Alguns profissionais de saúde vão ter visto especial de imigração no pós-Brexit

por RTP
Henry Nicholls/Reuters

O Reino Unido vai introduzir um visto especial para as áreas da saúde no âmbito do sistema de imigração pós-Brexit, que vai entrar em vigor em 2021, revelou esta segunda-feira a ministra do Interior, Priti Patel. Os assistentes sociais, no entanto, não estão incluídos nos profissionais abrangidos por esta medida.

Priti Patel confirmou esta segunda-feira, no Parlamento, que o Reino Unido vai adotar um sistema de pontos "flexível" para filtrar os imigrantes que pretendem trabalhar no território britânico após a começar oficialmente o Brexit e terminar o acordo de livre circulação com a União Europeia.

Esta iniciativa entra em vigor já no próximo ano e "vai tornar mais fácil e rápido a profissionais de saúde internacionais talentosos" serem recrutados para o serviço de saúde pública e para assistência e cuidados em lares de idosos ou ao domicílio, esclareceu a ministra britânica do Interior.

Além de uma taxa de custo pelo visto e um período de resposta à candidatura reduzidos, os profissionais dos setores da saúde vão ser isentos do pagamento da sobretaxa pelo uso dos serviços de saúde britânicos.

Contudo, os assistentes sociais não estão incluídos no novo sistema de imigração do Reino Unido, não sendo abrangidos pelo direito a este novo visto de, apesar da escassez de profissionais desta área.

Governo espera um aumento na procura de vagas neste setor por parte de cidadãos britânicos, numa altura em que, devido à pandemia, o desemprego aumentou.

"Queremos que os empregadores invistam mais na instrução e desenvolvimento para profissionais de saúde neste país", disse o porta-voz de Boris Johnson.

"Especificamente sobre os profissionais de saúde, os nossos consultores independentes de migração garantem que a imigração não é a única solução aqui, e é por isso que fornecemos aos conselhos um financiamento adicional de 1,5 mil milhões de libras para o setor de assistência social em 2021/2022, além de lançarmos uma nova campanha de recrutamento".

Contudo, os profissionais imigrantes que já estavam estabelecidos no país e a trabalhar como assistentes sociais podem continuar no país e em funções, caso o pretendam.

"Essas pessoas permanecerão no Reino Unido, garantindo os cuidados fundamentais para os idosos e os mais vulneráveis", acrescentou o porta-voz de Downing Street.

"Estamos a ver um grande número de pessoas a registar-se pelo direito de permanecer e isso é ótimo", afirmou também esta segunda-feira o primeiro-ministro britânico. "Por isso, temos um grande 'stock' de profissionais que estão a ajudar neste país e que vieram do estrangeiro".
Sindicatos denunciam falta de profissionais

Os trabalhistas foram os primeiros a condenar a exclusão dos assistentes sociais do novo sistema de imigração. Nick Thomas-Symonds considera que "é um sinal claro de que este Governo não aprecia as capacidades e a dedicação que esses papéis envolvem".

"É mais um insulto deste Partido Conservador para aqueles que estiveram na linha de frente desta crise", arescentou.

Também a liberal democrata escocesa Christine Jardine, considerou "totalmente ultrajante". "Priti Patel pode considerar os profissionais de assistência social não qualificados, mas a pandemia do coronavírus lembra-nos que eles são tudo menos não qualificados", adiantou ao Guardian.

Já o sindicato GMB, em representação dos profissioanais do Serviço Nacional de Saúde (NHS), considerou estas novas medidas como uma "confusão embaraçosa", criticando a exclusão dos profissionais e prestadores de cuidados domiciliares que têm estado na linha de frente no combate à Covid-19.

A entidade sindical lembrou ainda que o trabalho no setor da assistência social já estava em crise muito antes da pandemia e, por isso, não incluir estes profissionais de saúde é um "erro desastroso que vai criar uma espiral dos problemas existentes".

Mas Patel alega que "num momento em que há um número crescente de pessoas em todo o Reino Unido a procurar trabalho, o novo sistema baseado em pontos incentivará os empregadores a investir na força de trabalho interna do Reino Unido, em vez de simplesmente depender de mão-de-obra estrangeira".

"Mas também estamos a fazer as mudanças necessárias, por isso vai ser mais simples para os empregadores atrair os melhores e os mais brilhantes de todo o mundo para virem para ao Reino Unido complementar as capacidade que já temos", afirmou a ministra.

Segundo dados oficiais do Governo de Boris Johnson, 30 por cento dos profissionais da saúde que trabalham no Reino Unido são oriundos de outros países da União Europeia.

Esta medida faz parte do novo sistema de imigração por pontos que o governo vai introduzir a partir de janeiro, pondo fim à liberdade de circulação dos cidadãos europeus no Reino Unido, determinada pela saída britânica da UE a 31 de janeiro.

O novo sistema vai impor critérios para atribuir vistos de trabalho e residência aos imigrantes, como qualificações profissionais ou académicas e um salário mínimo de 25.600 libras (ou seja 30.800 euros).
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