Alemanha vai a votos com Merkel posicionada para quarto mandato

por Carlos Santos Neves - RTP
As urnas alemãs abriram às 7h00 Tiago Passos - RTP

Perto de 61,5 milhões de eleitores são este domingo convocados às urnas na Alemanha para redefinir a composição do Parlamento. A CDU, da chanceler Angela Merkel, chega ao dia da votação na qualidade de favorita, mas sem condições para selar uma maioria absoluta. Em segundo lugar, a uma distância considerável, está o SPD de Martin Schulz. Prevê-se, por outro lado, que a direita populista e nacionalista cresça.

Se o eleitorado alemão não proporcionar uma noite de surpresas à Europa, espera-se – tendo em linha de conta as últimas sondagens – que os conservadores da CDU-CSU vençam estas eleições com um score entre os 34 e os 36 por cento. Os social-democratas do SPD deverão ficar-se por 21 a 22 por cento dos votos.O sistema eleitoral alemão mistura as fórmulas maioritária e proporcional.


Martin Schulz arrisca assim tornar-se o rosto de um resultado histórico, pela negativa, e da quarta derrota consecutiva do SPD frente ao partido da chanceler, com o qual governa em posição secundária a Alemanha desde 2013.

Em simultâneo, a CDS-CSU chega à jornada eleitoral aparentemente sem a possibilidade de alcançar uma vitória retumbante. E as forças partidárias posicionadas nos extremos do espectro político alemão – Die Linke, à esquerda, e a AfD (Alternativa para a Alemanha), à direita - poderão mesmo conquistar os votos de um quarto do eleitorado do país.

É, com efeito, entre as fileiras da direita nacionalista que medra a maior esperança de um resultado histórico, pela positiva: o advento da AfD aos assentos do Bundestag.

As sondagens atribuem aos azuis da extrema-direita um resultado de 11 a 13 por cento, o que os coloca em terceiro lugar à frente da esquerda radical, dos liberais do FDP e dos Verdes. Recorde-se que em 2013 não chegaram aos cinco por cento.
Os trabalhos de Merkel

A ascensão da AfD pode assim vir a ser o facto que ficará para a História, dado que no topo a grande dúvida será, ao que tudo indica, perceber com quem Angela Merkel vai governar a Alemanha pelo quarto mandato consecutivo.
Angela Merkel fez assentar a sua campanha na continuidade de uma Alemanha economicamente próspera, com baixos índices de desemprego. Um retrato que exclui um dado de cores sombrias: o aumento da pobreza nos últimos anos.

A AfD é um partido declaradamente anti-Islão, anti-imigração, anti-elites e anti-euro. E o seu discurso radical não cessou de subir de tom ao longo da campanha que terminou no sábado, com expressivos ganhos de popularidade sobretudo no leste. Uma das ideias que quis propagar, por exemplo, foi a de que o país mais poderoso do Velho Continente “se tornou um refúgio para criminosos e terroristas do mundo inteiro”.

Se confirmar as previsões das sondagens, Angela Merkel poderá ter pela frente dias difíceis de negociações para formar uma aliança maioritária de governo.

A solução óbvia seria o SPD. Todavia, o partido de Schulz pode enveredar agora pela oposição, numa tentativa de se libertar da condição de bengala. O que obrigaria a chanceler a voltar-se para FDP e Verdes, partidos desavindos em muitos temas.
Duplo voto

O sistema de votação na Alemanha reveste-se de alguma complexidade, combinando o escrutínio uninominal direto a uma volta e a fórmula proporcional. O chefe do governo é eleito pelos deputados ao Bundestag na esteira das eleições legislativas.

Cada um dos eleitores alemães tem, na prática, dois votos para eleger deputados. A maior fatia dos assentos parlamentares – 299 – é decidida por escrutínio uninominal direto à escala das circunscrições, com o candidato mais votado a ser eleito, independentemente de atingir ou não os 50 por cento.

O segundo voto à disposição dos eleitores destina-se a uma lista de partidos em cada Estado regional: é então que entra em ação o sistema proporcional, implementado após a II Guerra para prevenir o recrudescimento do totalitarismo; o sistema fixa uma fasquia mínima de cinco por cento para a entrada no Parlamento.

O resultado alcançado pelas forças políticas em cada Estado influencia em grande medida o número final de eleitos para a câmara baixa do Parlamento.

Os eleitores poderão votar no mesmo partido por duas vezes. Ou repartir os votos.

c/ agências internacionais
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