Aquarius solicita porto seguro para desembarcar 141 migrantes

por RTP
Guglielmo Mangiapane - Reuters

As organizações SOS Méditerranée e Médicos Sem Fronteiras (MSF), que operam em conjunto com o Aquarius, pediram aos líderes europeus que ofereçam um porto seguro onde os 141 migrantes possam desembarcar. Mais de 70% dos resgatados são da Somália e da Eritreia e foram retirados de duas embarcações de madeira na sexta-feira.

"O que é de extrema importância é que os sobreviventes sejam levados para um local de segurança sem demora, onde as necessidades básicas possam ser atendidas e onde possam estar protegidos contra abusos", disse Nick Romaniuk, Coordenador de Busca e Resgate da SOS Méditerranée.

Após os resgates de sexta-feira, as organizações Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a SOS Méditerranée disseram que entraram em contato com autoridades na Itália, Malta, Tunísia e Líbia. No entanto, foi negado um lugar para desembarcar.


O Aquarius é um dos dois únicos navios de busca e assistência humanitária que restam no Mediterrâneo CentralO Centro de Coordenação de Resgate Conjunto da Líbia (JRCC) declarou que não forneceria ao Aquarius "um lugar seguro e instruiu o navio a solicitar um outro centro de coordenação de resgates".

"Estamos a seguir as instruções do JRCC e entraremos em contato com outros RCCs para um local de segurança para desembarcar as pessoas resgatadas que temos a bordo", declarou Romaniuk.

As organizações não-governamentais disseram que a Europa estava cada vez mais a colocar a coordenação dos resgates nas mãos das autoridades líbias. No entanto, segundo os MSF, “a Líbia não é reconhecida como um local de segurança”.
Falta de assistência
As organizações pediram assistência humanitária para as pessoas a bordo, entre as quais estão 67 menores desacompanhados. As restantes seis crianças viajam com pelo menos um familiar.
Embora a condição médica dos resgatados esteja estável por enquanto, alguns estão muito fracos e desnutridos. Muitos relatam que foram detidos em condições desumanas na Líbia.

Segundo as organizações, antes de serem resgatadas pelo Aquarius, as pessoas a bordo relataram ter encontrado cinco navios que não ofereceram assistência.

A proibição de desembarque de navios de resgate na Itália impediu as tripulações de ajudar os migrantes em perigo.

Num tweet publicado esta manhã, o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, refere que o navio Aquarius é de "propriedade alemã, fretado por uma ONG francesa, com tripulação estrangeira, em águas maltesas, com bandeira de Gibraltar". "Pode ir para onde quiser, mas não para Itália!", acrescentou o responsável do Governo italiano.

"As políticas destinadas a impedir que as pessoas cheguem à Europa a qualquer custo estão a resultar em mais sofrimento e a forlçar os que já estão vulneráveis ​​a fazer viagens ainda mais arriscadas para a segurança", disse Aloys Vimard, coordenador do projeto dos MSF a bordo do Aquarius.

O Aquarius encontrou-se no centro de um impasse diplomático em junho, após a Itália e Malta se terem recusado a acolher 629 migrantes resgatados por mais de uma semana. O navio de resgate pode atracar na cidade portuária espanhola de Valência, que se disponibilizou para acolher a embarcação ao fim de vários dias.

Não se sabe se o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez repetirá essa oferta. No mês passado, a Espanha superou a Itália como o maior ponto de desembarque europeu para migrantes.
Aumento do número de mortes

De acordo com a ONU, 850 migrantes morreram este ano em apenas dois meses (junho e julho) no Mediterrâneo, mais 28 por cento do que no mesmo período de 2017. A onda de mortes por afogamento este ano coincidiu com a intensificação da política de dissuasão empreendida pelos governos europeus.

Chegar à Europa é agora mais perigoso. Uma em cada 31 pessoas que tentaram viajar para a União Europeia desde janeiro morreram ou desapareceram. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 2017, era uma em 49 pessoas.

Num relatório divulgado na semana passada, a Amnistia Internacional acusa diretamente os governos europeus deste aumento.

"As políticas europeias capacitaram a Guarda Costeira da Líbia para reter pessoas no mar, priorizaram resgates e prejudicaram o trabalho vital das ONGs. O recente aumento no número de mortes no mar não é apenas uma tragédia; é uma pena”, disse o investigador Matteo de Bellis em declarações citadas pelo jornal El País.

Nos últimos anos, menos migrantes conseguiram chegar à Europa por via marítima (63 mil pessoas em 2018, três vezes menos do que num único mês de 2015). A diminuição deve-se ao fato das partidas da Líbia terem caído a pico.
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