarquia e estabelecer o califado islâmico.
Pouco depois de ser libertado, na sequência de uma amnistia geral, em 1999, por ocasião da subida ao trono do rei Abdallah II, Zarqawi abandonou o país, que o julgou à revelia e o condenou à morte por alegadamente ter planeado ataques contra turistas norte-americanos e israelitas.
Pouco antes, tinha sido anunciado o desmantelamento, em Amã, de uma célula ligada à rede de Bin Laden.
Segundo os serviços secretos, Al-Zarqawi refugiou-se na Europa, tendo, posteriormente, a secreta alemã descoberto uma célula activista que alegadamente o tinha como líder.
O seu próximo passo foi no Afeganistão, onde se crê que tenha criado um campo de treino na cidade de Herat, perto da fronteira com o Irão, e onde os "estudantes" deste campo se tornavam peritos no manuseamento de gases venenosos.
Foi durante este período que Al-Zarqawi terá retomado a sua ligação à Al-Qaida.
Pensa-se que fugiu do Iraque em 2001 depois de um ataque norte- americano contra a sua base afegã.
Em Outubro de 2002, Al-Zarqawi foi responsabilizado pelo assassínio do oficial de ligação norte-americano Laurence Foley em Amã.
Meses depois, em 2003, foi tido como "cérebro" de uma série de bombardeamentos - desde Casablanca, em Marrocos, a Istambul, na Turquia.
Mas foi no Iraque, que parece ter sido mais activo.
Numa carta divulgada pelos norte-americanos em Fevereiro de 2004, Al-Zarqawi considerava que conflitos entre facções no Iraque eram uma forma de minar a presença dos Estados Unidos no terreno.
Em Junho de 2004, Washington aumentou de 10 para 25 milhões de dólares a recompensa pela sua captura, a mesma (cerca de 20 milhões de euros) que oferece por Usama bin Laden.
Em Outubro do mesmo ano alterou o nome do seu grupo, Tawhid wal Jihad (Monoteísmo e Guerra Santa) para Tanzim al-Qaida wal Jihad fi Balad al-Rafidain (Organização da Al-Qaida e da Guerra Santa na Mesopotâmia).
Dois meses depois o próprio Bin Laden afirmou, numa gravação, que Al-Zarqawi era o "emir" da rede terrorista no Iraque e que "os irmãos" lhe deviam obedecer.