A Alemanha expulsou dois funcionários da embaixada russa depois de procuradores do Estado terem reunido "provas suficientes" de que Moscovo ou o governo da Chechénia - uma das repúblicas da Rússia - encomendaram o assassinato de um separatista checheno em Berlim.
Apesar de estar em conflito com a Rússia há centenas de anos, a
Chechénia é atualmente liderada por Ramzan Kadyrov, um antigo rebelde
que é agora leal ao Presidente russo, Vladimir Putin.
O procurador acrescentou que o assassinato do checheno
Zelimkhan Khangoshvili, considerado terrorista pelas autoridades russas,
constitui “um ato da maior relevância para a segurança estatal”.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha informou esta quarta-feira o embaixador russo em Berlim, Sergei Netschajew, que dois dos seus funcionários foram considerados personae non gratae com efeito imediato, salientando que o Kremlin se recusou a cooperar com as investigações ao assassinato.
Ministério da Defesa da Rússia alegadamente envolvido
Khangoshvili foi morto à luz do dia com um tiro na cabeça, em agosto deste ano, quando se encontrava no parque Kleiner Tiergarten, em Berlim. O antigo comandante rebelde da Chechénia tinha 40 anos e os serviços russos de inteligência classificaram-no como membro da organização terrorista “Emirado do Cáucaso”.
Um homem foi detido logo após o assassinato, quando alegadamente foi visto a deitar ao rio uma bicicleta, uma arma e uma peruca, mas não deu informações significativas às autoridades. O crime continua a ser investigado.
De acordo com o procurador federal alemão, o suspeito do crime viajou até à Alemanha com um passaporte russo sob o nome de Vadim Sokorov, apenas seis dias antes da morte de Khangoshvili.
O homem terá voado com um visto de trabalho que o declarava como trabalhador de uma empresa de engenharia em São Petersburgo. A equipa de procuradores descobriu, porém, que essa empresa possuía um único funcionário e que um número de fax ligava o negócio ao Ministério da Defesa da Rússia.
Mais tarde, especialistas forenses identificaram o suspeito como Vadim Krasikov, de 54 anos, natural do Cazaquistão e procurado pela morte de um homem de negócios russo em 2013.
Ainda em agosto, um porta-voz russo garantiu que nem a Rússia nem quaisquer das suas autoridades tinham alguma coisa a ver com o crime.
Quem era Khangoshvili?
Zelimkhan Khangoshvili era nacional da Geórgia e lutou na segunda guerra dos chechenos contra as forças russas no norte do Cáucaso entre 2001 e 2005. Era aliado do antigo Presidente da Chechénia, Aslan Maskhadov, que planeou a resistência chechena à Rússia e foi morto pelas forças especiais desse país.
Khangoshvili foi para Berlim em 2015, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de homicídio na capital da Geórgia, Tbilisi, e candidatou-se a asilo na Alemanha, mas sem sucesso.
O assassínio de Khangoshvili aconteceu depois de vários separatistas chechenos que lutaram contra as forças russas também terem sido mortos.