Assange acusa CIA de "incompetência devastadora" e Trump concorda

por Graça Andrade Ramos - RTP
Presidente Donad Trump na sede da CIA em Langley, dia 23 de janeiro de 2017 Carlos Barria - Reuters

O fundador da WikiLeaks, Julian Assange, afirmou que a Agência Central de Informações dos Estados Unidos (CIA) é de uma "incompetência devastadora", por ter reunido num único local todos os seus programas de ciberespionagem.

A revelação foi feita há dois dias pela WikiLeaks e a nova Administração norte-americana não negou o diagnóstico feito por Assange.

"O Presidente [Donald Trump] está muito preocupado com a publicação de informações secretas que enfraquece e ameaça a nossa segurança nacional", referiu Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, em conferência de imprensa.

"Ele pensa que os sistemas da CIA são obsoletos e devem ser modernizados". acrescentou Spicer, sublinhando a necessidade de reformas.

No passado sábado, Trump provocou celeuma ao acusar o ex-Presidente Barack Obama de mandar escutar a sua equipa durante as eleições presidenciais.

Obama terá ficado furioso com as acusações, mas Trump não apresentou provas do que afirmou, remetendo a investigação dos factos para o Congresso. Neste caso foi o FBI que ficou em causa.
Ciberespionagem
Em plena tempestade, a WikiLeaks publicou quase nove mil documentos, que os Estados Unidos não autenticaram, a descrever centenas de programas maliciosos desenvolvidos pela CIA que permitem assumir o controlo de aparelhos eletrónicos, desde smartphones a televisores ligados à rede, para espiar as ações dos utilizadores.A CIA acusou a WikiLeaks de ajudar os inimigos dos Estados Unidos, referindo que o público americano deveria ficar preocupado com qualquer publicação "cujo objetivo seja alterar a capacidade da comunidade de informações de proteger a América dos terroristas e de outros adversários".

Os documentos revelados pela WikiLeaks demonstram que a agência de informação americana elaborou diversos programas, incluindo vírus, para infiltrar e transformar iPhones, sistemas que usam o Android (Google) ou até os televisoes Samsung, em aparelhos de escuta, à revelia do utilizador.

Os programas, diz a WikiLeaks, permitem aceder diretamente aos aparelhos e espiar as ações dos seus utilizadores, contornando as proteções encriptadas generalizadas em aplicações de mensagens como o  WhatsApp ou o Signal.

As críticas de Assange não foram tanto para a criação destes programas de espionagem, mas sim para o seu armazenamento num único local.
"Incompetentes"
"É um ato de incompetência devastadora criar um tal arsenal e mantê-lo num mesmo lugar", disse Julien Assange em conferência de imprensa retransmitida por vídeo a partir da embaixada do Equador em Londres, onde está refugiado desde 2012.

Assange não é "um exemplo de verdade e de integridade", respondeu a CIA.Esta é mais uma frente na batalha pelo domínio do mundo cibernético e uma que as autoridades americanas estão a perder.

O fundador da WikiLeaks indicou que a sua organização irá colaborar com os fabricantes de aparelhos eletrónicos e dar-lhes um acesso exclusivo a mais "detalhes técnicos" para que estes possam corrigir as falhas dos programas que permitem o funcionamento da ciberspionagem.

Já em 2013 Edward Snowden mostrou como outra agência de vigilância dos EUA, a NSA, podia aceder aos servidores da Google, da Microsoft ou da Apple.

Contudo, vários analistas em segurança eletrónica referem que a amplitude das denúncias de Snowden não têm nada a ver com as revelações desta semana, já que os métodos descritos permitiam uma espionagem direcionada e não uma espionagem em massa.

Juilen Assange, fundador da Wikileaks, em 19 de janeiro de 2017 Foto: Reuters
Assange "de laranja"
Sobre Assange, Spicer afirmou que a posição da nova Administração é semelhante à anterior: "Ele enfraqueceu e colocou em perigo, no passado, a nossa segurança social".

O porta-voz empurrou para o Departamento de Justiça a responsabilidade de o deter.

O caso levou vários republicanos a exigirem firmeza extrema para com Assange, acusado de favorecer o jogo da Rússia nas alegadas interferências na eleição presidencial - que Moscovo nega.

O senador Ben Sasse disse mesmo que ele deveria passar o resto da vida vestido de "laranja" - a cor do uniforme dos prisioneiros nos EUA -, referindo-se a Julian Assange como "um inimigo do povo americano e um aliado de Vladimir Putin".

Julien Assange está refugiado na embaixada do Equador em Londres desde 2012 para evitar ser extraditado para a Suécia, onde é acusado de violação.

Argumenta Assange que, uma vez na Suécia, poderia ser extraditado para os Estados Unidos, onde responderia pela publicação de documentos militares e diplomáticos.
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