"Armas modernas aceleram a paz". Zelensky fecha a porta a cedências territoriais

O presidente da Ucrânia reitera que qualquer cenário de cedência de parte do território do país à Rússia é, para Kiev, inaceitável. Em entrevista à BBC, quando se aproxima o marco de um ano de guerra, Volodymyr Zelensky afirma que só com a entrega de armamento ocidental moderno às forças do seu país é possível alcançar a paz. Porque “as armas são a única linguagem que a Rússia compreende”.

Carlos Santos Neves - RTP /
Soldados ucranianos numa das frentes da guerra no leste do país António Mateus - RTP

Ceder território a Vladimir Putin significaria abrir caminho a que as tropas russas “continassem a voltar” ininterruptamente. É este o argumento de base de Volodymyr Zelensky para pôr de parte quaisquer concessões em matéria territorial ao país invasor.

“Escolhemos este caminho. Queremos garantias de segurança. Quaisquer compromissos territoriais tornar-nos-iam mais fracos como Estado”, sublinha.

“Não se trata de um compromisso em si mesmo. Porque é que deveríamos ter medo disso? Temos milhões de compromissos na vida todos os dias. A questão é com quem. Com Putin? Não. Porque não há confiança. Diálogo com ele? Não. Porque não há confiança”, insiste.


Para o presidente ucraniano, serão as “armas modernas” que o Ocidente fizer chegar às Forças Armadas do país que permitirão “acelerar a paz”.“Hoje, a nossa sobrevivência é a nossa unidade. Eu acredito que a Ucrânia está a lutar pela sua sobrevivência”, afirma o presidente ucraniano.

Na entrevista emitida pela estação pública britânica, Zelensky mostra-se também convicto de que a máquina de guerra russa pôs já em marcha os primeiros passos da grande ofensiva esperada para a primavera.

“Os ataques russos já estão a acontecer a partir de várias direções”, observa o chefe de Estado, para acrescentar que, na sua ótica, as forças ucranianas serão capazes de continuar a resistir aos avanços russos, até estarem em condições de mover uma contraofensiva, mediante o reforço de armamento por parte dos aliados ocidentais.

Outro capítulo abordado nesta entrevista prende-se com a posição da Bielorrússia, cujo presidente, Alexander Lukashenko, condicionou a participação em operações de combate na Ucrânia a um ataque ao seu país.

“Espero que não se juntem. Se o fizerem, vamos lutar e vamos sobreviver”, devolve Zelensky, que considera ainda um “enorme erro” o facto de Minsk permitir que a Bielorrússia sirva de base de retaguarda aos russos.
“Difícil em todas as direções”

As tropas russas têm vindo a intensificar os ataques em solo ucraniano, sobretudo a leste. O governador pró-Kiev de Lugansk, Serhiy Haidai, descreve a situação como “difícil em todas as direções”. Isto “porque o número de ataques aumentou significativamente” - por ar e com recurso à artilharia terrestre.

“Há tentativas constantes de quebrar as nossas linhas de defesa”, acrescentou, em declarações a uma estação televisiva ucraniana.

Na quinta-feira, as forças de Moscovo fizeram cair dezenas de mísseis sobre diferentes regiões da Ucrânia, incluindo Lviv, cidade próxima da fronteira com a Polónia, a oeste. Dezasseis terão sido abatidos, segundo Kiev.Realiza-se esta sexta-feira a Conferência de Segurança de Munique, que conta com a presença do chanceler alemão, Olaf Scholz, da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e do presidente francês, Emmanuel Macron. A guerra na Ucrânia domina a agenda do evento, que não terá qualquer representação russa.

O foco principal da engrenagem bélica dos russos continua a incidir sobre Bakhmut, na região oriental de Donetsk, onde são travados intensos combates diários.

“Eles estão a enviar muitas tropas. Penso que isso não é sustentável. Há locais onde os corpos ficam empilhados. Há uma trincheira. Eles não retiram os seus feridos ou mortos”, descreveu, em declarações citadas pela Reuters, Taras Dzioba, porta-voz da 80ª Brigada de Assalto ucraniana, referindo-se ao exército russo.

Se conseguir capturar Bakhmut, onde tem sido o grupo mercenário Wagner a assumir os maiores custos do combate, a Rússia fica com caminho aberto para rumar a Kramatorsk e Sloviansk.

c/ agências
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